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21/05/2003 - 02h30

Ex-executivo da indústria fonográfica confirma existência do jabá

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
LAURA MATTOS

da Folha de S.Paulo

"O jabá existe." Pela primeira vez, uma das figuras centrais da indústria do disco no Brasil explicita a história do pagamento clandestino feito por gravadoras para emplacar sucessos musicais em emissoras de rádio e televisão.

André Midani, 70, um dos homens mais poderosos da indústria fonográfica brasileira dos anos 60 aos 90, concordou em dizer à Folha como participou de acordos de execução de músicas por intermédio da prática do jabá --que ele próprio descreve como uma modalidade de suborno.

Aposentado da indústria há dois anos e atuando em ONGs como a Viva Rio, Midani diz apoiar o projeto de lei de criminalização do jabá, que o deputado Fernando Ferro (PT-PE) pretende apresentar nos próximos dias.

Midani participou da invenção da bossa nova na Odeon (hoje EMI) do final dos anos 50 e consolidou a geração tropicalista na Philips (atual Universal) dos 60. Nessa gravadora, na década de 70, reuniu elenco de peso, com Chico Buarque, Elis Regina, Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Nara Leão, Mutantes, Tim Maia, Jorge Ben, Erasmo Carlos, Raul Seixas etc.

Fundador da filial brasileira da Warner, em 77, foi um dos homens fortes da invasão roqueira dos 80, impulsionando nomes como Titãs, Kid Abelha, Ira! e Ultraje a Rigor. Nos anos 90, dirigiu a partir dos EUA as operações latino-americanas da Warner.

Numa suíte de um hotel em São Paulo, ele recebeu a Folha para falar sobre a origem do esquema. Pediu para que o gravador fosse ligado e admitiu que pagou e ainda hoje pagaria jabá a artistas que considera talentosos. Citou negociações envolvendo Chacrinha, a rádio Jovem Pan e a gravadora Abril Music. Leia trechos a seguir.

Folha - Na indústria fonográfica, é unânime a afirmação de que não existe jabá no Brasil. É verdade?

André Midani -
O jabá existe. Não é uma coisa nova nem particular da indústria fonográfica. Sempre se ouve falar "vamos acabar com a prostituição", "vamos acabar com as drogas", "vamos acabar com o jabá". O mundo nasceu corrupto e acabará um belo dia na miséria da sua corrupção.

Folha - Quando começou?

Midani -
Tal como é hoje, e em quantidades talvez menores do que agora, começou, creio, em 70, 71. Eu estava com uma parte grande dos artistas importantes, então não tinha tanta preocupação. Fazia sucesso no rádio porque os artistas genuinamente faziam sucesso. Mas, num belo dia, um colaborador meu chegou dizendo que estava havendo um movimento, que o pessoal do rádio gostaria que se reconhecessem seus méritos. Havia se formado uma rede entre vários programadores importantes de rádios do Rio e de São Paulo.

"Que me importa?", disse. Telefonei para alguns artistas e expliquei que estava acontecendo aquilo, disse que não estava a fim de participar. Eles apoiaram.

Para minha surpresa, uns dias depois, nossos discos saíram da programação. Aguentei uma, duas semanas. Na terceira não deu mais, porque os próprios artistas disseram: "Pô, pelo amor de Deus! A gente está fora do ar". Dali por diante, o jabá estava instalado. Tomei uma atitude pragmática: se é a regra do jogo, lá vou eu.

Folha - Quais eram as regras?

Midani -
Eram lamentáveis, porque não eram profissionais. Vim do México em 55, onde o jabá rolava com grande despudor. Mas lá, pelo menos, havia uma regra: toco cinco vezes por dia, lhe pago tanto. No Brasil, a indústria perdeu muito rapidamente o controle sobre o que se tocava. Pagava e não sabia se ia tocar. Hoje, não estou muito a par, mas piorou.

Leia mais
  • Jabá incluía até drogas, diz ex-executivo da indústria fonográfica
  • Leia a íntegra da entrevista de André Midani à Folha
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