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28/11/2003 - 12h59

"Let It Be... Naked" mostra os Beatles em busca de suas velhas raízes

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GUILHERME GORGULHO
da Folha Online

Mais uma vez, depois de "Live at the BBC" e da série "Anthology", os beatlemaníacos tem um bom motivo para gastar seus tostões. Chegou às lojas na semana passada "Let It Be... Naked", uma nova versão do disco lançado em 1970 que pretende mostrar ao público o som original que a banda buscava na época.

Diferentemente dos discos póstumos com sobras de estúdio e gravações raras até agora lançados, "Let It Be... Naked" apresenta as conhecidas gravações do LP "Let It Be" sem a produção exagerada criada por Phil Spector.

O disco foi remasterizado e traz uma qualidade sonora muito superior ao lançamento original. Os principais destaques são as canções "The Long and Windining Road", "Let It Be", "Across The Universe" e "I Me Mine", que receberam arranjos com orquestra e até coral no disco de 1970, e que agora podem ser ouvidas originalmente como foram criadas.

Reprodução

Capa do disco dos Beatles "Let It Be... Naked"
Excluindo-se sopros, cordas e vocais, também fica nítida a importância do trabalho do pianista americano Billy Preston no disco. Preston --velho conhecido dos Beatles que já havia tocado com nomes como Little Richard e Ray Charles--, emprestou sua competência ao grupo e ainda ajudou a quebrar o clima tenso. O maravilhoso som do órgão tocado por Preston foi definitivo em algumas das faixas do disco, como "Get Back" e "Don't Let Me Down" --lançada na época somente como single e incluída na nova versão.

Projeto abortado

A idéia original dos Beatles era realizar um filme sobre o processo de criação de um disco, com todos os passos da banda nos ensaios sendo registrados. Depois, ele pretendiam apresentar as músicas novas em um show --o primeiro em quase três anos--, que acabaria se transformando em um disco ao vivo.

Mas o momento era de tensão entre os membros do grupo. Não havia mais a mesma sintonia de tempos idos e a relação pessoal estava desgastada, a ponto de George Harrison ter deixado a banda em razão de divergências com Paul McCartney --voltando logo em seguida por insistência dos parceiros.

As idéias mirabolantes de realizar o show fora do Reino Unido, em um barco ou em um anfiteatro, foram abolidas. A apresentação acabou sendo feita no topo do prédio da gravadora Apple naquele janeiro de 1969 e algumas destas gravações entraram no disco.

Adiamento

Com todos estes contratempos, e à espera da finalização do filme dirigido por Michael Lindsay-Hogg, "Let It Be" acabou ficando na gaveta, sendo lançado somente depois de "Abbey Road".

McCartney nunca ficou satisfeito com o trabalho feito por Phil Spector em suas músicas e, somente agora, 34 anos depois, a idéia concebida originalmente chega ao público.

A clareza com que se ouve os instrumentos e as vozes em "Let It Be... Naked" é muito superior ao trabalho lançado em CD na década de 1980, nos primórdios desta mídia digital.

Sem o famoso "wall of sound" de Spector, o disco soa muito mais espontâneo e cru, algo que a banda queria experimentar depois das grandes produções de "Revolver", "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band", "Magical Mistery Tour" e do "Álbum Branco".

Apesar do louvável trabalho de "limpeza" e da busca pela "pegada" original de John, Paul, George e Ringo naquele inverno londrino, na nova versão foram excluídos diálogos e duas faixas mais descontraídas: "Maggie Mae" e "Dig It".

Para compensar a ausência, um disco bônus com cerca de 20 minutos foi acrescentado ao pacote, trazendo pequenos trechos de conversa e canções durante os ensaios.

Alguns deles são bastante curiosos, apesar de curtos. "Because I Know You Love Me So" e "Fancy My Chances With You" eram velhas canções feitas por Lennon e McCartney no começo da banda que acabaram ficando para trás sem nunca terem sido registradas, e "Taking A Trip To Carolina" foi mais uma tentativa frustrada de Ringo Starr de produzir algum material próprio.

Em contrapartida, surgem neste bônus embriões de faixas que só seriam gravadas nas carreiras solos dos integrantes dos Beatles. É possível conhecer um princípio de "All Things Must Pass", de Harrison --gravada no ano seguinte no álbum homônino--, e até mesmo a letra original de "Jealous Guy", de Lennon --do LP "Imagine" (1971)--, até então batizada de "Child of Nature".

Mas o ouvinte pode se decepcionar se espera ouvir a alardeada "versão beatle" para o clássico "Imagine" de Lennon. A faixa "John's Piano Piece", de 18 segundos, é composta apenas de alguns acordes que lembram vagamente a canção.

O gosto de novidade neste lançamento, no entanto, é mais para o grande público, o mesmo que fez da coletânea "1" --lançada em 2000-- um grande sucesso sem ter absolutamente nada de novo. Para os fãs de carteirinha, o material em "Let It Be... Naked" é apenas uma pequena amostra oficial de um vasto material lançado em inúmeros "bootlegs" ao longo destas três décadas.

"LET IT BE... NAKED"
Artista: The Beatles
Lançamento: EMI
Quanto: R$ 38
 

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