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20/08/2003 - 03h43

Ex-traficante 50 Cent fala do sucesso de "Get Rich or Die Tryin"

THIAGO NEY
da Folha de S.Paulo, em Miami

50 Cent é o artista jovem que mais vende discos hoje no mundo. Seu álbum de estréia, "Get Rich or Die Tryin'", está há 27 semanas --desde que foi lançado nos EUA; no Brasil chegou em maio-- na parada da Billboard, caminhando para as seis milhões de cópias. Mas, à primeira vista, ele não aparenta ser o que é --ou a imagem que se tem dele.

50 Cent chega ao saguão do hotel em que está hospedado com uma sacola de compras na mão, vestindo uma camiseta de futebol americano. Cumprimenta, dá autógrafos e tira fotos pacientemente com dezenas de crianças --e com os pais delas. Segue para a entrevista. Educadíssimo, dá um aperto de mão firme e pergunta: "De onde você é?". "Do Brasil? Uau! Quero muito ir para lá." Responde a todas as perguntas calmamente. Ao final, mesmo atrasado para o show, faz questão de se despedir de todos que estão na sala. Cadê o polêmico rapper boca suja, que assume ter vendido drogas aos 12 anos, que foi preso por tráfico, levou nove tiros e foi considerado suspeito de estar envolvido na morte de outro rapper?

Mas é o mesmo cara. Curtis Jackson, o 50 Cent, 26, não se comporta como um pop star. Não age, aparentemente, de acordo com o estereótipo de alguém que passou pelo que ele passou. Mas 50 Cent não esconde nada, seja em suas músicas, seja nas entrevistas. "Eu vivo a minha vida. Se eu quero fazer algo, eu faço. Não parei de fazer coisas por causa de outra pessoa. Faço que eu quero fazer", ele diz à Folha, em um hotel em Miami Beach horas antes de subir ao palco.

Para entender melhor 50 Cent: ele nasceu no Queens, em Nova York. Quando tinha oito anos, sua mãe morreu, em circunstâncias não esclarecidas, e seu pai o abandonou logo depois. Foi morar com os avós. Aos 12, começou a vender crack nas ruas de Manhattan ("Meus avós tinham outras nove crianças para tomar conta. Não queria pedir nada a eles") e foi preso várias vezes. Há três anos, foi baleado por nove tiros dentro de um carro, na frente da casa dos avós. Em 2002, chegou a ser detido quando Jam Master Jay, DJ do grupo Run DMC, foi morto a tiros num estúdio. 50 Cent estava numa sala ao lado.

Desde então, um colete à prova de balas é vestimenta obrigatória. "Eu tomo algumas precauções, pelo menos mais precauções do que outras pessoas. Tupac [Shakur, rapper] foi morto [1996] num carro, Notorious B.I.G. [rapper] foi morto [97] num carro e eu fui baleado num carro. Então agora eu só ando em carro blindado."

(Perguntado se veste o colete no momento da entrevista, responde: "Não quero te assustar".)

O filho

As declarações de 50 Cent e a ironia que carrega em suas letras --em "How to Rob", por exemplo, ele brinca sobre como faria para roubar uma série de nomes conhecidos do hip hop americano, como Jay-Z e Ja Rule; em "Wanksta", tira sarro dos adeptos do gangsta rap, que idolatram armas e o crime-- não são aceitas impunemente por alguns setores da sociedade americana, temerosos pela influência que pode exercer sobre os adolescentes. "Algumas pessoas pensam que é perigoso falar o que realmente acontece em alguns lugares", rebate. E segue, dando o exemplo de seu filho, Marquis, de seis anos: "Ele estava em casa quando fui baleado. Ouviu os tiros. Ele viu o que ocorreu quando me encontrou no hospital. Não escondo nada dele".

A respeito de sua infância, afirma que, se não fosse rapper, ainda estaria vivendo nas ruas --sobre isso, numa entrevista ao jornal "The New York Times", chegou a dizer à repórter: "Eu não consigo me identificar com você quando você me diz que tem de levantar de manhã para ir trabalhar".

A vida de 50 Cent --que, seguindo à risca o clichê, vai virar filme-- chega a eclipsar a própria música. Quando sobra espaço, ele fala sobra a influência de suas canções.

"Eu fiz as pessoas escreverem e cantarem sobre a vida novamente. Por um momento parecia que tudo estava se voltando para um r&b meloso. É o que Ja Rule, por exemplo, faz. Não há muito líderes hoje neste negócio, pessoas que digam "Temos que ir para a esquerda", enquanto o resto está indo para a direita."

Boa definição sobre 50 Cent está no título do CD, "Get Rich or Die Tryin". "Um trabalhador nunca desiste; ele diz que ficará rico, ou morrerá tentando."

O jornalista Thiago Ney viajou a convite da gravadora Universal
 

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