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06/05/2004 - 07h37

Nova geração se firma e busca unidade com devoção à sétima arte

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EDUARDO VALENTE
especial para a Folha

A estréia na última sexta-feira de "De Passagem", de Ricardo Elias, apenas duas semanas depois do lançamento de "O Prisioneiro da Grade de Ferro", de Paulo Sacramento, muda o eixo de discussão do cinema nacional de volta para a arte cinematográfica e seus realizadores --depois de um 2003 todo em torno de números, estatísticas e Globo Filmes e um 2004 que começou na onda do Oscar.

Mas o mais importante é saber que a força desses dois filmes está para além do que representam individualmente: o que sua presença simultânea nos cinemas nos dá é a oportunidade de presenciar um fenômeno essencial para o cinema brasileiro atual: a consolidação de uma nova geração.

Nos anos mais recentes, o cinema brasileiro viveu primeiro sob a sombra de um termo ("retomada"), depois de um conceito ("diversidade") --ambos pouquíssimo representativos a longo prazo (porque diversidade sempre houve no cinema nacional, e sempre haverá; e porque retomada se refere mais a uma parada do que a uma fase produtiva).

Depois veio a questão Globo Filmes e, no meio disso, todas as discussões políticas e de produção. Embora se possa entender todos esses momentos, parecia faltar um dado: o cinema em si. Não que não tenhamos tido alguns belos filmes nesses anos, nem momentos em que se discutiu cinema. No entanto, os sentimentos dominantes quanto ao novo cinema nacional no seu quesito artístico-geracional eram sempre ou a visão nostálgica, que manda que "nunca haverá geração como as passadas" (leia-se cinema novo), ou alguns realizadores como quixotescas figuras em luta contra um medíocre "status quo".

Os longas de Elias e Sacramento começam a mudar isso e permitem ver um autêntico movimento geracional. O que esta geração tem em comum na sua formação são dois ambientes e uma época: as escolas de cinema e os festivais de curtas; e os anos Collor.

Nessas escolas e festivais é que essa geração moldou sua relação, se conheceu, se tornou o que é hoje: um grupo grande de realizadores que se conhecem, respeitam, trocam idéias sobre seus filmes e o cinema em geral. Esta não é uma geração, é importante que se diga, que proponha um determinado dogma estético nem de conteúdo: seus realizadores acreditam nos mais diferentes "cinemas" (embora os filmes de Elias e Sacramento permitam ver um traço comum forte: o desejo de falar e pensar sobre o Brasil de hoje).

Esta geração encontra sua unidade, isso sim, na atitude de profundo amor e entrega em relação ao cinema, na crença de que ele pode ter uma importância para além dos números de bilheteria ou os Oscar da vida e no desejo de enfrentar a guerra que é fazer cinema no Brasil.

Embora Sacramento e Elias venham da mesma escola (a ECA-USP), esse não é fenômeno isolado ali: passa também por ex-alunos da UFF (no Rio), Faap e inúmeros nomes de outros Estados cujos curtas foram exibidos em festivais na mesma época (principalmente ao longo dos anos 90).

Outros nomes

Destes, pelo menos um outro já exibiu seu primeiro longa (o brasiliense José Eduardo Belmonte, que lançou "Subterrâneos" no Festival de Brasília de 2003), enquanto outros três ganharam recentemente o concurso do MinC para filmes de baixo orçamento e estréiam em breve (Bruno Vianna, Christian Saghaard, Gustavo Acioli). Mas os nomes de realizadores com projetos de longa em vias de emplacar se acumulam: Philippe Barcinski, Eduardo Nunes, Gustavo Spolidoro, Camilo Cavalcante, Torquato Joel, André Sampaio, entre tantos.

E por que, pode se perguntar o leitor, é tão importante assim se afirmar essa tal nova geração? Porque filmes e cineastas isolados vêm e vão, não continuam.

Neste momento é preciso abrir os olhos para o fato de que nenhum dos acima trabalha sozinho ou isolado: há sim uma nova e essencial geração surgindo para o cinema nacional, que já há algum tempo diz a que vem --para quem mantiver os ouvidos e olhos abertos.

Eduardo Valente é diretor dos curtas "Um Sol Alaranjado" e "Castanho"
 

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