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06/07/2003 - 06h16

Narguilé vira chamariz de restaurantes e bares de São Paulo

IVAN FINOTTI
da Folha de S.Paulo

Se você achava que a onda de orientalismo no Brasil ia se dissipar como fumaça assim que a novela "O Clone" chegasse ao fim, errou feio. Pelo contrário, além da vistosa dança do ventre, é cada vez maior o número de restaurantes e bares em São Paulo que oferecem o narguilé.

Espécie de cachimbo de mesa, com um vaso onde se coloca a água que vai filtrar o fumo e um cabo comprido para puxar a fumaça, o narguilé (ou arguile) promete ser a sensação de jovens descolados e velhos novidadeiros. O sucesso pode ser medido pela inauguração de novas casas.

Só nos últimos meses, pelo menos dois bares (Malaysian e Alibabar) e um restaurante (Ammoul) que usam o narguilé como chamariz foram abertos na cidade.

São duas as razões para tanta gente querer experimentar a nova fumaça do Oriente. Em primeiro lugar, os fumos usados no narguilé têm sabores: maçã, damasco, uva, tutti-fruti etc. E, como os cachimbos tradicionais, a fumaça deixa o ambiente com o cheiro do fumo perfumado.

Em segundo lugar, o narguilé serve para ser dividido em grupos, como o chimarrão gaúcho ou um cachimbo da paz. E é a desculpa certa para um momento de confraternização e relaxamento. Outra vantagem é que se pode tragar ou não o fumo.

"Tenho cinco arguiles e vou comprar mais cinco para a clientela", diz a libanesa Icbal Yamout, que inaugurou o Ammoul ("pequena esperança", em árabe) em Moema há quatro meses. Segundo ela, o nome do aparelho em árabe é arguile, e não narguilé, como foi difundido por aqui. "Acho que o nome vem do barulho da água quando se fuma", afirma.

"Há uns 20 anos, nos países do Oriente, os jovens achavam feio fumar com narguilé", conta Yamout. "Isso porque o fumo persa é muito forte. Quando esse fumo com sabores começou a ser vendido, virou febre. No Líbano, os jovens saem de noite para fumar nos cafés."

Já na zona norte de São Paulo, a juventude vai mesmo ao Alibabar, aberto em setembro. Entre drinques batizados como Bin Laden (com tequila e cerveja) e Saddam Hussein (à base de Jack Daniels), o bar de 240 lugares tem 24 narguilés à disposição do público.

"Muita gente já vem procurando o arguile", diz Fauzi Dahouk. "Em finais de semana, chega a ter fila de espera." Nesta semana, o Alibabar começará a vender o objeto (preço entre R$ 160 e R$ 200).

Narguilés importados do Egito e do Líbano --de cobre e vidro colorido-- também estão à venda no Tanger, restaurante marroquino que funciona há três anos na Vila Madalena e acaba de inaugurar um novo espaço lounge. No Tanger, aliás, é grátis dar umas tragadas. Cobra apenas se o cliente quiser incrementar seu fumo misturando na água de filtragem uma dose de arak (destilado de uva e anis, a R$ 7). Dessa forma, o líquido fica com aparência leitosa.

"Hoje, 60% da clientela que vem ao Tanger quer fumar depois do jantar. Alguns árabes fumam até antes", diz a marroquina Dinah Doctors, chef e proprietária do restaurante. "O narguilé faz com que as pessoas fiquem horas por aqui. Alguns chegam às 20h e só saem à 1h. Pode não ser muito bom financeiramente, mas é assim que eu gosto. E os clientes também."

A estudante Flávia Schikmann, 20, é uma dessas clientes. Não gosta de cigarros, mas se amarrou nos sabores de maçã, morango e hortelã do fumo oriental: "Chamei 80 amigos para comemorar meu aniversário no Tanger. Ficamos comendo, bebendo e, claro, fumando. Todo mundo quis experimentar e adorou. A boca fica com os sabores que você fumou, e o de hortelã é superdigestivo."

Na região da Paulista há três anos, o restaurante Arguile oferece fumos com uma dúzia de sabores. "Mas se não tiver o de maçã, tem quem não queira saber de outro", diz Sérgio Andrade, revelando a preferência geral da clientela.

Além do de maçã, narguilés com fumos de damasco, uva e menta são os mais pedidos no bar Malaysian, na Vila Olímpia. "A procura é grande desde que abrimos, em outubro", diz o gerente, Erasmo Trajano de Moraes.

Inicialmente, o bar não cobrava pelo uso de seus 11 objetos, mas o preço ficou alto demais após alguns meses. "Às vezes, as pessoas não comem nem bebem. Vêm só para fumar. E, em alguns finais de semana, não tem jeito: só com fila de espera."
 

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