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05/07/2003
-
10h24
editor de Fotografia da Folha
O fotógrafo paulista Cristiano Mascaro cruzou o oceano para fotografar Berlim. O caminho inverso foi feito pela fotógrafa berlinense Sibylle Bergemann. O resultado é a exposição "Olhares Cruzados", na qual similaridades possíveis e muitas diferenças entre as duas cidades podem ser vistas a partir de hoje na Pinacoteca do Estado em São Paulo.
O cruzamento de olhares se deu também na prosa. O escritor e colunista da Folha Fernando Bonassi escreve sobre o bairro berlinense de Mitte, comparando-o com o Brás. E o escritor da cidade alemã Carsten Probst descreve seus espantos durante suas andanças pela capital paulista:
"Um grande terreno fétido e abandonado, no meio de São Paulo, que se chama parque Dom Pedro 2º, rodeado de vias expressas e ruas de intenso trânsito: esse deve ser o lugar onde a cidade cai em si, onde é possível esclarecer relações e conceitos. Esse é o lugar ao qual talvez se chegue obrigatoriamente seguindo por esse caminho, para ficar aos pés da colina do comando dos grandes bancos e ao lado da catedral que imita a de Colônia. Para daí olhar para a memória vazia da cidade".
As imagens de Bergemann se debatem entre descortinar o exótico dos trópicos, como os cachorros que acompanham os catadores de papel, a rua das noivas e a nossa arquitetura da destruição, mas em alguns momentos tenta encontrar algo de Berlim por aqui e flagra cenas de um solitário homem andando sobre o minhocão, com a tristeza de algumas poucas árvores represadas entre enormes edifícios.
Os solitários que Mascaro flagrou em Berlim aparecem hora num café, com o olhar perdido, hora na plataforma da estação de metrô, mostrando que a solidão e uma certa postura de triste melancolia são as resultantes de qualquer habitante das grandes metrópoles.
Mas é a arquitetura secular de Berlim que cria o abismo mais aparente entre as 40 imagens de Mascaro e o mesmo número de imagens de Bergemann, todas em preto-e-branco.
Numa das comparações entre as cidades, Bonassi resume a história: "(Aqui) Há um muro invisível separando miseráveis de um lado e uma elite suicida de outro/ (lá) o muro desapareceu, mas seus pedaços podem ser comprados a 50 euros, como souvenir".
OLHARES CRUZADOS
Onde: Pinacoteca do Estado de São Paulo (pça. da Luz, 2, região central, tel. 229-9844)
Quando: abertura hoje, das 11h às 15h; de ter. a dom., das 10h às 18h; até 31 de agosto
Quanto: R$ 4 (entrada franca aos sábados)
Imagens aglutinam muros de Berlim e de São Paulo
EDER CHIODETTOeditor de Fotografia da Folha
O fotógrafo paulista Cristiano Mascaro cruzou o oceano para fotografar Berlim. O caminho inverso foi feito pela fotógrafa berlinense Sibylle Bergemann. O resultado é a exposição "Olhares Cruzados", na qual similaridades possíveis e muitas diferenças entre as duas cidades podem ser vistas a partir de hoje na Pinacoteca do Estado em São Paulo.
O cruzamento de olhares se deu também na prosa. O escritor e colunista da Folha Fernando Bonassi escreve sobre o bairro berlinense de Mitte, comparando-o com o Brás. E o escritor da cidade alemã Carsten Probst descreve seus espantos durante suas andanças pela capital paulista:
"Um grande terreno fétido e abandonado, no meio de São Paulo, que se chama parque Dom Pedro 2º, rodeado de vias expressas e ruas de intenso trânsito: esse deve ser o lugar onde a cidade cai em si, onde é possível esclarecer relações e conceitos. Esse é o lugar ao qual talvez se chegue obrigatoriamente seguindo por esse caminho, para ficar aos pés da colina do comando dos grandes bancos e ao lado da catedral que imita a de Colônia. Para daí olhar para a memória vazia da cidade".
As imagens de Bergemann se debatem entre descortinar o exótico dos trópicos, como os cachorros que acompanham os catadores de papel, a rua das noivas e a nossa arquitetura da destruição, mas em alguns momentos tenta encontrar algo de Berlim por aqui e flagra cenas de um solitário homem andando sobre o minhocão, com a tristeza de algumas poucas árvores represadas entre enormes edifícios.
Os solitários que Mascaro flagrou em Berlim aparecem hora num café, com o olhar perdido, hora na plataforma da estação de metrô, mostrando que a solidão e uma certa postura de triste melancolia são as resultantes de qualquer habitante das grandes metrópoles.
Mas é a arquitetura secular de Berlim que cria o abismo mais aparente entre as 40 imagens de Mascaro e o mesmo número de imagens de Bergemann, todas em preto-e-branco.
Numa das comparações entre as cidades, Bonassi resume a história: "(Aqui) Há um muro invisível separando miseráveis de um lado e uma elite suicida de outro/ (lá) o muro desapareceu, mas seus pedaços podem ser comprados a 50 euros, como souvenir".
OLHARES CRUZADOS
Onde: Pinacoteca do Estado de São Paulo (pça. da Luz, 2, região central, tel. 229-9844)
Quando: abertura hoje, das 11h às 15h; de ter. a dom., das 10h às 18h; até 31 de agosto
Quanto: R$ 4 (entrada franca aos sábados)
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