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28/10/2003 - 12h26

"Não temos que temer responsabilidades", diz ministro Gilberto Gil

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SILVANA ARANTES
Enviada Especial da Folha de S.Paulo a Brasília

De acordo com prazo anunciado pelo ministro José Dirceu (Casa Civil), estaria pronto, hoje, o decreto que transformará a Ancine (Agência Nacional do Cinema) em Ancinav (Agência Nacional do Cinema e Audiovisual).

A medida é um sinal de prestígio ao Ministério da Cultura, que reivindicou (e obteve no último dia 13) a vinculação da agência à sua estrutura (a Ancine estava instalada na Casa Civil) e a ampliação do raio de ação da agência, para abarcar, além do cinema, também a TV. Na semana passada, o ministro Gil recebeu a Folha de S.Paulo em seu gabinete, em Brasília, para a seguinte entrevista.

Folha de S.Paulo - Ao chamar para o MinC a função de regular a televisão, o sr. não teme a responsabilidade de ter de opinar desde a definição do modelo de TV digital a ser adotado no país até a pertinência ou não de determinado programa dominical ser impedido de ir ao ar?

Gilberto Gil - Não acredito que tenhamos que temer responsabilidades. Temos é que estar preparados para assumi-las. A questão fundamental é termos equipe, estrutura. A reforma que fizemos [na estrutura do MinC, em agosto] precisa ser complementada com a disponibilidade de pelo menos 150 novos cargos ao ministério. Estamos insistentemente colocando isso para o governo.

Folha de S.Paulo - O desafio não é grande demais para uma pasta que reivindica ter 1% do orçamento da União?

Gil - Vamos pensar em chegar lá. É a mesma questão de uma família que tem dez filhos e uma casa de dois quartos, onde a necessidade de cinco quartos é premente. Não havendo condições para que se tenha logo os cinco quartos da casa, busca-se um terceiro num primeiro momento. Saímos de 0,2% do orçamento neste ano para quase 0,4% no próximo ano. Vamos continuar lutando para atingir 1% pelo menos no quarto ano. Há áreas do governo que dizem que não adianta termos 1%, porque não saberemos e não estaremos preparados para gastar.

Folha de S.Paulo - São áreas coordenadas pelo ministro Antonio Palocci (Fazenda)?

Gil - [Risos] São algumas áreas do governo.

Folha de S.Paulo - A vinculação da Ancine ao MinC, objetivo expresso por sua pasta desde o primeiro dia de gestão, tardou dez meses. O sr. tolera os prazos da gestão federal?

Gil - Tenho uma compreensão muito clara da lentidão natural das máquinas de governo. O governo de Lula, o seu grupo chega pela primeira vez ao governo. Além da lentidão natural da máquina, há um problema de adaptação do grupo às tarefas governamentais, o que faz com que esses tempos iniciais de governo sejam mais lentos, mais difíceis.

Folha de S.Paulo - Isso não é indício de que não haverá tempo para cumprir todos os objetivos anunciados, como a criação de 80 casas de cultura?

Gil - A dificuldade prática do ministério não deve ser fator inibitório da conceituação sobre o que deve ser feito, do sonho de realizar, do fato de nos permitirmos pensar vários projetos em várias áreas. Pelo contrário, é exatamente a dificuldade, a lentidão, a escassez de recursos que nos obrigam a ter projetos em quantidade e qualidade, para que pelo menos alguns deles possam ser feitos.

Folha de S.Paulo - O presidente da Ancine, Gustavo Dahl, diz que não há racionalidade na distribuição de dinheiro público através das leis de incentivo à cultura, porque elas não exigem nenhum resultado dos projetos apoiados.

Gil - A crítica ao mecanismo dito neoliberal de leis de incentivo fiscal vem sendo feita, na campanha eleitoral, antes da posse do presidente, depois da posse e, amplamente, agora, através dos 18 seminários que promovemos no Brasil [para discutir políticas de cultura]. Obviamente é preciso ancorar as leis de incentivo às políticas públicas da cultura, evitando um demasiado "laissez faire laissez passer", gerido, entre aspas, autonomamente pelo mercado.

Folha de S.Paulo - Observadores de sua gestão dizem que o sr., sendo filiado ao PV, adota uma forma de fazer política distinta da do PT.

Gil - E é mesmo. [Uma forma] Mais leve, mais light, mais bailarina, mais dançarina. Tento fazer política com as minhas características pessoais e do meu campo político, que são a suavidade, a diplomacia, a paciência, mas também a comprovação das teses através da racionalidade, da justificativa técnica, cultural, enfim, usando argumentação.

Folha de S.Paulo - No ministério, o sr. teme colocar sua biografia em risco?

Gil - Não tenho problema com minha biografia. Estou preocupado com meu bem-estar no dia-a-dia da gestão. Quero saúde para mim e saúde pública no ministério. Para isso, me empenho na melhor postura ética, política, na melhor negociação, no melhor nível de diálogo.
 

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