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28/08/2000 - 11h07

Coletânea analisa livro de Roberto DaMatta

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CRISTIAN KLEIN
da Folha de S. Paulo, no Rio de Janeiro

A Editora Fundação Getúlio Vargas (FGV)lançou na semana passada, no Rio de Janeiro, um volume em comemoração aos 20 anos do mais célebre livro do antropólogo Roberto DaMatta.

"O Brasil não É para Principiantes: Carnavais, Malandros e Heróis, 20 Anos Depois" reúne artigos de 13 colegas e ex-alunos de DaMatta.

"É com uma mistura de satisfação e humildade que recebo essa homenagem. Nunca me pensei como um supra-sumo dos pensadores brasileiros. Vejo-me como um dos menores, quando leio Sérgio Buarque de Holanda, Gilberto Freyre e Caio Prado Júnior", disse Roberto DaMatta, de sua casa em Notre Dame, nos Estados Unidos, onde mora.

O título "O Brasil não É para Principiantes" pega emprestado uma frase de Tom Jobim, das mais caras a Roberto DaMatta. "Ele adora essa frase porque mostra a complexidade da sociedade brasileira", afirma a antropóloga Lívia Barbosa, ex-aluna de DaMatta e organizadora do livro, junto com Laura Graziela Gomes e José Augusto Drummond.

Lívia afirma que, em "Carnavais, Malandros e Heróis", Roberto DaMatta foi responsável por uma visão pioneira da sociedade brasileira, deu "um passo além de Gilberto Freyre".

"Até então, predominavam as teses dos economistas e a dos cientistas sociais. Os primeiros diziam que, para o Brasil ser moderno, era preciso ser rico. E os últimos defendiam que o país precisava atingir um tipo ideal de valores em torno da cidadania, da liberdade, da igualdade.
Embora conflitantes, ambas as teses tinham uma coisa em comum: importavam modelos estrangeiros de modernidade, surgidos no século 17. Roberto DaMatta, no entanto, aponta para o fato de que esse conjunto de valores não encontra um vácuo social ao se propagar pelo mundo. Ele se mistura. DaMatta defende o conceito de modernidades", diz Lívia.

Para José Augusto Drummond, "a grande sacação" de Roberto DaMatta foi estabelecer a contradição "indivíduo versus pessoa".

'Nos países anglo-saxões, o indivíduo é julgado por valores universais, por ser um cidadão. No Brasil, a pessoa prefere evocar uma identidade parcial. Quando é multado, ou utiliza o jeitinho brasileiro porque o guarda mora na mesma rua, ou apela para o "você sabe com quem está falando?", por ser parente de uma autoridade', exemplifica.

Roque de Barros Laraia, antropólogo que começou carreira com DaMatta, ressalta a dicotomia "casa versus rua".

"Ele mostra como o comportamento do brasileiro pode ser diferente: em casa um conservador, na rua um liberal, bonachão. DaMatta segue a sociologia dos costumes de Gilberto Freyre. Tanto 'Casa Grande e Senzala' quanto 'Carnavais, Malandros e Heróis' são livros seminais", diz.

As críticas dirigidas a 'Carnavais, Malandros e Heróis' após seu lançamento, em 1979, afirma José Augusto Drummond, se devem ao fato de Roberto DaMatta não ter lançado mão de um estudo da cultura brasileira a partir do conflito de classes.

"DaMatta não tinha um perfil de esquerda. E o pessoal de esquerda não perdoava isso. No livro, DaMatta aponta para a comunalidade de classes diferentes. Tanto o filho de um general como seu motorista particular podiam utilizar 'o você sabe com quem está falando?'", diz.

Vinte anos depois, Roberto DaMatta, radicado desde 1987 nos Estados Unidos, é o autor nacional mais citado em teses de mestrado e doutorado no Brasil.

O livro em comemoração aos 20 anos de 'Carnavais, Malandros e Heróis' conta com artigos de Otávio Velho, Roberto Cardoso de Oliveira, Roque de Barros Laraia, Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti, Valter Sinder, Amir Geiger, Eliane Cantarino O'Dwyer, Roberto Kant de Lima, Simoni Lahud Guedes, Everardo Rocha, David Hess, Lívia Barbosa e Laura Graziela Gomes.

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