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02/04/2004
-
04h51
FERNANDO DE BARROS E SILVA
Editor de Brasil da Folha de S.Paulo
Monique Gardenberg fez uma opção clara pelo espírito que anima o livro de Chico Buarque. Evitou transformá-lo numa obra de impacto e apelo mais fácil, num produto para exportação, tentações comuns nestes tempos em que a auto-proclamada maioridade do cinema nacional se confunde com um bilhete de ingresso na festa do Oscar.
"Benjamim" resultou num belo filme. É provável que seja recebido com certa frieza exatamente pelas qualidades que exibe: a trama amorosa que amarra passado e presente e Benjamim Zambraia a Castana Beatriz/Ariela Masé não se impõe como melodrama sobre as demais dimensões do enredo; o retrato do Rio de Janeiro não tem nada de cartão-postal.
"Benjamim" é narrado menos pelos acontecimentos do que pelos pensamentos atormentados de Zambraia, preso ao fantasma de seu passado, que busca redimir sem ter consciência disso.
O filme, como disse a diretora, transcorre a um palmo do chão.
A atuação de Paulo José no delicado papel do protagonista é primorosa, talvez o ponto alto da adaptação. Seu Zambraia é composto de gestos mínimos, vacilantes, exprimem não só sua fragilidade, mas uma espécie de estado mineral a que está condenado. O resto de dandismo do personagem o coloca numa relação muito particular com o tempo e o subtrai do espaço à sua volta.
Também muito positiva é a estréia de Cleo Pires no duplo papel de Castana/Ariela. É particularmente feliz e sem afetações a mistura entre inocência e arrivismo que ela obtém interpretando a corretora de imóveis que traz o passado de Zambraia à tona.
Gardenberg filma os anos 60 com cores berrantes e imagens granuladas. A câmera, mais estática, parece compor quadros de uma época feliz, fantasiosa. Já as imagens do presente têm cores menos intensas e cenas mais agitadas. A fotografia de Marcelo Durst conseguiu nesse contraste um belo efeito de linguagem. A trilha, que também opera nesse duplo registro, é outro destaque.
"Benjamim" não é um filme genial, que arrebate. Mas parece ir se tornando melhor à medida que nos distanciamos da sessão. Provoca um encanto retardado, que o aproxima da boa literatura.
Avaliação:
Benjamim
Direção: Monique Gardenberg
Produção: Brasil, 2003
Com: Cleo Pires, Paulo José
Quando: a partir de hoje nos cines Morumbi, Cinearte, Villa-Lobos e circuito
Leia mais
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Filme de Monique Gardenberg gera encanto retardado
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Editor de Brasil da Folha de S.Paulo
Monique Gardenberg fez uma opção clara pelo espírito que anima o livro de Chico Buarque. Evitou transformá-lo numa obra de impacto e apelo mais fácil, num produto para exportação, tentações comuns nestes tempos em que a auto-proclamada maioridade do cinema nacional se confunde com um bilhete de ingresso na festa do Oscar.
"Benjamim" resultou num belo filme. É provável que seja recebido com certa frieza exatamente pelas qualidades que exibe: a trama amorosa que amarra passado e presente e Benjamim Zambraia a Castana Beatriz/Ariela Masé não se impõe como melodrama sobre as demais dimensões do enredo; o retrato do Rio de Janeiro não tem nada de cartão-postal.
"Benjamim" é narrado menos pelos acontecimentos do que pelos pensamentos atormentados de Zambraia, preso ao fantasma de seu passado, que busca redimir sem ter consciência disso.
O filme, como disse a diretora, transcorre a um palmo do chão.
A atuação de Paulo José no delicado papel do protagonista é primorosa, talvez o ponto alto da adaptação. Seu Zambraia é composto de gestos mínimos, vacilantes, exprimem não só sua fragilidade, mas uma espécie de estado mineral a que está condenado. O resto de dandismo do personagem o coloca numa relação muito particular com o tempo e o subtrai do espaço à sua volta.
Também muito positiva é a estréia de Cleo Pires no duplo papel de Castana/Ariela. É particularmente feliz e sem afetações a mistura entre inocência e arrivismo que ela obtém interpretando a corretora de imóveis que traz o passado de Zambraia à tona.
Gardenberg filma os anos 60 com cores berrantes e imagens granuladas. A câmera, mais estática, parece compor quadros de uma época feliz, fantasiosa. Já as imagens do presente têm cores menos intensas e cenas mais agitadas. A fotografia de Marcelo Durst conseguiu nesse contraste um belo efeito de linguagem. A trilha, que também opera nesse duplo registro, é outro destaque.
"Benjamim" não é um filme genial, que arrebate. Mas parece ir se tornando melhor à medida que nos distanciamos da sessão. Provoca um encanto retardado, que o aproxima da boa literatura.
Avaliação:
Benjamim
Direção: Monique Gardenberg
Produção: Brasil, 2003
Com: Cleo Pires, Paulo José
Quando: a partir de hoje nos cines Morumbi, Cinearte, Villa-Lobos e circuito
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