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23/10/2003 - 07h32

Família conta 40 anos de história da Itália em "A Melhor Juventude"

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FRANCESCA ANGIOLILLO
free-lance para a Folha

São quase seis horas de filme. Mas são quase 40 anos os cobertos por "A Melhor Juventude", do italiano Marco Tullio Giordana, que a 27ª Mostra Internacional de Cinema de SP apresenta hoje --em versão integral, dividida por um intervalo de 30 minutos.

A extensão se explica na origem: o projeto foi encomendado como minissérie pela televisão estatal italiana, a RAI --que queria contar um pedaço da história do país de um "ponto de vista original", como diz Giordana, 53. Para isso, a rede encarregou os roteiristas Sandro Petraglia e Stefano Rulli, que convidaram o diretor com quem trabalharam em "Pasolini, um Delito Italiano" (1995).

No filme, a história italiana circula em torno dos lares de uma mesma família, espalhados entre a capital, Roma, a industrial Turim, e a mítica e pobre Sicília. "Petraglia e Rulli preferiram contar os fatos privados da família Carati e de seus amigos do que representar os grandes acontecimentos que marcaram a vida italiana nos últimos 40 anos. Estou de acordo: deste modo, o enredo resulta muito mais apaixonante e universal", pondera Giordana.

Os protagonistas são os irmãos Nicola (Luigi Lo Cascio) e Matteo (Alessio Boni). Muito próximos, ainda que em tudo diferentes, têm suas vidas mudadas, no verão de 1966, pelo encontro com Giorgia (Jasmine Trinca), paciente de uma clínica psiquiátrica, e a tentativa frustrada de livrá-la da rotina dos eletrochoques.

Matteo entra para a caserna em busca de colocar ordem no caos. A partir daí, um lado sombrio se desenvolve no rapaz antes inclinado às artes. Como policial, presenciará vários fatos históricos que se seguem à sua decisão.

Nicola, estudante de medicina, passa o resto das férias (e uns meses mais) numa viagem de mochilão até a Noruega. Na volta provocada pela notícia da grande enchente de Florença --quando jovens de toda a Itália se empenharam em salvar obras de arte-- decide dedicar-se à psiquiatria e à luta antimanicomial, iniciada por Franco Basaglia (1924-1980).

E assim seguem os irmãos Carati e seus circunstantes, conduzindo a segunda metade do século 20 na Itália. O artifício não é novo, nem mesmo para Giordana que defende vivamente que a história "grande" se faz de pequenas histórias humanas --e poderia ter resultado caricatural, se julgarmos improvável que um pequeno núcleo de pessoas pudesse concentrar tantos símbolos da época.

O que permite que os personagens (encarnados com mestria) pareçam pessoas, e não emblemas, é sua densidade psicológica, que, somada a um "leitmotiv" subjacente e o contraste entre a liberdade e sua privação, salva o filme de se tornar um "novelão".

Essas mesmas qualidades levaram ao "congelamento" da série. "Os dirigentes da RAI ficaram muito satisfeitos e comovidos. Mas a rede perdera muito público com uma série de programas errados, e os mesmos que haviam amado 'A Melhor Juventude' tiveram medo. Aristocrático demais, refinado demais...", relembra.

E assim, incidentalmente, o filme foi parar primeiro na tela de cinema, mais exatamente, do Festival de Cannes, onde levou o prêmio da seção "Un Certain Regard". Daí à carreira de sucesso nas salas européias foi um pulo. "Nunca estive tão ocupado", diz, surpreso. Em tempo: o "produto" será exibido, em quatro episódios, pela RAI 1, em dezembro.

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