Publicidade
Publicidade
19/05/2003
-
11h29
"A prisão tem para mim um significado muito mais metafórico do que realista; é uma espécie de 'huis clos', o qual me impus para poder interpretar o drama dos personagens", declarou o diretor Héctor Babenco, cujo filme "Carandiru" foi apresentado nesta segunda-feira no Festival de Cannes.
"Carandiru" é a terceira obra de Babenco ambientada em um presídio, depois de "Pixote" e "O beijo da mulher aranha", uma constante que o diretor explica através desse significado metafórico, embora considere seu último filme "tão realista que parece hiper-realista".
"A prisão para mim tem o significado do limite. Uma sociedade que aprende a se virar socialmente dentro de uma área fechada e enclausurada me pareceu um desafio fascinante para contar uma história e desenvolver outras histórias dentro dela", afirmou.
"Pesquisas feitas com ratos na década de 50 determinaram o estudo do comportamento humano durante quase 50 anos. Quando eram colocado mais ratos em um espaço reduzido, a violência crescia e assim se passou a acreditar que, com os homens, acontece a mesma coisa. Só que até os anos 90, estudos similares feitos com gorilas e chimpanzés mostraram o contrário: quando se aumenta a população em uma área circunscrita, a violência cai".
"Essa idéia, por mais simples que pareça, foi a que me levou a querer fazer um filme em um lugar confinando, onde há espaço para 3.000 pessoas e onde vivem 7.500 a 8.000, e a violência não existe na proporção que deveria", explicou.
"Hoje em dia, no Brasil, há muito mais violência nas ruas, fora das prisões, do que dentro delas", enfatizou.
É possível conhecer uma sociedade através de suas prisões? "Eu acredito que sim. Pode-se pelo menos conhecer a idiossincrasia dos que foram julgados e condenados, e a quem tanto tememos, e que são pessoas como as outras, têm família, pai, mãe e irmãos, só que vivem numa carência absoluta e numa orfandade por parte do Estado, que não lhes deu desde o início de sua vida absolutamente qualquer infra-estrutura para que pudessem crescer conhecendo pelo menos os códigos essenciais de ética e moral, a idéia da tolerância e do respeito pelo outro".
"A mensagem que Carandiru nos passa é que uma sociedade que não se organiza de maneira mais compreensiva em relação às pessoas carentes terá cada vez mais 'carandirus', cada vez mais violência".
Babenco volta com este filme a fazer cinema depois de vários anos afastado por causa de uma doença.
"Este filme é para mim uma coincidência muito feliz, porque o homem que escreveu o livro em que foi baseado é o médico que me curou de um câncer e nós temos uma relação há quatorze anos, durante os quais acompanhei o processo de redação do livro. Quando me curei, o livro já estava nas livrarias", contou.
"Eu estava muito mal, muito carente de uma fantasia própria depois de sair de um transplante de medula óssea e de um tratamento muito difícil, e ler o livro me reacendeu a vontade de trabalhar".
Nascido na Argentina e naturalizado brasileiro, Babenco explica que se sente fruto dos dois países.
"Sou uma mistura. Vivi na Argentina até o final da adolescência e devo à Argentina uma formação intelectual séria, uma curiosidade e um respeito pelo mundo, um amor pela literatura, um amor pelo cinema, um respeito pela arte e uma melancolia e uma tristeza que são muito argentinas e que me dão medo. O Brasil me deu a alegria de viver, a confirmação de que a vida pode ser algo mais relaxado e mais tranqüilo."
O cineasta concluiu a entrevista dizendo não ter ainda novos projetos.
"Acho que tenho que desfrutar um pouco do sucesso desse filme. Vou levá-lo aos Estados Unidos, acompanhá-lo um pouco, e aproveitar este momento que estou vivendo".
Leia mais
Em Cannes, "Carandiru" gera pouco interesse na imprensa
Babenco experimenta o tapete vermelho de Cannes com "Carandiru"
Imprensa tem reação contida ao ver "Carandiru" em Cannes
Veja os bastidores do festival no nosso "blog"
Especial
Saiba mais sobre a 56º edição do Festival de Cannes
Para Babenco, há mais violência nas ruas hoje do que nos presídios
da France Presse"A prisão tem para mim um significado muito mais metafórico do que realista; é uma espécie de 'huis clos', o qual me impus para poder interpretar o drama dos personagens", declarou o diretor Héctor Babenco, cujo filme "Carandiru" foi apresentado nesta segunda-feira no Festival de Cannes.
