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30/03/2003 - 15h45

Conheça as impressões do Festival de Teatro de Curitiba

BETO LANZA
PEDRO IVO DUBRA
SERGIO SALVIA COELHO
VALMIR SANTOS

da Folha de S.Paulo, em Curitiba

Fim de Festival: como em "O Circo" de Charlie Chaplin, picadeiros se desmontam, uns ficam, outros vão. Do encontro entra as tribos teatrais, até ano que vem ficarão na memória fragmentos de peças, itens soltos que não se encaixaram em reportagens e críticas, micos e epifanias breves.

Como um bom almoço de domingo, improviso a partir das melhores e piores refeições da semana, segue um apanhado de impressões fugazes. Confira um blog improvisado do Festival de Teatro de Curitiba:

NOTAS DO FRONT CRÍTICO

Meia-noite no Teatro Cleon Jacques, que não permite arrependimento: mais distante que os outros teatros, sair no meio de um espetáculo ruim aqui não garante chegar a tempo em outro. O dia foi uma busca frustrada por revelações, com o vento enrolando o crachá no nosso pescoço como uma maldição de Sarah Kane. Sai um ator e, tímido, informa que a peça só começa à 0h30.

Faço um sinal rápido para Lenise Pinheiro, colega caçadora de imagens, perita em retiradas estratégicas: vai ter cinco pessoas na platéia para quase vinte no palco, vamos fugir em quanto é tempo. Nesse exato momento, ouve-se o grupo começar a aquecer a voz, com a garra de quem terá sala cheia. A música, por coincidência, é a mesma de "Hysteria", do grupo paulistano Teatro XIX, que ofuscou o festival do ano passado "Nessa casa tem quatro cantos, cada canto tem uma flor...", entoam. Ficamos. Para cinco pessoas, o núcleo jovem do Andante de Belo Horizonte faz uma "Vereda da Salvação" inesquecível. (postada por Sergio Salvia Coelho)

TEATRO E SEXO NO FTC

Sexo. O teatro não existe sem a presença dele. Desde as procissões satíricas com seus adornados falos, ou desde sempre, o tema é explorado. De Aristófanes ("Lisístrata") a Nelson Rodrigues, os escritores (principalmente os comediógrafos) fartam-se em discutir, apresentar, rediscutir e explorar até o limite as aflições humanas em torno do tema.
O FTC não poderia deixar de elencar peças que incluem o tema em seus espetáculos. E foram muitas: "Eu quero Sexo -Parte 2", "Virgem. Eu?!", "Fantasias Conjugais", "Cartas de Desamor" etc.

O espetáculo que chamou mais atenção, sem dúvida, foi "Explícito" do grupo Os Cênicos Cia de Teatro. A peça discute o tema, usando como cenário uma incrível cama vermelha, onde os atores simulam cópulas (de variadas maneiras) e falam, por meio de autores fora de suspeita, sistematicamente sobre sexo, sob o pretexto de criticar exatamente a banalização do tema. No entanto, a reação da platéia (percebida pela euforia exacerbada de um grupo de adolescentes) é de excitação. A impressão foi de que a qualquer momento alguém (um dos adolescentes urrava de satisfação) se descontrolasse e invadisse a apetitosa cama vermelha.

O tema pode até ser relativamente banal, no entanto, como ficou provado em "Explícito", seduz por demais as platéias. E como diz César Almeida, um dos autores presentes no Fringe que não abre mão de incluir o tema em seus espetáculos, "sexo é a coisa mais importante da vida". Evoé! (postada por Beto Lanza)

O VÉU DA ESCATOLOGIA

O Fringe é equivalente ao Carnaval para a classe teatral curitibana.

