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16/07/2003 - 08h11

Universo de Quino envelhece com graça

DIEGO ASSIS
da Folha de S.Paulo

Há quase dez anos, quando publicou pela primeira vez "Não Fui Eu!", na Argentina, Quino se mostrava preocupado com os destinos da mão-de-obra em um novo mundo dito neoliberal.

Hoje, quando o livro chega ao Brasil editado pela Martins Fontes e a Argentina vive novos tempos com a vitória de Néstor Kirchner nas eleições, as rugas de preocupação com o futuro de sua profissão milagrosamente sumiram: "Vou mesmo morrer antes que isso aconteça, não estou nem aí!", diverte-se o desenhista argentino de 70 anos, que esteve no país no último final de semana para participar do Mundo dos Quadrinhos, no Senac, e recebeu a Folha para uma conversa sobre cartunismo, política e... "você não vai perguntar o que a Mafalda diria hoje da situação mundial?, vai?".

Não, claro que não. Preferimos que o próprio Quino, que parou de desenhar as tiras de sua personagem mais famosa, a pequena Mafalda, em 1973, e desde então não quer mais tocar no assunto, comente: "O poder econômico superou o poder político. E ninguém tem vergonha de que as multinacionais tenham mais força do que os políticos".

Filho de imigrantes espanhóis, Quino começou a desenhar aos três anos. Das tirinhas da revista "Pif-Paf" para discussões sobre o fascismo europeu foi um pulo: "a politização veio desde pequeno", diz. "Mas nunca me afiliei a um partido. Tudo o que penso sobre política digo na minha página."

De fato. Embora tenha ficado mais conhecido pelas tirinhas de "Mafalda", Quino sempre se deu melhor com os cartuns concisos e as charges que publica desde o final da década de 50 na imprensa argentina. Além de "Não Fui Eu!", outras duas coletâneas de charges, "Potentes, Prepotentes e Impotentes" e "Que Gente Má!", ganham, enfim, versão brasileira.

Quino esteve pela primeira vez no Brasil nos anos 60 e não descarta a importância do intercâmbio com os brasileiros em sua obra. "Ziraldo, Millôr, toda a turma do 'Pasquim' sempre foi muito importante para a América Latina, especialmente a Argentina."

Com uma diferença: "No Brasil, esse pessoal sofria uma censura mais oficial. Lá, não se sabia o que podia ou não falar, era o secretário de Redação quem dizia o que e quando podíamos publicar".

Os tempos são outros, e os argentinos não se sentem mais tão impotentes quanto outrora --"[Com a derrota de Menem] As pessoas estão se voltando para a cultura e seguindo com bastante interesse a política. Como vocês com o Lula, nós também temos a obrigação de sermos otimistas"--, e uma única pergunta insiste em não querer calar: e a Mafalda, Quino, volta?

"Não vale a pena repetir uma coisa em outra época, com outra idade e uma visão de mundo muito distinta. Não conheço mais as crianças como antes, quando tinha cinco sobrinhos na idade de Mafalda. Pensei dois anos antes de parar e achei que, se terminasse, terminaria. Nunca imaginei que 30 anos depois ela ainda estaria vendendo." E como.

POTENTES, PREPOTENTES E IMPOTENTES; NÃO FUI EU!; QUE GENTE MÁ!
Autor:
Quino
Editora: Martins Fontes
Quanto: R$ 34,50 cada
 

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