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07/05/2003 - 08h49

Elite descamisada toma "Kubanacan"

XICO SÁ
crítico da Folha de S.Paulo

Depois da vaca voadora da novela das seis, homem nu cai do céu na nova comédia das sete, "Kubanacan". Parece uma resposta surreal a um falso choramingo feminino resultado do cruzamento de números do IBGE com o pesadelo do príncipe do cavalo branco --que dá conta da falta de testosterona na praça. E o melhor para as ávidas telespectadoras é que o homem que caiu do céu é um sujeito sem passado.

Além de chover macho, a ilha caribenha é o paraíso da barriga-tanque. Método bíceps de dramaturgia. Meia hora de musculação vale mais do que as obras completas do velho Stanislavski (1863-1938), o russo que inventou o ator. Os pescadores, a gente banguela carcomida pelo sal, são todos saradões. O homem-forte Camacho (Humberto Martins) deu golpe amoroso e fatal no ditador da ilha, Rúbio (Stênio Garcia). Vai governar. Funda a contraditória elite descamisada.

(Ah, lá vem de novo esse escriba, anarquista rococó e sem caixa torácica de respeito, a cobrar verossimilhança de uma ficção de TV! Desculpa aí, foi mal, pragmático leitor. Sigamos com a novela).

Às mulheres, pois. Daniela Winits é Mirasol, batismo inventivo para um drama à beira-mar. Dividida entre aquele que a ama sobre todas as coisas, Enrico (o bom ator Vladimir Brichta), e o cabra que caiu dos céus (Marcos Pasquim). Os cabelos mudaram, mas ela continua o mesmo paraíso artificial. Tem também Carolina Ferraz, que é irmã da freirinha Adriana Esteves. Mas o show é de Dolores (Nair Belo), mãe das meninas, que dá uma surra de interpretação na mulherada.

Com a moral de quem não está nem aí para a concorrência, Betty Lago, que faz a primeira-dama da ilha --não importa o ditador em voga--, também é um primor. Distanciamento cínico de primeira qualidade. É o melhor da rumba nova de Carlos Lombardi, esse autor que aprendeu as manhas das sete com Sílvio de Abreu.

Ajudada pelo friozinho no Rio e SP, além da violência que conspira a favor do sofá, "Kubanacan" teve média de 39 pontos. É uma loucura que, mesmo diante de tantas opções e a chamada vida lá fora, uma novela ainda chegue a esse Ibope. Ainda tem gente que reclama de 26 pontos para o drama das seis! É audiência demais da conta. Um estouro. Nada mais democrático e saudável do que a queda desses índices históricos da Globo. Chega do mesmo velho chiclete para os olhos.

Avaliação:

Kubanacan
Quando: segunda a sexta, às 19h05, na Globo
 

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