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23/02/2004 - 04h04

Coletivo 3Nós3 é referência para arte nas ruas

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da Folha de S.Paulo

Em 1979 três homens cobriram com plástico de lixo azul diversas estátuas da cidade. Hudinilson Urbano Junior havia traçado sobre o xerox das páginas de um guia de São Paulo um percurso com caneta vermelha. Do bairro do Ipiranga até o centro velho da cidade, Hudinilson, Mário Ramiro e Rafel França cobririam todas as obras isoladas das ruas por onde passassem.

A intervenção simbolizava o "esquecimento" das esculturas da cidade. Torná-las "invisíveis", cobertas com plástico, era resgatar sua visibilidade. Como em outras intervenções do coletivo, sempre noturnas, as pessoas ficavam sabendo da ação só na manhã seguinte, por meio da imprensa.

Segundo Ramiro, os jornais receberam de manhã telefonemas de pessoas que exigiam "esclarecimentos" sobre a situação daquelas estátuas.

Virou notícia. Os "ensacamentos" foram um desdobramento midiático da obra. "Além de sua presença física na malha urbana, as intervenções passaram a existir também como intervenções nos meios de comunicação. Os materiais instalados por nós eram retirados logo cedo pelas autoridades e, de todo o trabalho, o que restava era apenas uma informação, uma matéria jornalística", diz Ramiro.

No ano seguinte, o grupo, durante algumas madrugadas, fez desenhos sobre a cidade com mais plástico. "Usávamos a planta da cidade como uma folha de papel, e o plástico esticado era um desenho. Foram cem metros "vermelhos" na avenida Paulista e 150 metros "amarelos" na [avenida] Sumaré", lembra Hudinilson.

Outra intervenção noturna histórica foi a vedação das portas das principais galerias de arte de São Paulo com um "x" de fita crepe. Ao lado, escreviam a máxima: "Tudo o que está dentro fica, tudo o que está fora se expande".

Foram os últimos anos da década de 70, marcados pela passagem da arte conceitual para uma vontade de integração com a vida em toda sua dimensão, através da ocupação de cada esquina da cidade.

Com a chegada dos anos 80, houve um grande refluxo da arte conceitual. Ainda assim, dessa costura do espaço público com os meios de telecomunicação surgiram diversos coletivos.

"O que a gente fez não foi nada original. É verdade que a gente tinha aquela referência da "landart" [intervenções espaciais na natureza], mas é importante lembrar que a gente estava vinculado a uma tradição nossa, underground brasileira, da intervenção urbana do Arthur Barrio e Oiticica", observa Ramiro.

Apesar de serem localizadas e de curto alcance, como a faixa de tecido colocada transversalmente numa avenida que bloqueava o trânsito, retiradas antes do amanhecer, ficou claro para o trio que havia um grande potencial dos meios de comunicação e sobretudo das telecomunicações a ser explorado através da arte.

Ramiro, que hoje não gosta de ser chamado de "artista multimídia", é professor da Escola de Comunicação e Artes da USP.
 

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