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22/11/2003 - 04h15

Troca de e-mails entre namorados torna atual o romance epistolar

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MARCELO PEN
Crítico da Folha de S.Paulo

Enfrentando a máxima de Álvaro de Campos e Fernando Pessoa, de que "todas as cartas de amor são ridículas", Betty Milan escreveu uma narrativa baseada não em missivas, mas em e-mails trocados por um casal de enamorados. Ou seja, o e-mail é a matéria-prima do romance epistolar de nosso tempo.

Clara é uma jornalista brasileira que, correspondente em Paris, apaixona-se pelo professor universitário Sébastien. Trata-se de um amor maduro. Tanto um quanto o outro poderiam dizer, inspirados em Elizabeth Browning: "Amo-te com o amor que senti perder com meus santos perdidos".

Sébastien, por exemplo. Casou-se com uma mulher frígida. Sem querer traí-la, absteve-se do sexo durante anos. Clara representa o seu reencontro com os prazeres vêneros. Mas, segundo a brasileira, o amor entre eles deve transcender a carne: "Não existe amor (...) quando só o gozo importa".

Findo o trabalho de Clara em Paris, ela retorna ao Brasil. A troca de e-mails marca o compasso de espera, antegozo e angústia dos amados, enquanto aguardam o jornal reenviar sua repórter à capital francesa.

Nesse meio tempo, Clara responde a e-mails de leitores às voltas com aflições amorosas. A maioria encontrou sua contraparte na internet. Ao contrário do percurso de Clara e Sébastien, que se conhecem de fato para depois se relacionarem pela via eletrônica, os queixosos sentem dificuldade em passar da virtualidade à realidade.

Mas os conflitos dos leitores parecem mais concretos que os dos protagonistas. Como os enamorados de Platão, que julgam encontrar a metade perdida de si no outro, Clara e Sébastien pairam acima das vicissitudes da vida.

A indistinção já se expressa no título: o amante brasileiro é, na verdade, um francês. Cada um acredita encontrar os sinais da nacionalidade do outro em seu país. Sébastien ouve os sinos badalarem no ritmo do samba e vê o Sena adquirir a cor da garapa. Se ele se sente brasileiro, Clara devolve: "Nós dois somos parisienses".

No fim, nem Paris nem Rio. Eles almejam a Grécia mítica, o berço do sentimento sublime. Também se comparam a Papagueno e Papaguena, os namorados de "A Flauta Mágica", tão parecidos que até no nome se espelham.

Cegada pelo amor, Clara aconselha os leitores em suas dores amorosas. Os padecimentos dos últimos estão imersos no mundo: perversões, culpas, brigas, desilusões. Com os queixosos e com o editor de Clara, que fala da violência urbana, forja-se nossa ligação à realidade.

O inimigo dos amantes é o cotidiano, conforme diz Clara a Sébastien: "Você e eu somos parceiros de sonhos, porque nenhum se deixa devorar pela realidade". O amor é uma embarcação frágil, que navega mais facilmente nas linhas etéreas da grande rede eletrônica do que no mar traiçoeiro da vida como ela é.

Avaliação:

O Amante Brasileiro
Autor: Betty Milan
Editora: A Girafa
Lançamento: dia 25, a partir das 19h, na Livraria Cultura - Conjunto Nacional (r. Padre João Manuel, 40, loja 151; tel. 0/ xx/11/3285-4033) Quanto: R$ 26 (152 págs.)
 

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