Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
18/12/2003 - 05h10

Com "Xuxa em Abracadabra", Moacyr Góes lança seu 3º longa no ano

Publicidade

SILVANA ARANTES
da Folha de S.Paulo

Moacyr Góes, 44, iniciou este ano como um diretor com duas décadas de experiência no teatro e nenhuma realização no cinema.

Amanhã, quando estréia seu terceiro longa-metragem ("Xuxa em Abracadabra"), Góes se confirma como o mais produtivo cineasta brasileiro de 2003, que não é um ano qualquer na história do cinema nacional --há sete títulos brasileiros entre os 20 mais vistos.

"Maria - Mãe do Filho de Deus", produção de temática religiosa que tem no padre Marcelo Rossi seu maior chamariz, foi o segundo filme de Góes a estrear (em outubro) e ocupa o 13º lugar na lista dos campeões de público (2,2 milhões de espectadores).

"Dom", baseado no clássico "Dom Casmurro", de Machado de Assis (1839-1908), chegou às telas um mês antes de "Maria", ambicionando conquistar uma platéia de jovens adultos com alto poder aquisitivo. Mas a "Dom" faltou tanto o aval da crítica como o do público --ficou longe dos 500 mil espectadores pretendidos.

"Xuxa em Abracadabra" é potencialmente um sucesso popular. Com lançamentos anuais, a apresentadora Xuxa Meneghel mantém-se entre as melhores bilheterias de filmes brasileiros.

No ano passado, "Xuxa e os Duendes" foi o único filme brasileiro a ultrapassar a marca de 1 milhão de espectadores, além do fenômeno "Cidade de Deus", de Fernando Meirelles e Katia Lund (3,2 milhões).

A produção em série de Góes é fruto das ambições industriais do produtor Diler Trindade. Com uma base de produção no Pólo de Cinema e Vídeo, em Jacarepaguá, no Rio, Trindade usa no cinema a fórmula do ganho em escala --elimina as perdas da ociosidade e usufrui das vantagens de manter uma (mesma) equipe sempre operante.

Seus filmes raramente ultrapassam as quatro semanas de filmagens, concentradas em estúdio, e com edição simultânea. À medida que são filmados, os rolos seguem para a sala de montagem, capitaneada pelo editor João Paulo de Carvalho.

Seguindo essa receita, Góes dirigiu, além dos três longas lançados em 2003, também "Um Show de Verão", este estrelado pela apresentadora Angélica e com lançamento previsto para o início de 2004.

"Não tive nenhum problema de consciência com isso", diz o cineasta, referindo-se ao fato de integrar um formato de produção cinematográfica de declarada ambição comercial.

"O que precisa ser redito é que nem o cinema autoral deve temer o comercial, nem o comercial deve ficar com pruridos de assumir a sua intenção. Se tiver alguém preconizando uma certa normatização da produção, é uma atitude fascista. Tem que ter lugar para tudo", afirma.

Góes diz que, quando aceitou o convite de Trindade para dirigir a série de filmes, passou a estudar cinema assistindo produções de todas as vertentes. "Em 2002, vi cerca de 800 filmes, de Eisenstein a 'As Patricinhas de Beverly Hills'."

Embora tenha aprendido algo com a maratona --"Quando dirijo, sei o que quero. Pode até ser que o que eu queira não seja bom, mas sei o que é"-- Góes procura reproduzir no cinema que faz a mesma base em que assenta seu trabalho teatral: "Meu maior fascínio são os atores. Nos filmes, quis que eles [os atores] construíssem personagens que não fossem caricatos, que tivessem motivações reais para agir da maneira como agem".

Com essa preocupação, o diretor diz que interferiu nos roteiros de todos os filmes, aspecto que considera o mais frágil na produção cinematográfica brasileira. "Ainda se escreve muito pensando na fala, não na imagem. A gente não faz roteiro para cinema."

Naturalismo

Da vizinhança do cinema com a TV, Góes diz haver sentido os reflexos em "Maria", ou na avaliação que parte da crítica fez do filme. "A preocupação que eu tinha é que fosse um drama humano. Procurei um tom de interpretação próximo, intimista. A muitos isso soou meio televisivo. Quando a gente vê um filme estrangeiro que tem esse tom, é um filme delicado. Quando esse tom é pesquisado aqui, é uma influência da televisão. Entendo isso, porque a TV adquiriu um know-how a respeito do naturalismo muito grande e muito entranhado na nossa cabeça", afirma.

Em "Xuxa em Abracadabra", diz que tentou fugir do tom "caricato" que enxerga nas produções infantis brasileiras.

Com seus quatro longas no currículo, Góes encerra o ano de 2003 com a intenção de dirigir uma peça teatral e sem produções cinematográficas acertadas para 2004. Suas discussões mais avançadas são para filmar o segundo longa do padre Marcelo Rossi, dedicado à história dos apóstolos.

"Em 20 anos de carreira, é meu primeiro dezembro desempregado, sem projeto certo", diz. É também o primeiro como cineasta.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página