Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
05/05/2004 - 05h41

"Embaixador" do neoconcreto faz palestra em São Paulo

Publicidade

FABIO CYPRIANO
da Folha de S.Paulo

"Lygia Clark e Hélio Oiticica, incluindo Lygia Pape, foram responsáveis pelo grande salto na arte brasileira, nos anos 60, que contribuiu para estabelecer um novo patamar na história da arte, com participação do público e envolvimento do corpo", disse anteontem o crítico inglês Guy Brett.

A entrevista para a Folha ocorreu momentos antes da morte de Pape (1929-2004) ter sido anunciada, anteontem à noite. Brett, que faz hoje uma palestra sobre a arte brasileira nos anos 60 e suas relações com a situação internacional, está no Brasil para preparar a primeira edição em português de um livro seu, com o título provisório de "Brasil Experimental", justamente o nome da palestra de hoje. A publicação deve ser lançada durante a Bienal de São Paulo, em setembro próximo.

Com a morte de Pape, sua palestra promete se tornar um tributo à artista, um dos pilares do movimento neoconcreto, lançado em 1959. O evento é promovido pelo Instituto de Arte Contemporânea (IAC), previsto para ser inaugurado no final deste ano e, segundo a galerista Raquel Arnaud, que organiza o IAC, Pape havia sido convidada a remontar o "Ballet Neoconcreto", de 1959, na abertura do centro.

O neoconcretismo, liderado pelo poeta Ferreira Gullar, era uma reação ao movimento concreto, considerado demasiadamente racionalista, e pregava uma arte fundada em um novo espaço expressivo, mais ligada à vida cotidiana. A participação do público e a atenção ao corpo foram duas marcas do movimento, que geraram obras paradigmáticas na arte brasileira como "Bichos", de Lygia Clark (1920-1988), "Núcleos", de Hélio Oiticica (1937-1980), e "Livro da Criação", de Pape, que Brett considera "umas das mais importantes obras do abstracionismo na história da arte".

Foi em 1965, como correspondente do jornal inglês "The Times", que Brett esteve no Brasil pela primeira vez para cobrir a Bienal de São Paulo. Por meio do artista brasileiro Sérgio Camargo (1930-1990), que vivia na Europa, o jornalista travou contato com a "turma" neoconcreta, tornando-se amigo deles, especialmente de Clark e Oiticica. Brett ajudou Oiticica a realizar sua primeira mostra na Europa, em 1969, na galeria Whitechapel, de Londres.

"Eu realmente pensei que eles eram artistas importantes no contexto da arte contemporânea, ao introduzirem novos conceitos, como o da participação do público. E eu os vinculo a um grupo de artistas europeus que trabalham na mesma direção", diz Brett. Na palestra, o crítico irá comparar a obra de Oiticica do período a trabalhos do norte-americano Robert Morris, e a obra de Clark com a da alemã Eva Hesse.

"Em 1972, Morris fez uma exposição, na Tate, que pedia a participação do público, a única que realizou com essa intenção, assim como o fez Hélio, em 1969, na Whitechapel. É interessante observar as diferenças de cada mostra, mas que tinham um princípio parecido. E certamente Morris não conhecia o trabalho de Hélio, mas Hélio conhecia o trabalho dele, pois ele conhecia tudo", diz.

Apesar do estreito contato mantido com artistas brasileiros, Brett não gosta de ser visto como um brasilianista: "Nunca quis ser um especialista em arte brasileira. Nacionalidades, acredito, não são importantes em termos de estabelecer paradigmas artísticos". Entretanto, o crítico espera, com seu novo livro, "provocar alguma forma de discussão, a partir da reflexão de alguém do outro lado do mundo, com uma cultura diferente". Enquanto o livro não é publicado, a palestra de hoje já funciona como introdução.

BRASIL EXPERIMENTAL - Palestra com o crítico e curador inglês Guy Brett
Quando: hoje, 20h (com tradução)
Onde: Centro Universitário Maria Antonia (r. Maria Antonia, 294, tel. 0/xx/ 11/3255-7182)
Quanto: entrada franca
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página