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21/04/2004 - 08h18

Portugueses querem tirar etiquetas da literatura

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MARCELO PEN
crítico da Folha

Nem Saramago nem Lobo Antunes. Os novos autores portugueses não estão interessados nas questões coloniais ou pós-coloniais nem em pregar contra a globalização. Pelo menos a julgar pelo que dizem os escritores Filipa Melo, 31, e Rui Zink, 42, que lançam seus livros pela nova coleção "Tanto Mar", da editora Planeta, na Bienal do Livro de São Paulo.

Seus romances tratam de futebol, mídia, cultura pop e morte. Além disso, os dois querem mais do que se filiar à literatura portuguesa. Eles querem o mundo.

A morte é o tema que une os dois romances. Em "Este É o Meu Corpo", de Filipa, o encontro de um cadáver desfigurado de mulher é o ponto de partida para investigar o ser humano.

O livro tem longas cenas de dissecação, prática médica que exigiu da autora uma intensa pesquisa. "A imagem de um corpo voltado pelo avesso", afirma, "relaciona-se com minha idéia de que a morte é um momento de renascimento". Ela explica que, "quando alguém morre, começa uma nova vida, feita de memória".

Em "O Reserva", de Zink, um locutor esportivo distraído atropela e mata um garoto de quatro anos. A tragédia permite ao autor, por meio de um punhado de personagens, examinar diversos setores da sociedade portuguesa.

"A morte é um pretexto para falar da vida. Quero acompanhar a reação das personagens implicadas --o atropelador, a mulher e a amante dele; o pai, a mãe e o avô da criança-- e também da sociedade e da lei. O leitor vai reconhecer-se nalguma daquelas boas pessoas. Os grandes crimes são cometidos por boas pessoas."

O livro de Zink, que é professor da Universidade Livre de Lisboa e doutorando em HQs, foi adaptado para a edição brasileira. A começar pela troca do título lusitano, "O Suplente", que para nós parece ter conotação política.

Melo e Zink citam sem pestanejar alguns nomes da literatura brasileira contemporânea, como Adriana Lisboa, Bernardo Carvalho, Marilene Felinto. Também mostram admiração por Rubem Fonseca: "Pode-se dizer que é um mestre que influenciou a escrita portuguesa", comenta Zink.

Mas não conhecem os autores da chamada Geração 90 (Marçal de Aquino e Nelson de Oliveira, para citar dois). Do outro lado da balança, os brasileiros ignoram boa parte do que se passa no atual cenário literário português. Como acabar com essa ignorância?

Filipa Melo tem uma resposta na ponta da língua: a responsabilidade cabe à imprensa especializada. "Em Portugal se fala muito de uma irmandade com o Brasil; o que falta é existir essa irmandade. Os jornalistas de cultura têm um papel crucial nas pontes que se estabelecem entre as propostas literárias dos dois países."

Melo e Zink não gostam de ser etiquetados como "nova geração". Para Zink, "a cultura da novidade é perigosa. As alianças entre autores criam-se pela estética; o que se dá independentemente de geração ou nacionalidade".

Para Melo, "catalogar está fora de moda; é preciso tirar as etiquetas. É óbvio que meu romance é português, mas pode se passar em qualquer outro local". Zink também almeja um alcance maior: "Quero um leitor que viaje com o livro. As palavras são postas como pedrinhas escondidas sob a água, por cima das quais ele deve caminhar nesse maravilhoso oceano que é a inteligência do mundo".

Mas, voltando à importância de o leitor brasileiro vir a interessar-se pela ficção da "terrinha", Zink brinca: "Olha, nós temos o Deco [o jogador brasileiro Anderson Luís de Sousa], naturalizado português, temos uma moeda forte, o euro. Acho que está mais do que na hora de os brasileiros começarem a "amar" a nossa literatura!".

ESTE É O MEU CORPO
Autora:
Filipa Melo
Editora: Planeta
Quanto: R$ 25 (136 págs.)

O RESERVA
Autor:
Rui Zink
Editora: Planeta
Quanto: R$ 25 (280 págs.)

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