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18/06/2004
-
02h41
INÁCIO ARAUJO
crítico da Folha
Conhecemos muitos "serial killers". São pessoas desequilibradas. Psicopatas. E, quando se diz psicopata, sabe-se que a parte referente à psique não conta (exceto pela maneira bizarra como se manifestará). Importa saber é que se trata de um doente que, como representa perigo, deve ser tirado de circuito e, eventualmente, eliminado sem grande dor.
"Desejo Assassino" destoa dessa linhagem. Antes de tudo, a diretora e roteirista Patty Jenkins parece querer nos fazer partilhar das dores de Aileen (Charlize Theron). E elas são muitas: estuprada sistematicamente desde os oito anos; órfã pouco depois; prostituta desde os 13.
É já adulta que encontra a jovem e lésbica Selby (Christina Ricci). A crer no filme, Selby é a primeira pessoa a dar atenção desinteressada a Aileen, de maneira que não demora a passarem da hostilidade inicial à paixão descontrolada.
Desde então estamos às voltas com um casal um pouco diferente daquelas grandes duplas criminosas de linhagem romântica, como a de "Bonnie & Clyde", em que a motivação para o crime pode ser social ou psíquica, mas invariavelmente coloca à frente uma posição rebelde, anti-social.
No caso de Aileen e Selby, não existe partilha completa nem entrega mútua. Embalada pelo amor, Aileen pensa que conseguirá emprego. Não consegue. Volta à prostituição. Seu ódio pelos homens cresce. Começa a matá-los.
Os melhores momentos são os que mostram a vida do casal Aileen/Selby. É quando parecem desenvolver a aspiração a uma vida burguesa que se mostram interessantes. Em especial Aileen, pois seu lado "serial killer" decorre diretamente dessa aspiração.
Nisso o filme é bastante feliz: ao nos mostrar um casal constituído por pessoas pouco convencionais, cujas aspirações são, no entanto, conformes aos princípios que regem a vida social. Isto é, não se reivindicam como malditas, nem aderem a um movimento gay: é a felicidade individual que norteia seu comportamento.
Contudo a louvável preocupação em tornar compreensível o caminho que leva Aileen a se tornar um monstro não impede o filme de ser aborrecido, de se entregar às convenções do filme independente, de se deleitar com a performance de Theron, premiada com o Oscar e dotada desse tipo de exagero que consiste em não só representar bem um papel, como em deixar claro que o faz. Um estilo bem diferente, no mais, do da precisa Christina Ricci.
Avaliação:
Monster - Desejo Assassino (Monster)
Produção: EUA, 2003
Direção: Patty Jenkins
Com: Charlize Theron e Christina Ricci
Quando: a partir de hoje nos cines Bristol, Gemini, Lumière e circuito
Especial
Arquivo: consulte o que já foi publicado sobre Charlize Theron
Crítica: Diretora de "Monster" partilha dores de "serial killer"
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crítico da Folha
Conhecemos muitos "serial killers". São pessoas desequilibradas. Psicopatas. E, quando se diz psicopata, sabe-se que a parte referente à psique não conta (exceto pela maneira bizarra como se manifestará). Importa saber é que se trata de um doente que, como representa perigo, deve ser tirado de circuito e, eventualmente, eliminado sem grande dor.
"Desejo Assassino" destoa dessa linhagem. Antes de tudo, a diretora e roteirista Patty Jenkins parece querer nos fazer partilhar das dores de Aileen (Charlize Theron). E elas são muitas: estuprada sistematicamente desde os oito anos; órfã pouco depois; prostituta desde os 13.
É já adulta que encontra a jovem e lésbica Selby (Christina Ricci). A crer no filme, Selby é a primeira pessoa a dar atenção desinteressada a Aileen, de maneira que não demora a passarem da hostilidade inicial à paixão descontrolada.
Desde então estamos às voltas com um casal um pouco diferente daquelas grandes duplas criminosas de linhagem romântica, como a de "Bonnie & Clyde", em que a motivação para o crime pode ser social ou psíquica, mas invariavelmente coloca à frente uma posição rebelde, anti-social.
No caso de Aileen e Selby, não existe partilha completa nem entrega mútua. Embalada pelo amor, Aileen pensa que conseguirá emprego. Não consegue. Volta à prostituição. Seu ódio pelos homens cresce. Começa a matá-los.
Os melhores momentos são os que mostram a vida do casal Aileen/Selby. É quando parecem desenvolver a aspiração a uma vida burguesa que se mostram interessantes. Em especial Aileen, pois seu lado "serial killer" decorre diretamente dessa aspiração.
Nisso o filme é bastante feliz: ao nos mostrar um casal constituído por pessoas pouco convencionais, cujas aspirações são, no entanto, conformes aos princípios que regem a vida social. Isto é, não se reivindicam como malditas, nem aderem a um movimento gay: é a felicidade individual que norteia seu comportamento.
Contudo a louvável preocupação em tornar compreensível o caminho que leva Aileen a se tornar um monstro não impede o filme de ser aborrecido, de se entregar às convenções do filme independente, de se deleitar com a performance de Theron, premiada com o Oscar e dotada desse tipo de exagero que consiste em não só representar bem um papel, como em deixar claro que o faz. Um estilo bem diferente, no mais, do da precisa Christina Ricci.
Avaliação:
Monster - Desejo Assassino (Monster)
Produção: EUA, 2003
Direção: Patty Jenkins
Com: Charlize Theron e Christina Ricci
Quando: a partir de hoje nos cines Bristol, Gemini, Lumière e circuito
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