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09/01/2004
-
18h09
JOSÉ GERALDO COUTO
colunista da Folha
Rogério Sganzerla, que tinha apenas 22 anos quando realizou "O Bandido da Luz Vermelha" (1968), qualificava-o como "faroeste do Terceiro Mundo".
A definição é brilhante, mas incompleta. Quanto mais o tempo passa, mais o "Bandido" se revela um prodígio de muitas faces.
Filho extraviado do cinema novo, Sganzerla realizou em seu longa de estréia uma síntese radicalmente pessoal de muitas vertentes: o cinema clássico norte-americano, a nouvelle vague francesa, a chanchada brasileira, as narrativas radiofônicas, as histórias em quadrinhos, a ficção científica e mais uma porção de coisas que nunca acabamos de descobrir.
Em lugar dos camponeses, operários e intelectuais do cinema novo, Sganzerla punha em cena um anti-herói saído do lumpesinato, retratando de modo muito mais preciso o caos e o lixo produzidos pela modernização conservadora do país.
O cineasta teve a idéia do filme voltando ao Brasil depois de um giro pela Europa. Quando começava a julgar a idéia fantasiosa demais, caiu-lhe nas mãos um jornal popular narrando as façanhas de um assaltante mascarado que aterrorizava São Paulo. Realidade e fantasia rivalizavam.
Na Boca do Lixo paulistana, Sganzerla encontrou o ambiente ideal para contar a história de seu bandido, e no "Humphrey Bogart caboclo" Paulo Villaça o ator perfeito para encarná-lo.
Colocou em sua boca falas proféticas, perturbadoras: "O Terceiro Mundo vai explodir", "Quem tiver sapato não sobra", "Quando a gente não pode fazer nada, a gente avacalha".
O "Bandido da Luz Vermelha" subverteu valores, satirizou a política e a moral, redefiniu a paisagem urbana, justapôs o arcaico e o futurista.
Colagem de linguagens e referências, orquestradas por uma magnífica montagem de inspiração plástica e musical, é uma obra ao mesmo tempo popular e de vanguarda, uma obra-prima que não pára de nos maravilhar.
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"O Bandido da Luz Vermelha" sintetiza o caos do Terceiro Mundo
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colunista da Folha
Rogério Sganzerla, que tinha apenas 22 anos quando realizou "O Bandido da Luz Vermelha" (1968), qualificava-o como "faroeste do Terceiro Mundo".
A definição é brilhante, mas incompleta. Quanto mais o tempo passa, mais o "Bandido" se revela um prodígio de muitas faces.
Filho extraviado do cinema novo, Sganzerla realizou em seu longa de estréia uma síntese radicalmente pessoal de muitas vertentes: o cinema clássico norte-americano, a nouvelle vague francesa, a chanchada brasileira, as narrativas radiofônicas, as histórias em quadrinhos, a ficção científica e mais uma porção de coisas que nunca acabamos de descobrir.
Em lugar dos camponeses, operários e intelectuais do cinema novo, Sganzerla punha em cena um anti-herói saído do lumpesinato, retratando de modo muito mais preciso o caos e o lixo produzidos pela modernização conservadora do país.
O cineasta teve a idéia do filme voltando ao Brasil depois de um giro pela Europa. Quando começava a julgar a idéia fantasiosa demais, caiu-lhe nas mãos um jornal popular narrando as façanhas de um assaltante mascarado que aterrorizava São Paulo. Realidade e fantasia rivalizavam.
Na Boca do Lixo paulistana, Sganzerla encontrou o ambiente ideal para contar a história de seu bandido, e no "Humphrey Bogart caboclo" Paulo Villaça o ator perfeito para encarná-lo.
Colocou em sua boca falas proféticas, perturbadoras: "O Terceiro Mundo vai explodir", "Quem tiver sapato não sobra", "Quando a gente não pode fazer nada, a gente avacalha".
O "Bandido da Luz Vermelha" subverteu valores, satirizou a política e a moral, redefiniu a paisagem urbana, justapôs o arcaico e o futurista.
Colagem de linguagens e referências, orquestradas por uma magnífica montagem de inspiração plástica e musical, é uma obra ao mesmo tempo popular e de vanguarda, uma obra-prima que não pára de nos maravilhar.
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