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23/05/2003 - 07h35

Diretor Rithy Panh ouve vítimas e torturadores

da Folha de S.Paulo

Rithy Panh passou parte da adolescência nos campos de trabalho mantidos pelo partido comunista do Camboja, durante o regime do Khmer Vermelho. Em 1979, escapou para a Tailândia e depois para a França, onde foi aceito no Institute des Hautes Études Cinematographiques (Idhec). Como cineasta, vem se dedicando a retratar o Camboja.

Panh, 38, apresentou em Cannes "S 21, la Machine de Mort Khmère Rouge". "S21" é o nome de um dos centros de detenção de Phnom Penh (capital do Camboja) onde cerca de 17 mil prisioneiros foram torturados e executados entre 1975 e 1979, anos de força do regime comunista. Aparentemente, apenas três prisioneiros do S21 sobreviveram.

A originalidade do documentário vem de uma opção arriscada. Ele não ouve apenas vítimas, mas torturadores. "Por que não nos interessamos pela memória do outro lado também?", questionou. Panh mantém uma respeitosa distância nos momentos mais delicados, a maior parte deles ligados à memória das vítimas. O que causa impressão mais forte, porém, são as conversas com os torturadores. Na verdade, eles não conseguem explicar o que acontecia ali, preferindo reproduzir o seu dia-a-dia no "local do crime". E reconstituem seus atos com precisão diante da câmera.

Nessa confrontação histórica, fica claro que o processo de desumanização atingiu os dois lados -tanto as vítimas, tomadas como animais a serem abatidos, quanto os carrascos, visivelmente encarcerados numa prisão ideológica que lhes impôs a cegueira. Quando torturam e executam, eles realmente acreditam estar participando de uma guerra. "Eles tinham convicção de que estavam agindo dentro da legalidade", diz Panh. Mais chocante, porém, é o aspecto de "máquina da morte" que dá título ao filme. Torturar e matar, como fica claro, são gestos que fazem parte de uma rotina administrativa.

Rithy Panh não julga os torturadores, mas deixa claro seu ponto de vista. O Camboja não pode evitar o que vem sendo driblado há anos: um julgamento dos homens que impuseram e levaram adiante o regime do terror e o genocídio em que morreram mais de 2 milhões de cambojanos.

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