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09/08/2003
-
03h38
daFolha de S.Paulo
Douglas Diegues, 38, é um escritor que encontra nas linhas fronteiriças sua unidade poética. Do Paraguai vizinho de sua Ponta Porã (MS) toma o castelhano, dos povos indígenas do lado de lá e de cá, os mitos e a língua guarani. E, equilibrando tudo na arquitetura do soneto, constrói um universo particular numa espécie, mais particular ainda, de portunhol.
"A língua mestiça com que escrevo é visceral. O portunhol fronteiro tem uma graça encantatória que me fascina. Acho-o feio, de mau gosto, bizarro, rupestre, mas tem uma graça que me seduz, me impacta antes e depois dos meus gostos, dos gostos do meu cérebro aculturado", diz o autor.
Seus primeiros 30 "insurretos sonetos", na classificação do poeta Glauco Mattoso, publicados sob o título "Dá Gusto Andar Desnudo por Estas Selvas - Sonetos Salvajes" provocam um estranhamento que desalinha a percepção e constrói um espaço mítico.
"Os 'sonetos salvajes' podem ser lidos como uma caminhada ritual em busca da Terra sem Mal guarani, uma terra utópica, situada a leste, depois das águas do grande oceano, um lugar que pode ser alcançado antes ou depois da morte, onde as frutas e demais alimentos brotam do chão não por intervenção humana, mas por obras de magia da vida, onde não existe violência, nem miséria, nem mesquinhez", diz Diegues, fazendo referência ao mito da cultura guarani que corresponde ao Paraíso do catolicismo.
Carioca radicado em Ponta Porã, Diegues quer despertar o homem para sua situação artificial frente à natureza e traduzir o oeste nacional desconhecido por meio do portunhol. "Quero transformar o portunhol da fronteira numa língua literária, tão literária quanto qualquer outra língua 'culta', como dizem os acadêmicos... Quero também usar mais o guarani e outras línguas indígenas que existem do outro lado."
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Escritor desafia as fronteiras do soneto
Poeta Douglas Diegues traduz país de fronteiras desconhecidas
ROGÉRIO EDUARDO ALVESdaFolha de S.Paulo
Douglas Diegues, 38, é um escritor que encontra nas linhas fronteiriças sua unidade poética. Do Paraguai vizinho de sua Ponta Porã (MS) toma o castelhano, dos povos indígenas do lado de lá e de cá, os mitos e a língua guarani. E, equilibrando tudo na arquitetura do soneto, constrói um universo particular numa espécie, mais particular ainda, de portunhol.
"A língua mestiça com que escrevo é visceral. O portunhol fronteiro tem uma graça encantatória que me fascina. Acho-o feio, de mau gosto, bizarro, rupestre, mas tem uma graça que me seduz, me impacta antes e depois dos meus gostos, dos gostos do meu cérebro aculturado", diz o autor.
Seus primeiros 30 "insurretos sonetos", na classificação do poeta Glauco Mattoso, publicados sob o título "Dá Gusto Andar Desnudo por Estas Selvas - Sonetos Salvajes" provocam um estranhamento que desalinha a percepção e constrói um espaço mítico.
"Os 'sonetos salvajes' podem ser lidos como uma caminhada ritual em busca da Terra sem Mal guarani, uma terra utópica, situada a leste, depois das águas do grande oceano, um lugar que pode ser alcançado antes ou depois da morte, onde as frutas e demais alimentos brotam do chão não por intervenção humana, mas por obras de magia da vida, onde não existe violência, nem miséria, nem mesquinhez", diz Diegues, fazendo referência ao mito da cultura guarani que corresponde ao Paraíso do catolicismo.
Carioca radicado em Ponta Porã, Diegues quer despertar o homem para sua situação artificial frente à natureza e traduzir o oeste nacional desconhecido por meio do portunhol. "Quero transformar o portunhol da fronteira numa língua literária, tão literária quanto qualquer outra língua 'culta', como dizem os acadêmicos... Quero também usar mais o guarani e outras línguas indígenas que existem do outro lado."
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