Incrível como a maioria das peças resvala nos subterrâneos do sexo, do grotesco, do escatológico, como a afrontar a moral e os bons costumes de uma cidade de perfil conservador. A virgindade, o travestismo, a traição conjugal, enfim, tudo é mote para o achincalhe, a histrionia, a comédia rasa. A encenação de "Filosofia na Alcova" na Mostra Oficial, pelo grupo Os Satyros, de São Paulo, serve como ótimo contraponto. Não à toa, a primeira versão dessa montagem estreou em Curitiba em 1990. Aqui, sim, o sexo vaza para as idéias e transcende a carne, para deleite de todos. (postada por Valmir Santos)

FILIPETAS E OUTRAS ESTRATÉGIA

Não falha: o texto tem que ser mandado sem falta às 13h, você consegue pegar um computador livre às 12h49 na sala de imprensa e lá vem eles: filipetas e cortesias em punho, os divulgadores/atores lutam por espaço. "Te vi saindo da peça tal... você vai gostar da minha também!". Qualquer resposta, por mais monossilábica que seja, pode ser um aluguel fatal.

Mais elegante e eficaz foi a Turma Zero Zero, de Campinas, que montou "A Peça Didática de Baden Baden sobre o Acordo", de Brecht. Todos a caráter, com fechados capotes pretos, em fila indiana, percorriam ao Largo da Ordem solenes, assobiando em uníssono uma música que custava a sair depois da cabeça dos transeuntes, público-alvo. (postada por Sergio Salvia Coelho)

VARAL

Presos por pregadores e clipes, ingressos de cortesia para as peças do dia pululavam por um painel de ferro postado num dos cantos da sala de imprensa, o Varal do Fringe.

Como bastava, aos jornalistas, em geral, mostrar a credencial para adentrar os diferentes recintos, amontoavam-se as entradas disponíveis. O trânsito muito livre pelo prédio deve ter inspirado uma informada senhora, no lugar certo, na hora certa, a convidar, pelo celular, toda a família para um aprazível e gratuito programa teatral.

Em tempo: até o horário do almoço de domingo restavam quatro bilhetes. "Deu Maromba na Maroma" (São Paulo), "Claudinho Brasil e Arquétipos: Impulso do Silêncio" (Curitiba) e "Até Amanhã Tudo Bem" (Bauru) eram as montagens. (postada por Pedro Ivo Dubra)

MONOLOGIA

Cativar o público sozinho no palco na livre concorrência do Fringe é desafio redobrado para quem se aventura em monólogos. O intérprete precisa ser muito bom. Do contrário, o espectador (igualmente solitário em seus sentimentos teatrais) divagará sobre o duplo sentido no título da peça que acompanha, tipo "Baile dos Miseráveis" (RJ) e "A Caixa" (BA), que se revelaram "enrascadas". (postada por Valmir Santos)

CELULARES

Ritual incontornável: celulares que tocam na platéia. Em "Cascudo", montagem de Brasília que conta com um grande violeiro, pede-se para desligá-los em canto e versos. Como nem assim adianta, incorpora-se o incômodo no roteiro. Em "A Caixa", de Salvador, se atende um chamado da platéia; em "O Homem que Não Dava Seta", de Belo Horizonte, a estressada editora do jornal quem liga para a repórter que está em meio ao público; em "Explícito", do Rio, há uma sinfonia de toques fazendo a trilha de uma cena; em "O Triângulo - Elogioamoral", de São Paulo, o elenco canta em uníssono as irritantes musiquinhas a cada vez que há comunicação telefônica. (postada por Sergio Salvia Coelho)

OLHEIROS

Não posso deixar o posto sem agradecer a meus alunos do curso de teatro da Faculdade Anhembi-Morumbi e do teatro Escola Célia Helena, de São Paulo, que nos serviram de olheiros nesses 11 dias. 18 moços e moças cheios de ímpeto, indo na frente com rara coragem, em terreno minado, descobriram o melhor e o pior que se pode fazer no palco. Agradeço à organização do festival por endossar a experiência, e aviso que todos os alunos que participaram terão um ponto a mais na média. (postada por Sergio Salvia Coelho)

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