"Carandiru" é a terceira obra de Babenco ambientada em um presídio, depois de "Pixote" e "O beijo da mulher aranha", uma constante que o diretor explica através desse significado metafórico, embora considere seu último filme "tão realista que parece hiper-realista".
"A prisão para mim tem o significado do limite. Uma sociedade que aprende a se virar socialmente dentro de uma área fechada e enclausurada me pareceu um desafio fascinante para contar uma história e desenvolver outras histórias dentro dela", afirmou.
"Pesquisas feitas com ratos na década de 50 determinaram o estudo do comportamento humano durante quase 50 anos. Quando eram colocado mais ratos em um espaço reduzido, a violência crescia e assim se passou a acreditar que, com os homens, acontece a mesma coisa. Só que até os anos 90, estudos similares feitos com gorilas e chimpanzés mostraram o contrário: quando se aumenta a população em uma área circunscrita, a violência cai".
"Essa idéia, por mais simples que pareça, foi a que me levou a querer fazer um filme em um lugar confinando, onde há espaço para 3.000 pessoas e onde vivem 7.500 a 8.000, e a violência não existe na proporção que deveria", explicou.
"Hoje em dia, no Brasil, há muito mais violência nas ruas, fora das prisões, do que dentro delas", enfatizou.
É possível conhecer uma sociedade através de suas prisões? "Eu acredito que sim. Pode-se pelo menos conhecer a idiossincrasia dos que foram julgados e condenados, e a quem tanto tememos, e que são pessoas como as outras, têm família, pai, mãe e irmãos, só que vivem numa carência absoluta e numa orfandade por parte do Estado, que não lhes deu desde o início de sua vida absolutamente qualquer infra-estrutura para que pudessem crescer conhecendo pelo menos os códigos essenciais de ética e moral, a idéia da tolerância e do respeito pelo outro".
"A mensagem que Carandiru nos passa é que uma sociedade que não se organiza de maneira mais compreensiva em relação às pessoas carentes terá cada vez mais 'carandirus', cada vez mais violência".
Babenco volta com este filme a fazer cinema depois de vários anos afastado por causa de uma doença.
"Este filme é para mim uma coincidência muito feliz, porque o homem que escreveu o livro em que foi baseado é o médico que me curou de um câncer e nós temos uma relação há quatorze anos, durante os quais acompanhei o processo de redação do livro. Quando me curei, o livro já estava nas livrarias", contou.
"Eu estava muito mal, muito carente de uma fantasia própria depois de sair de um transplante de medula óssea e de um tratamento muito difícil, e ler o livro me reacendeu a vontade de trabalhar".
Nascido na Argentina e naturalizado brasileiro, Babenco explica que se sente fruto dos dois países.
"Sou uma mistura. Vivi na Argentina até o final da adolescência e devo à Argentina uma formação intelectual séria, uma curiosidade e um respeito pelo mundo, um amor pela literatura, um amor pelo cinema, um respeito pela arte e uma melancolia e uma tristeza que são muito argentinas e que me dão medo. O Brasil me deu a alegria de viver, a confirmação de que a vida pode ser algo mais relaxado e mais tranqüilo."
O cineasta concluiu a entrevista dizendo não ter ainda novos projetos.
"Acho que tenho que desfrutar um pouco do sucesso desse filme. Vou levá-lo aos Estados Unidos, acompanhá-lo um pouco, e aproveitar este momento que estou vivendo".
Leia mais
Especial
Publicidade
As Últimas que Você não Leu
Publicidade
+ LidasÍndice
- Alice Braga produzirá nova série brasileira original da Netflix
- Sem renovar contrato, Fox retira canais da operadora Sky
- Filósofo e crítico literário Tzvetan Todorov morre, aos 77, em Paris
- Quadrinhos
- 'A Richard's estava perdendo sua cara', diz Ricardo Ferreira, de volta à marca
+ Comentadas
- Além de Gaga, Rock in Rio confirma Ivete, Fergie e 5 Seconds of Summer
- Retrospectiva celebra os cem anos da mostra mais radical de Anita Malfatti
+ EnviadasÍndice