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14/07/2003 - 14h44

Chega ao Brasil a japanimação "A Viagem de Chihiro"

CÁSSIO STARLING CARLOS
Editor do Folhateen

Há muitas histórias que a gente já leu, viu ou ouviu contar um monte e nunca mais se esqueceu.

Lembra da Alice, aquela menina inglesa que correu atrás de um coelho e se meteu em mil aventuras contadas por um escritor chamado Lewis Carrol? Depois, aqui mesmo no Brasil, Monteiro Lobato inventou a Narizinho, que, na companhia do Pedrinho, da Emília e dos amigos bizarros do Sítio do Picapau Amarelo, continua a se divertir na TV.

Agora, do Japão, vem uma garota de dez anos que passa mais de duas horas enfrentando deuses, monstros, feiticeiras e dragões no maravilhoso "A Viagem de Chihiro", uma japanimação que estréia nos cinemas na sexta (18/7). Quem já viu, sabe que não vai esquecer.

A Chihiro é uma menina meio mimada que não pára de fazer perguntas enquanto viaja com os pais para a casa nova que eles compraram. No meio do caminho, eles erram a estrada, vão parar numa passagem meio secreta e... o resto é melhor você ver no cinema.

Mais que a história, em tom às vezes de fábula, às vezes de relato de aventuras, é a animação que deixa o espectador boquiaberto. O criador do anime é o mestre Hayao Miyazaki, considerado por muita gente uma espécie de Disney japonês.

Na técnica que ele utiliza está a grande diferença. No lugar da aparência sintética das criaturas de filmes até bacanas como "Shrek", Miyazaki permanece fiel ao desenho em aquarela e recorre a efeitos 3D em computador apenas para obter volume nas figuras em algumas cenas.

Outra diferença que chama a atenção de quem só assiste aos animes que passam na TV é que, em vez daqueles movimentos duros e sem expressão, em "A Viagem de Chihiro", as texturas (nas roupas e nos ambientes), os espaços e perspectivas são tão sofisticados que parecem mais com aquelas imagens que só vemos nos nossos sonhos.

Como um bom filme não se faz só com belas imagens ou com boa técnica, qual o segredo do sucesso de "A Viagem de Chihiro"? Afinal, a japanimação agradou tanto aos críticos (foi melhor filme no Festival de Berlim em 2002 e Oscar de animação) quanto ao público (é recordista de bilheteria no Japão, onde bateu até o oceano de lágrimas de "Titanic").

Primeiro segredo: a história. Chihiro, como a Alice e a Narizinho lembradas acima, enfrenta o que se chama "rito de iniciação", passa por uma série de provas que constituem ao mesmo tempo sua aventura e seu aprendizado. A história dela concentra e reproduz, em diversos níveis, a de todos nós.

Segundo segredo: a fantasia. O "outro lado" em que a garota mergulha é um mundo "maravilhoso" e "extraordinário", comandado pelas regras livres da pura imaginação. E essa possibilidade de tudo transformar encanta desde crianças com a idade da heroína até espectadores bastante crescidinhos.

Terceiro segredo: a moral. Como se sabe, as histórias têm significados. E, nas fábulas, mais que a própria história, o que importa é a moral da história.

Então, preste atenção em dois momentos do filme: aquele em que os pais se transformam em porcos e aquele do homem sem rosto que, de amigo, vira uma espécie de ogro. Em ambos, há um significado forte e atual de crítica ao consumismo sem limites na forma da devoração de tudo e de todos que passam pela frente. Neles, Miyazaki nos diz que não basta comprar e consumir para ser alguém. O avesso dessa situação está na própria Chihiro, que, por sua conta e risco, descobre do que é capaz e que, depois de duas horas, deixa de ser a garotinha de dez anos mimada do início.

Mesmo feito no Japão e profundamente carregado de referências a elementos da cultura nipônica (alguns de difícil compreensão por nós, ocidentais), "A Viagem de Chihiro" fascina gente em qualquer lugar do mundo.

Afinal, Alice e Narizinho também são crias de outra época e lugar e, mesmo assim, continuamos a aprender muito com elas. Será que é por que, como sua nova amiga, Chihiro, elas são mais humanas do que nós?
 

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