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13/07/2003 - 07h12

Telespectadores influenciam trama das novelas da Globo

CLÁUDIA CROITOR
Free-lance para a Folha de S.Paulo, no Rio

Sair de casa e avisar para o marido: "Querido, vou mexer na novela das oito, não demoro". O que parece o sonho de toda viciada em novelas não é tão irreal assim. Os telespectadores --alguns poucos, escolhidos a dedo-- têm bastante influência nas tramas da Globo, e não só pelos números do Ibope.

A cada novela que põe no ar, a emissora promove grupos de discussão nos quais são avaliados o que agrada ou não na trama. As conversas --mantidas em sigilo pela Globo-- são responsáveis por desde pequenos ajustes até guinadas radicais nas novelas.

"Para mim, esses grupos são fundamentais, uso o que é dito lá em todas as minhas novelas", diz Ricardo Linhares, autor de "Agora É que São Elas". O que foi dito na pesquisa sobre a novela das seis, por exemplo, o fez acelerar o romance entre Juca Tigre (Miguel Falabella) e Antonia (Vera Fischer). "Na conversa, deu para ver que as mulheres estavam sentindo falta de romance na trama."

Para discutir as novelas, geralmente são chamadas cerca de dez mulheres, com idades entre 25 e 45 anos, das classes B e C. Elas só ficam sabendo do que se trata quando começa a conversa.

A pesquisa costuma ser feita entre o 18º e o 30º capítulo de cada novela. Se a história não anda bem no Ibope, uma nova rodada de pesquisas pode ser feita. O autor pode ou não acatar as sugestões. "Em última instância, quem manda é o criador", diz a Central Globo de Comunicação.

De fato, há certos autores que preferem passar longe desses grupos. É o caso de Manoel Carlos, o autor de "Mulheres Apaixonadas". Ele diz que "jamais" mudou nenhuma história baseado nas pesquisas. "Nunca participei dessas reuniões, nunca li os relatórios nem dou valor a esses encontros."

Mesmo assim, há alguns meses a Globo promoveu uma discussão sobre "Mulheres", e o foco principal foi o casal teen de lésbicas vivido por Aline Moraes e Paula Picarelli. A rejeição manifestada nesse tipo de pesquisa já fez com que, em 98, em "Torre de Babel", as homossexuais interpretadas por Christiane Torloni e Silvia Pfeiffer fossem eliminadas da trama.

O autor da novela das oito, no entanto, afirma que não se interessou pelo resultado da discussão sobre "Mulheres", que mostrou, por exemplo, uma rejeição ao quase casal formado por Helena Ranaldi, a professora Raquel, e seu aluno Fred (Pedro Furtado) --segundo as participantes, Fred não seria homem para ela.

"Vale Tudo"

As pesquisas são feitas inclusive no exterior. Quando lançou nos EUA a versão hispânica de "Vale Tudo", em 2002, um grupo com moradores latinos de Los Angeles foi formado para discutir a trama. Segundo Yves Dumont, responsável pela adaptação da história de Gilberto Braga, a pesquisa mostrou que eram muito chocantes as maldades que Maria de Fátima (vivida por Glória Pires na versão brasileira) fazia com sua mãe, Raquel (aqui, Regina Duarte). "Não mudamos a personagem, mas amenizamos um pouco as suas maldades", disse Dumont.

Autora de "O Clone", Glória Perez também usa o que é dito nos grupos. "Tenho uma pessoa que faz pesquisa em filas de banco, no ônibus etc. Quando as pessoas sabem que podem influenciar, elas se comportam de forma menos espontânea."
 

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