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21/05/2003 - 02h32

Jabá incluía até drogas, diz ex-executivo da indústria fonográfica

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
LAURA MATTOS

da Folha de S.Paulo

A seguir, André Midani fala sobre as formas de pagamento do jabaculê e de esquemas envolvendo Chacrinha, a gravadora Abril Music e a rádio Jovem Pan.

Folha - Você quis resistir ao jabá?

Midani -
Tive várias interferências no sentido de dizer "vamos parar com esse negócio". Em 78, na Warner, estava lançando Baby e Pepeu, que, como integrantes dos Novos Baianos, haviam sido os protegidos do Chacrinha. De repente, recebo a notícia de que, se não pagássemos, eles não iam aparecer em seu programa. Achei por bem denunciar. Disse à imprensa que Chacrinha queria cobrar jabaculê. Isso me custou caro. Rádios e outros programas de TV aderiram à causa e passaram a cobrar também.

Folha - A geração dos anos 80, inclusive artistas seus, contou muito com Chacrinha para fazer sucesso. Como terminou sua briga com ele?

Midani -
Recebi um recado de que ele gostaria de se reconciliar. Almoçamos e ficou aquela mútua hipocrisia. Fizemos as pazes, sempre nos amamos muito. Chacrinha me convidou ao programa para receber um prêmio. O filho dele, Leleco, era quem fazia a programação e foi uma das pessoas mais militantes [no esquema].

Folha - Os grandes nomes de sucesso pagam jabá?

Midani -
Até hoje. No início do governo FHC, se nos EUA o custo de lançar uma música no rádio era de US$ 300 mil por uma canção, no rádio brasileiro era de R$ 80 mil a R$ 100 mil, na época em que um dólar era um real.

Folha - Qual era o peso do orçamento para jabá numa gravadora?

Midani -
Quando isso começou, a verba publicitária era 5% das vendas. Na época do Chacrinha, era algo como 10%. Até o momento em que estava militando, há dois anos, os orçamentos publicitários variavam entre 12% e 16%. Dessa verba, na última vez que ouvi falar de números, a parte do jabá podia chegar a 70%.

Folha - O esquema tinha a participação dos donos das emissoras?

Midani -
No início, não. Os funcionários de rádio tinham salários modestos e encontraram um meio de ganhar mais. Os donos das rádios ficavam contentes, pois não tinham que aumentar os salários. Mas a soma de dinheiro foi ficando maior e certos donos entraram em contato com as gravadoras e disseram: "A partir de agora quem manda na programação sou eu". Aí era uma relação profissional. Tutinha, da Jovem Pan, gostava do disco ou não. Se ele não gostasse, não pegava acordo financeiro com a companhia, não havia jeito. Se gostava, ele se sentava para negociar. E fazia isso de uma forma profissional: "Vou tocar tantas vezes por dia, vou fazer um especial". Armava quase uma operação de marketing.

Folha - Por que as gravadoras não se uniram para acabar com o jabá?

Midani -
Isso foi tentado várias vezes, mas sempre alguém roía a corda. Quando a empresa está numa situação de fragilidade orçamentária, a tentação do diabo é muito grande. A concorrência é grande. Há, por exemplo, o caso recente da Abril Music. A companhia entra no mercado e paga o que tiver que pagar para poder tocar e desestabiliza as outras. O prejuízo foi de milhões. A sede de sucesso imediato fez com que a companhia fosse uma catalisadora da tormenta jabazeira.

Folha - O que acha da proposta de criminalização do jabá?

Midani -
Acho que é indispensável. Se o nome é jabá, suborno ou campanha promocional (ri), moralmente é um suborno.

Folha - Você pagaria jabá hoje?

Midani -
Tudo depende do que se faz com esse jabá. Vamos supor que nos 70 a situação fosse como é hoje. Teria botado jabá em cima de Caetano, Gil, Chico, Raul Seixas. A coisa começa a ficar pior quando você pega um artista que não tenha nenhuma qualidade e coloca dinheiro por cima.

Folha - Além de dinheiro vivo, jabá também incluía "mercadorias"?

Midani -
O que for. Dinheiro, drogas, prostitutas. Isso já não creio que exista hoje em dia.

Leia mais
  • Ex-executivo da indústria fonográfica confirma existência do jabá
  • Leia a íntegra da entrevista de André Midani à Folha

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