Publicidade
Publicidade
12/10/2003
-
08h34
BIA ABRAMO
colunista da Folha
E, (quase) no final, mataram o pobre Fred. O garoto era um exemplo: sério nos estudos, bom amigo, amante galante e dedicado. Ainda por cima, foi graciosamente interpretado pelo estreante em TV Pedro Furtado. Mas acabou morrendo no mesmo acidente que vitimou o espancador e psicopata Marcos (Dan Stulbach).
Nos últimos capítulos de "Mulheres Apaixonadas", o afã de fazer a audiência atingir alguma espécie de recorde produziu mais uma solução absurda, numa novela que foi recheada delas.
O incongruente e a incoerência fazem parte, é claro, dessa ficção construída aos olhos do público, testada por especialistas em marketing, regida pelo merchandising.
A telenovela é pródiga em ressuscitar mortos, fazer aparecer desaparecidos, mostrar caráteres mudando da água para o vinho etc.
Também estende-se por muitos meses, e isso acaba por cansar; é, portanto, necessário recuperar os espectadores perdidos para outros canais ou atividades recorrendo a recursos os mais esquisitos.
Em que pese a nota de saudosismo, houve um tempo em que imperava nas novelas da Rede Globo o chamado "padrão de qualidade", e a emissora esforçava-se por levar ao ar roteiros mais ou menos coesos. Nas últimas novelas, os critérios parecem ter se esfumaçado. É sempre preciso lembrar que o período do "padrão Globo de qualidade" coincidia com o quase monopólio da Globo, ou seja, a pressão para dominar a audiência era menor do que é hoje.
A campeã ainda é "O Clone", de Glória Perez, que, de tão esburacada em termos de coerência espaço-temporal, fazia parecer que o Marrocos era logo ali na Baixada, que uma mulher não envelhece nada em 25 anos e assim por diante.
Perez manipulou de maneira tão grosseira as linhas gerais da história, os personagens, as passagens de tempo, que a novela parecia ter voltado ao período pré-Janete Clair, em que Glória Magadan costurava suas tramas mirabolantes com xeques e príncipes. A ficção é uma construção, mas é necessário que o autor firme algum pacto de verossimilhança com o seu leitor/ espectador.
Mesmo numa obra de puro entretenimento como a novela, é preciso delimitar uma fronteira a partir da qual a história, no fundo, perde a graça. Quebrar o pacto e inventar para além dos limites pode ser que infle a audiência, mas corre-se o risco de aborrecer o espectador.
É um sinal dos tempos que Manoel Carlos também tenha recorrido tanto a esse tipo de solução barata e perversa. A morte de Fernanda (Vanessa Gerbelli), as surras em Dóris (Regiane Alves), as facadas de Heloísa (Giulia Gam), as raquetadas em Raquel (Helena Ranaldi): mais ainda sinal dos tempos, o fato de que todas elas envolveram a exposição de algum tipo de violência.
E-mail: biabramo.tv@uol.com.br
Crítica: Noveleiro bossa nova apela para absurdo
Publicidade
colunista da Folha
E, (quase) no final, mataram o pobre Fred. O garoto era um exemplo: sério nos estudos, bom amigo, amante galante e dedicado. Ainda por cima, foi graciosamente interpretado pelo estreante em TV Pedro Furtado. Mas acabou morrendo no mesmo acidente que vitimou o espancador e psicopata Marcos (Dan Stulbach).
Nos últimos capítulos de "Mulheres Apaixonadas", o afã de fazer a audiência atingir alguma espécie de recorde produziu mais uma solução absurda, numa novela que foi recheada delas.
O incongruente e a incoerência fazem parte, é claro, dessa ficção construída aos olhos do público, testada por especialistas em marketing, regida pelo merchandising.
A telenovela é pródiga em ressuscitar mortos, fazer aparecer desaparecidos, mostrar caráteres mudando da água para o vinho etc.
Também estende-se por muitos meses, e isso acaba por cansar; é, portanto, necessário recuperar os espectadores perdidos para outros canais ou atividades recorrendo a recursos os mais esquisitos.
Em que pese a nota de saudosismo, houve um tempo em que imperava nas novelas da Rede Globo o chamado "padrão de qualidade", e a emissora esforçava-se por levar ao ar roteiros mais ou menos coesos. Nas últimas novelas, os critérios parecem ter se esfumaçado. É sempre preciso lembrar que o período do "padrão Globo de qualidade" coincidia com o quase monopólio da Globo, ou seja, a pressão para dominar a audiência era menor do que é hoje.
A campeã ainda é "O Clone", de Glória Perez, que, de tão esburacada em termos de coerência espaço-temporal, fazia parecer que o Marrocos era logo ali na Baixada, que uma mulher não envelhece nada em 25 anos e assim por diante.
Perez manipulou de maneira tão grosseira as linhas gerais da história, os personagens, as passagens de tempo, que a novela parecia ter voltado ao período pré-Janete Clair, em que Glória Magadan costurava suas tramas mirabolantes com xeques e príncipes. A ficção é uma construção, mas é necessário que o autor firme algum pacto de verossimilhança com o seu leitor/ espectador.
Mesmo numa obra de puro entretenimento como a novela, é preciso delimitar uma fronteira a partir da qual a história, no fundo, perde a graça. Quebrar o pacto e inventar para além dos limites pode ser que infle a audiência, mas corre-se o risco de aborrecer o espectador.
É um sinal dos tempos que Manoel Carlos também tenha recorrido tanto a esse tipo de solução barata e perversa. A morte de Fernanda (Vanessa Gerbelli), as surras em Dóris (Regiane Alves), as facadas de Heloísa (Giulia Gam), as raquetadas em Raquel (Helena Ranaldi): mais ainda sinal dos tempos, o fato de que todas elas envolveram a exposição de algum tipo de violência.
E-mail: biabramo.tv@uol.com.br
Publicidade
As Últimas que Você não Leu
Publicidade
+ LidasÍndice
- Alice Braga produzirá nova série brasileira original da Netflix
- Sem renovar contrato, Fox retira canais da operadora Sky
- Filósofo e crítico literário Tzvetan Todorov morre, aos 77, em Paris
- Quadrinhos
- 'A Richard's estava perdendo sua cara', diz Ricardo Ferreira, de volta à marca
+ Comentadas
- Além de Gaga, Rock in Rio confirma Ivete, Fergie e 5 Seconds of Summer
- Retrospectiva celebra os cem anos da mostra mais radical de Anita Malfatti
+ EnviadasÍndice