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28/01/2004 - 08h43

"Cidade de Deus" muda paradigma brasileiro

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SÉRGIO DÁVILA
da Folha de S.Paulo

É "Cidade de Deus" --e não "Carandiru"-- o "Pixote" deste ano nos Estados Unidos. O thriller-de-morro de Fernando Meirelles conquistou o espaço destinado ao Brasil no imaginário dos acadêmicos do Oscar, que desde sempre têm a obra-prima de Hector Babenco de 1981 como paradigma. Dessa maneira, as improváveis quatro indicações do filme brasileiro consolidam o revezamento do cetro: sai o império do brasileiro-argentino, consolida-se o de Walter Salles.

Walter Salles, sim, pois é dele a produção de "Cidade de Deus" e é muito por sua influência o fato de a Miramax ter optado pelo azarão para fazer lobby junto aos votantes do prêmio. (Todos os anos o estúdio dos irmãos Weinstein tem um leque muito amplo de longas a ser trabalhados nas indicações. Os que eles escolhem é sempre questão política.)

Aliás, era do diretor do inédito "Diários de Motocicleta" a última indicação de um longa brasileiro de ficção ao prêmio norte-americano, que trazia também uma surpresa: "Central do Brasil" conseguira emplacar em 1999 as categorias filme estrangeiro e atriz, para Fernanda Montenegro --ambas perdidas, respectivamente para "A Vida É Bela", de Roberto Benigni, e Gwyneth Paltrow ("Shakespeare Apaixonado", da mesma Miramax).

Ironia das ironias, "Cidade de Deus" foi o pré-indicado pelo governo brasileiro ao Oscar do ano passado e solenemente ignorado pelos acadêmicos, que nem sequer o escolheram como um dos cinco finalistas. (O premiado seria o alemão "Lugar Nenhum na África", atualmente em cartaz em São Paulo.) Melhor fez o Globo de Ouro, que colocou o longa entre os finalistas de 2002, mas, na hora agá, optou por premiar o espanhol Pedro Almodóvar e seu belíssimo "Fale com Ela".

Eles apenas cumprem uma tradição: o próprio "Pixote" nem sequer chegou a concorrer entre os cinco estrangeiros no Oscar de 1982, sendo só indicado ao Globo de Ouro do ano anterior (perdeu para o britânico "Carruagens de Fogo"). Mas Babenco seria compensado depois, com as quatro indicações ao Oscar por "O Beijo da Mulher Aranha": perdeu direção, filme e roteiro adaptado, mas levou melhor ator (William Hurt, realmente magnífico).

Só as indicações de ontem já são uma vitória e coroam de certa maneira a retomada do cinema brasileiro, que em 2003 viu sua platéia doméstica explodir, mas realisticamente Meirelles e seu filme têm mais chances em fotografia (o outro favorito é "Cold Mountain") e montagem (a briga é com "O Senhor dos Anéis"). As mais nobres direção e roteiro adaptado devem ficar mesmo entre, respectivamente, Clint Eastwood e Peter Jackson e "Sobre Meninos e Lobos" e "O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei".

De resto, a categoria "filme estrangeiro" cumpriu a tradição e surpreendeu todos os prognósticos. A única escolha óbvia foi "Invasões Bárbaras", a delicada continuação de "O Declínio do Império Americano" do canadense Denys Arcand, que é desde já o favorito. Ficaram de fora o afegão "Osama", que havia sido premiado no último domingo com o Globo de Ouro, o francês "Monsieur Ibrahim" e o alemão "Adeus, Lênin!", também em cartaz atualmente em São Paulo.

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