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30/03/2003 - 13h54

Não há um Festival de Teatro de Curitiba ideal, diz diretor-geral

VALMIR SANTOS
da Folha de S. Paulo, em Curitiba

Para o diretor-geral do Festival de Teatro de Curitiba, Victor Aronis, 41, o evento ainda não é ideal. Em entrevista à Folha, ele faz um balanço da maratona de teatro, que termina neste domingo. "O FTC ideal nunca foi e nunca será realizado", afirma.

A autocrítica vai para os problemas gerados pelo volume de peças no Fringe (145 neste ano), que infla a cada edição. A taxa de inscrição segue como único critério de entrada na programação (R$ 30 ou R$ 50). Não há curadoria. E onde há curadoria, na Mostra Oficial, os próprios curadores se queixam de que a organização não consegue trazer os espetáculos indicados.

Folha - Critica-se muito a falta de curadoria no Fringe. Os produtores dos teatros da cidade não poderiam se encarregar disso?

Victor Aronis -
É assim que funciona o Fringe em vários festivais do mundo. Até seria possível fazer isso em Curitiba, mas nem todos os espaços têm condições. Há casos isolados, como o Ateliê de Criação Teatral, o ACT do Luís Melo, que teria condições, por exemplo. Mas a tendência é o Fringe continuar sem curadoria ou qualquer forma de seleção. É o que digo e repito sempre: a idéia do Fringe é trazer qualquer espetáculo.

Há aqueles que agradam ao público, à crítica ou a nenhum dos dois. O bacana é que há espetáculos que estão pouco ligando para a crítica, querem conquistar o público e conseguem. Você acha que a comédia "A Casa das Sete Monetes" [paródia da minissérie da Globo, que teve sessões sempre à 1h30] está interessada na crítica? De jeito nenhum. Quer apenas divertir e se divertir. Será que o público iria ao teatro à 1h30 se fosse um grupo experimental? Talvez. Então, o festival abre para tudo isso.

Folha - Qual sua avaliação dos grupos em relação ao Fringe? Eles têm noção do que vêm fazer em Curitiba?

Aronis -
Alguns grupos amadureceram, chegam com mais estrutura, contratam assessoria de imprensa ou se empenham pessoalmente na divulgação. Cada vez mais eles constatam que não adianta só vir para Curitiba. Não é só abrir e encher o teatro. É uma curta temporada, disputada por muitos espetáculos. Se o público não souber, não vai ninguém, claro. O boca-a-boca é fundamental, mas tem que ser mais rápido no Fringe. O tempo é curto.

O grupo não pode perder de vista, também, a premissa de que o espetáculo tem que ser bom, do contrário, não acontecerá nada mesmo.

Folha - Se você fosse produzir uma peça para o Fringe, qual seria sua estratégia?

Aronis -
Estrearia no primeiro final de semana. Viria para Curitiba dois, três dias antes, para fazer a divulgação, distribuir meus convites. Reservaria o teatro para três dias da primeira semana e deixaria um intervalo para mais divulgação até os três dias restantes da segunda semana. Faria o espetáculo pegar. Agendaria sessões para o meio-dia, horário em que mais gente poderá assistir por causa do intervalo de almoço. O pior horário é o das 15h, porque as pessoas estão trabalhando nos dias úteis. Para sábado ou domingo, qualquer horário está valendo.

Eu teria ainda um senso crítico para vir ao Fringe: não traria qualquer coisa. Gostaria de ser reconhecido como bom ator, bom diretor ou bom espetáculo. Se meu grupo estiver afim disso, não traria qualquer coisa. E isso vale para tudo, até para a Mostra Oficial. Há espetáculos que são ruins, mas as pessoas insistem mesmo assim, não têm distanciamento. É como um filho cujos pais não querem enxergar seus problemas

Folha - Ouvi alguns curadores da Mostra Oficial e muitos revelaram descontentamento com o fato de indicarem espetáculos e a organização não conseguir incorporá-los à programação. A cada ano, a curadoria parece mais indicativa, não tem peso na concepção do festival.

Aronis -
A gente procura seguir a curadoria de uma maneira geral. É ela que dá linha, que diz quais são os espetáculos que poderiam participar. Mas a realidade nem sempre é como a gente quer. Adoraria trazer o diretor inglês Peter Brook, alguma grande produção francesa, mas eles não vêm precisam ser agendados com muita antecedência.

Diante disso, pode-se chorar ou fazer outra coisa... Há peças para as quais damos mais prioridade, nos esforçamos mais para trazê-las, mas isso foge ao nosso controle. Os grupos não arrumam patrocínio, não conseguem concluir seus espetáculos. São vários fatores em jogo.

O FTC ideal nunca foi e nunca será realizado. Claro que temos uma série de coisas negativas, que necessitam de reajustes há muito tempo, mas é a realidade brasileira. Adoraria que o governo paranaense patrocinasse sempre, por exemplo.A cada troca de governo, porém, muda tudo. É assim no Paraná, no Brasil. O país não tem política a longo prazo para nada, e não só para a cultura. Oito anos atrás privatizou-se as empresas, agora já se fala em estatizar tudo de novo.

Folha - Houve limitação de orçamento este ano?

Aronis -
Não. Dinheiro nunca foi problema [o festival é orçado em R$ 1,7 milhão]. A coisa não passa por recursos. A verba do governo do Paraná seria um incremento. Na verdade, já estávamos preparados caso não saísse a verba, como aconteceu de fato.

Folha - Há perspectiva de ampliar o período do festival para mais de 11 dias?

Aronis -
É uma das possibilidades em estudo para 2004. Na verdade, o festival precisa sempre ser repensando naquilo que pode acrescentar, transformar.

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