Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
06/07/2003 - 06h13

Político vira atração de programa popular

LAURA MATTOS
da Folha de S.Paulo

A senadora Heloísa Helena (PT-AL) fazia respiração boca-a-boca em um boneco de plástico, enquanto o pagodeiro Rodriguinho, do grupo os Travessos, comprimia o peito do "cidadão". "Querido, tenta acordar", dizia a parlamentar, no papel de enfermeira.

A cena foi ao ar no último dia 23, no "Boa Noite, Brasil", da Bandeirantes, e entrou para o rol cada vez maior das aparições de políticos em programas populares.

Expostos a brincadeiras e longe de protocolos, representantes do Legislativo e do Executivo dão ibope e, em contrapartida, ganham espaço para falar à vontade com os telespectadores/eleitores.

O "mico" que a senadora petista pagou por mais de 15 minutos foi bem recompensado. Depois do inusitado, ela participou do quadro "A Foto e a Notícia", no qual o convidado comenta reportagens que envolvem seu nome. Teve mais de 40 minutos para falar sobre sua carreira política, o governo Lula e seus desafetos.

Heloísa Helena, que recusou convite para o "Domingão do Faustão" (Globo) no ano passado, passou a frequentar os palcos da TV quando sua relação com o governo entrou em crise. Já esteve no "É Show com Adriane Galisteu" (Record) e, menos de uma semana após o "Boa Noite, Brasil", foi ao "Superpop", da Rede TV!.

O programa, de Luciana Gimenez, recebera, um mês antes, Marta Suplicy (PT), que teve 52 minutos para discorrer sobre sua administração e receber elogios da apresentadora e da platéia.

A prefeita de São Paulo também foi ao "Boa Noite, Brasil". No ar por cerca de 40 minutos, listou seus planos para a cidade e admitiu ser candidata à reeleição. Conseguiu, no entanto, livrar-se da brincadeira armada pelo apresentador, Gilberto Barros, recusando seu pedido para comentar os efeitos da lua na relação sexual.

O programa da Band, que estreou em 12 de maio, recebeu, além da senadora e da prefeita petista, o deputado Enéas Carneiro (Prona-SP), o senador Magno Malta (PL-ES) e Paulo Maluf (PP).

O ex-governador não foi vítima de uma saia justa por pouco. "Tentei trazer um piano no palco para o Maluf tocar, porque ele é pianista. Mas não deu tempo", afirmou Barros à Folha.

O apresentador diz que o político dá mais ibope quando não fala de política. "Quando "tira a roupa de político", mostra a alma, dá audiência."

Segundo ele, a brincadeira com Heloísa Helena foi criada para "desmistificar essa história de que o político está num pedestal". Atingiu picos de 13 no Ibope, mais do que o dobro dos cinco de média que o programa costuma dar (cada ponto equivale a 48,5 mil domicílios na Grande São Paulo).

Uma audiência de cerca de 20 pontos permitiu, no último dia 29, que o ministro Ricardo Berzoini (Previdência) explicasse os planos de reforma do governo a quase 1 milhão de residências só na região metropolitana de SP. Ele ficou no ar por dez minutos no "Domingo Legal" (SBT), um dos palanques prediletos do ex-ministro José Serra (PSDB) na pré-campanha presidencial.

Além dos programas de auditório, outro "filão" recente da política são os programas policiais vespertinos. O presidente do PT, José Genoino, foi ao "Repórter Cidadão", da Rede TV!, há cerca de duas semanas. Marta já sobrevoou a cidade de São Paulo ao lado de José Luiz Datena, para o "Brasil Urgente" (Bandeirantes), que também costuma entrevistar o governador Geraldo Alckmin.

O publicitário André Torreta, 38, acredita numa "redescoberta" dos programas populares no marketing político. "Isso era muito comum na época de Getúlio Vargas. Depois, com o uso que o Collor fez da mídia, houve um trauma. Agora, os políticos voltaram a aparecer mais na TV."

Para ele, programas de auditório são a grande oportunidade de atingir as classes C, D e E, a massa do eleitorado. "Para isso, eles têm de se sujeitar às regras, às brincadeiras. Heloísa Helena, que é séria, tem de ir e participar, porque sua única arma agora [que enfrenta processo de expulsão no PT] é obter apoio popular."

Torreta avalia também que os políticos considerados de esquerda usam melhor a propaganda do que a chamada direita. "[A presença constante de políticos na televisão] Pode ser reflexo de Lula no poder. Ele fez da posse um espetáculo para a TV", afirma.

O sociólogo e marqueteiro Chico Malfitani, 52, diz que "política hoje dá audiência". "O político virou atração para programa popular. É um fenômeno saudável para a democracia, contanto que a participação não faça parte de esquemas de favorecimento", diz.

Especialista em marketing político, Paulo de Tarso, 49, afirma que "há uma dificuldade dos telejornais tradicionais e da imprensa escrita em se plugar com a população mais carente". "Com esses programas mais populares, os políticos conseguem atingir essa faixa de eleitores", afirma.

Tarso trabalha para o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), um dos personagens de um momento histórico da política na TV. Em 2001, foi um dos 12 participantes do "Show do Milhão com Políticos" (SBT), apresentado por Silvio Santos. "O programa teve um impacto enorme em Goiás." Um ano depois, Perillo se reelegeu no primeiro turno.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página