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22/04/2003 - 11h45

Nina Simone, a diva rebelde do jazz

da France Presse

A cantora americana Nina Simone, que morreu nesta segunda-feira aos 70 anos, encarnava com sua extravagância e talento, uma mistura de rigor e rebeldia.

Militante dos direitos dos negros, Nina Simone, cujo nome verdadeiro era Eunice Waymon, participou ativamente de manifestações que marcaram os Estados Unidos dos anos 60.

Nascida no dia 21 de fevereiro de 1933 em Tryon (Carolina do Norte), Nina tinha uma sensibilidade à flor da pele e uma personalidade às vezes violenta. Lembrava que havia sofrido racismo e injustiça, o que a levou a desafiar toda sua vida o "poder branco". Em 1992, em uma entrevista à revista Jeune Afrique, expressou sua admiração pelo dirigente negro radical Louis Farrakhan: "É um grande homem que tenta reunir os negros sob uma mesma bandeira", disse.

Em agosto de 1995, um tribunal francês a condenou a oito meses de prisão por ter ferido com uma arma um adolescente que brincava com os amigos em um jardim vizinho porque o barulho a incomodava.

Assim como outras grandes figuras da música negra de sua geração, músicos de blues e pioneiros do rock, como Chuck Berry, Nina Simone foi vítima no início de sua carreira de empresários inescrupulosos. Em sua juventude, firmou contratos desfavoráveis que lamentou durante anos.

Em 1987, por exemplo, quando a canção "My Baby Just Cares For Me" voltou a ser utilizada para uma campanha publicitária da marca Chanel, a cantora não recebeu praticamente nada porque tinha cedido os direitos autorais da música anos antes por um valor fixo. Por isso, negava-se a cantá-la nos palcos, apesar do público da época pedir, não compreendendo o porquê da ausência em seu repertório da música que não parava de tocar nas rádios.

Como Ray Charles, da qual é de certa forma uma versão feminina, Nina Simone foi sempre muito popular na Europa e residia na França há dez anos. Como este, era uma intérprete primorosa, capaz de transmitir a mesma emoção quando retomava um tema mil vezes interpretado, como em sua versão de "Ne me quitte pas" de Jacques Brel ("I Put A Spell On You", em inglês) ou na famosa "Don't Let Me Be Misunderstood".

E seu público, como acontecia também com Ray Charles, perdoava sua diva por muitas vezes se limitar a um "serviço mínimo" no palco. Nina Simone sempre teve medo de ser explorada e não respondia em geral aos pedidos de bis e seus admiradores lamentavam o pouco tempo que podiam vê-la cantando.

Em agosto de 2000, convidada pelo famoso festival Jazz In Marciac, no sul da França, encheu de exigências os organizadores, pedindo entre outras coisas um helicóptero e uma limusine, da qual especificava inclusive a marca.

Depois disso, seu show foi caótico. Modificou a letra das músicas, fez discursos exaltados, expressando várias vezes seu apego ao movimentos dos direitos cívicos e sua admiração por Martin Luther King, diante de um público desconcertado. Mas um blues interpretado com a alma ou um clássico de jazz com toda a paixão da diva bastavam logo para tudo ficar ofuscado pelo brilho do seu talento.

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