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25/03/2004 - 03h30

Livro põe 100 escritores para fazer ficção com até 50 letras

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CASSIANO ELEK MACHADO
da Folha de S.Paulo

Apenas com este mirrado conjunto de 50 letras usado até aqui (OK, pode parar e contar) é possível fazer uma história com começo, meio e fim --ou, ao menos, com algum dos três.

Um grupo de cem escritores brasileiros comprova. Alistados pelo escritor, agitador cultural e microcontista Marcelino Freire, autores de todas as regiões do país, iniciantes ou calejados, machos ou fêmeas, romancistas ou poetas seguiram os caminhos do guatemalteco Augusto Monterroso (1921-2003), autor do miniconto mais famoso do mundo: "Quando acordou, o dinossauro ainda estava lá".

O resultado é "Os Cem Menores Contos Brasileiros do Século", que Freire lança pela Ateliê Editorial no dia 12 de abril, na livraria do Espaço Unibanco paulistano.

A regra é clara. Os requisitos eram: histórias inéditas, de até 50 letras, sem contar espaços, pontos e o título. Pândego como ele só, Millôr Fernandes aproveitou-se bem das brechas.

O título não conta? Então tascou um: "Emocionante relato do encontro de teodoro ramirez, comandante de um navio misto, de carga, passageiros e pesca, do caribe, no momento em que descobriu que a bela turista inglesa era, na verdade, uma perigosa terrorista cubana, que tentava penetrar num porto do sul da flórida para dinamitar a alfândega local, e procurou forçá-la a favores sexuais". O miniconto, propriamente dito, era o seguinte: "--Capitão, tem que me estuprar em 1/2 minuto; às 8, seu navio explode".

"O título do conto do Millôr é um romance perto do resto do livro", brinca Marcelino Freire (é um "Ulisses", de James Joyce, perto do miniconto "Quatro Letras", de Raimundo Carrero, aqui reproduzido "na íntegra": "nada").

Millôr não é o único figurão do volume, que é apresentado por prefácio de 50 palavras de Italo Moriconi --organizador de "Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século" (Objetiva), com o qual brinca o título e o projeto gráfico de "Cem Menores". O "papa" do minimalismo nacional, Dalton Trevisan, bate o ponto; figurinhas tarimbadas como Moacyr Scliar e Manoel de Barros, também.

O esqueleto do livro, porém, é formado pelos nomes da chamada "Geração 90" (coletâneas organizadas por Nelson de Oliveira, ele incluído): Luiz Ruffato, André Sant'Anna, Fernando Bonassi, Marcelo Mirisola, Marçal Aquino, Ronaldo Bressane e Joca Reiners Terron (com paródia de Monterroso, sob o título "O Pesadelo de Houaiss": "Quando acordou, o dicionário ainda estava lá").

"Não é livro para tratado ou tese, é diversão", diz Marcelino Freire. Prova disso, alega, foi seu 1º Microconcurso de Contos, que tocou em seu blog (www.eraodito.blogspot.com) e do qual saíram cinco mini-histórias do livro. "Peguei os minicontos inscritos, fui ao boteco e juntei um júri com o Bressane, o Joca, a Indigo e mais uns bêbados que estavam por lá", relata. "Depois dizem que isso não é vida literária. O que é, então? Comer croissant em Paris?"

A "vida literária" de Freire não tem sido só em torneios litero-etílicos. O autor pernambucano "está em todas", do Encontro de Novos Narradores em Bogotá (Colômbia), em novembro passado, até a Festa Literária Internacional de Parati (esteve na edição passada como "flipenetra"; desta vez, em julho, é convidado oficial).

Autor de livros de contos como "Angú de Sangue" e "BaléRalé" (para a série que coordena na Ateliê Editorial, LêProsa), Freire já militara até na microficção: assinou "30 Microcontos para Você Ler no Intervalo da Novela" na Coleção 5 Minutinhos, minilivros que distribuiu de graça por aí.

"Cem Menores Contos..." faz parte da mesma coleção, ainda que não seja gratuito (terá capa dura e será vendido, a preço a definir) e que tome muito mais do que um quinteto de minutos para ser lido. Telefones e e-mails desligados, a Folha levou 11 minutos para enfrentar os cem contos.

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