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29/02/2004 - 08h05

Comentário: Enrolem as bandeiras verde-amarelas

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INÁCIO ARAUJO
Crítico da Folha de S.Paulo

Talvez seja mais conveniente tirar a decoração verde-amarela da sala e enrolar as bandeiras, até porque as chances de "Cidade de Deus" ganhar um prêmio são remotas, e com isso evitam-se decepções maiores.

Há um outro motivo, talvez o principal: arte não é uma competição esportiva, como bem lembrava o velho e bom George C. Scott, que não compareceu à cerimônia em que ganhou o seu Oscar de melhor ator, por "Patton - Rebelde ou Herói".

É verdade que a Academia fomenta essa idéia de competição, que acaba sendo bem aceita pelo povo, em geral adoradores de competições --da Copa do Mundo ao jogo de bingo, vale tudo.

O Oscar é, em parte, um truque publicitário. Mas o essencial da coisa está nesse "em parte", justamente. O que esse prêmio tem de muito especial é o fato de representar com razoável exatidão o que as pessoas ligadas à indústria de Hollywood pensam a respeito de seu próprio trabalho. É muito diferente de um júri dos festivais de cinema de Cannes ou de Veneza, por exemplo.

O Oscar de 2003 apresenta uma dispersão considerável nos prêmios principais. "Cold Mountain" é, em princípio, o único "filme de Oscar" na parada (filmes "sérios", dramáticos, com freqüência sobre cientistas loucos ou pessoas com problemas físicos, feitos para aparecer no Oscar).

"Mestre dos Mares - O Lado Mais Distante do Mundo" e "O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei" entram na cota das grandes produções. Se um deles ganhar, especialmente o segundo, quer dizer que a Academia está querendo referendar aquilo que a bilheteria já consagrou.

As chances de "Sobre Meninos e Lobos" vêm mais do tema (pedofilia, muito popular no momento nos Estados Unidos) do que do belíssimo trabalho de Clint Eastwood. "Encontros e Desencontros", de Sofia Coppola, é um pequeno filme independente --mas não um típico, consagrado, como era o "Fargo" dos irmãos Coen, que ganhou Oscar de roteiro original em 1997.

Em certas outras categorias importantes, como de melhor atriz, a mesma dispersão: há gente da Austrália, da Inglaterra, da África do Sul. Dada essa dispersão, "Cidade de Deus" pode até não levar nada, mas a sua presença será importante para aumentar ou preservar o interesse em torno de filmes brasileiros. No exterior, mas sobretudo no Brasil mesmo, onde com a mesma velocidade agitamos bandeiras e, no momento seguinte, damos com o pau da própria na cabeça do freguês.

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