Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
10/09/2003 - 16h02

Museu de Bagdá manteve artefatos escondidos durante a guerra

Publicidade

da France Presse, em Bagdá

Após o fim da guerra no Iraque, enquanto os arqueólogos do mundo inteiro lamentavam a perda de peças valiosíssimas do Museu de Bagdá, um pequeno grupo de funcionários guardava um segredo que só foi revelado meses depois: em locais bem escondidos, milhares de antiguidades foram salvas da voracidade dos ladrões.

A devoção destes empregados evitou que o museu fosse saqueado por inteiro. Hoje, as vitrines do museu arqueológico de Bagdá continuavam vazias, enquanto as peças escondidas permanecem "em um lugar seguro", apenas conhecido por um grupo reduzido de pessoas.

"Protegemos milhares de peças, cerca de 8.000, em quartos escondidos, invisíveis para os ladrões. Eu mesmo disse: sou o diretor deste museu e devo me comportar assim. Juramos sobre o Alcorão que não diríamos nada e passaram dois meses antes de falar sobre esta questão com os americanos", explicou Jaaber Jelil Ibrahim, diretor-geral do patrimônio de antiguidades no Iraque.

"Para eles, éramos só forças de ocupação. Foi difícil convencê-los", declarou Pietro Cordone, encarregado de Cultura na administração provisória da força de coalizão no Iraque.

Reabertura

Nesta quarta-feira, os trabalhos para reabrir o mais rápido possível o museu continuavam. As tarefas de limpeza se misturavam com as de restauração de peças e a instalação de novas infra-estruturas.

Um novo sistema de segurança, móveis novos, aparelhos de ar-condicionado e computadores se espalham por diferentes salas, Tudo é financiado por associações culturais privadas e pela autoridade provisória da coalizão, segundo Jelil Ibrahim.

"Continuamos fazendo inventários do que foi roubado e recuperado. Das galerias faltam 32 objetos de grande valor e dos depósitos cerca de 13 mil, menos preciosos. Ao todo e segundo nossos cálculos foram roubadas 15 mil peças. Encontramos cerca de 2.000, algumas graças à generosa contribuição dos cidadãos", disse, estimando que o museu tem no total cerca de 170 mil peças.

Nas salas ainda é possível ver o que sobrou dos saques: vitrines destruídas, estátuas decapitadas, peças muito pesadas para serem carregadas quebradas no chão e espumas e sacos de areia colocados em torno de alguns valiosos tesouros para evitar que se quebrassem em mil pedaços no caso de uma queda durante os bombardeios.

Segundo Jelil Ibrahim, o museu reabrirá suas portas no próximo ano, mas a sala dos impressionantes baixos-relevos assírios poderá ser visitada a partir do próximo mês.

Perdas

Apesar da colaboração da Interpol e da Unesco, não há notícias de algumas peças extraordinárias, entre elas máscaras da civilização suméria ou da estátua de bronze de Naram-Sin, rei da época acadiana (2.300 a.C.).

"Creio que alguns objetos estão ainda dentro do Iraque, mas a maioria já cruzou as fronteiras. Pouco depois do fim da guerra ouvimos que foram encontradas algumas peças em um aeroporto francês, mas não tivemos mais notícias", assegurou o diretor.

Jelil Ibrahim lembra que tudo isso poderia ter sido evitado. "Pedimos aos americanos que nos protegessem. Eu mesmo fui ao hotel Palestina (sede do alto comando americano na época) quando vi que os saques estavam começando. Um coronel me prometeu que um tanque chegaria aqui naquele dia mesmo. Esperei cinco dias até os soldados aparecerem. Era muito tarde".

"Protegeram o Ministério do Petróleo, mas não o museu. Esqueceram-se totalmente da memória deste país", concluiu o diretor.

Especial
  • Saiba tudo sobre a guerra no Iraque
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página