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08/06/2004 - 07h40

Corrêa do Lago causa receio por Lei do Livro

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LUIZ FERNANDO VIANNA
da Folha de S.Paulo, no Rio

Com 1,92 m de altura e 100 kg, Pedro Corrêa do Lago é uma metáfora ambulante de seu próprio estilo. Adotando a linha "trator", o presidente da Fundação Biblioteca Nacional tem mudado a cara da vetusta instituição e, também, angariado antipatias.

Estas não surgem tanto pelas alterações que vêm sendo feitas na FBN desde janeiro de 2003, quando Corrêa do Lago assumiu, mas pelos superpoderes desse carioca de 46 anos. Com a morte do poeta Waly Salomão em maio do ano passado, a Secretaria do Livro e da Leitura foi extinta e suas atribuições passaram para a Biblioteca Nacional. Hoje, Corrêa do Lago é a voz do governo quando o assunto é literatura.

"O problema é saber se os poderes pertencem ao cargo ou ao Pedro, que é muito centralizador. Se ele sair, como fica? As decisões sobre livro no Brasil precisam ter uma continuidade", diz um editor, pedindo anonimato.

Se os editores ainda não batem abertamente de frente com Corrêa do Lago, um dos motivos é a expectativa em torno da Lei do Livro. Aprovada no Senado em 31 de outubro de 2003, a Lei 10.753 precisa ser regulamentada por decreto presidencial. E o governo determinou que o presidente da FBN conduza a regulamentação.

Notório batalhador pela lei, o Snel (Sindicato Nacional dos Editores do Livro) demonstra preocupação por não estar sendo ouvido. "Soube por um e-mail que o fórum da regulamentação é a Biblioteca. Não me furto a conversar com qualquer interlocutor, mas a discussão precisa ser ampla e transparente", afirma o presidente do Snel, Paulo Rocco.

"Estamos fazendo consultas às associações do setor, recolhendo sugestões, já tem muita gente se mexendo", diz Corrêa do Lago.

Um dos artigos da lei que o Snel não admite é o que prevê que todos os contratos firmados entre autores e editoras sejam registrados na FBN. "O presidente da Biblioteca saberá de tudo o que acontece no mercado. Isso é um absurdo", diz um editor.

Com a suspensão pelo Ministério da Educação do PNBE (Programa Nacional Biblioteca da Escola), Corrêa do Lago também responde pelo único programa federal para compra de livros paradidáticos em 2004: o Fome do Livro. Serão comprados, neste ano, 700 exemplares de cada um dos 2.500 títulos escolhidos. Até 2006, o objetivo é alimentar com acervos 1.200 novas bibliotecas, passando todo município brasileiro a ter uma.

Em todas as suas ações, Corrêa do Lago diz buscar que "a Biblioteca tenha uma presença maior no público". Essa seria a justificativa para realizar eventos não diretamente ligados ao acervo da instituição, como a exposição comemorativa dos 60 anos de Chico Buarque, que será aberta no fim de junho.

"É um reconhecimento simbólico da contribuição do Chico ao trabalho da palavra no Brasil. Para mim, esse é um papel da Biblioteca", diz Corrêa do Lago. "E tem um sentido estratégico, porque, por causa da exposição, pessoas novas conhecerão nosso acervo."

Muitos dos seus projetos possuem o mesmo objetivo. Por exemplo: quando acabarem as obras do quarto andar, ele abrigará a mostra "Tesouros da Biblioteca", para que o público veja itens raros como a Bíblia de Mogúncia, de 1462. E ainda neste ano será aberta uma sala-biblioteca com cara de livraria: as pessoas poderão ler os livros disponíveis ali sem burocracias.

Corrêa do Lago também tem mexido no orçamento de R$ 34,6 milhões da Biblioteca para realizar ações que tenham mais impacto. Por exemplo: em vez de vários prêmios literários, como era no passado, agora só existe o Prêmio Fundação Biblioteca Nacional, que dará R$ 80 mil ao autor do melhor livro do ano.

"A Biblioteca tem uma marca muito boa, mas estava dormente", acredita Corrêa do Lago. Ele procura se policiar, porque declarações suas já geraram atos de desagravo a Eduardo Portella, professor e imortal da ABL (Academia Brasileira de Letras) que presidiu a FBN de 1997 a 2003.

"Eu desejo ao meu sucessor que consiga mais do que eu consegui. Sei que fiz o que eu podia e que não houve inércia alguma", afirma Portella, citando a informatização por que passou a Biblioteca e a vinda de intelectuais como Susan Sontag e Carlo Ginzburg.

Reformas

É nítido que Corrêa do Lago quer adaptar a FBN a seu estilo. Reformou o estatuto, mudou o organograma, demitiu cerca de 200 pessoas e tem aberto diversos caminhos para que dinheiro privado entre no caixa.

Ele assume que, além do seu temperamento, tanta voracidade se explica pelo desejo de reverter a imagem, difundida no meio editorial, de que é "uma raposa no galinheiro". Corrêa do Lago é um dos maiores colecionadores de documentos, fotos e livros raros do país, além de ser dono de uma editora (a Capivara) em sociedade com a mulher, Bia Fonseca, filha do escritor Rubem Fonseca.

"Eu também achei que teria momentos de recreio na Biblioteca, porque amo e conheço muito esse acervo. Mas só tive três recreios, de duas horas cada, porque não paro de trabalhar", diz ele. "E é a Bia quem está cuidando da Capivara, que está proibida de propor projetos para captar recursos públicos."



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