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27/06/2004 - 06h10

Homenagem a Tom Zé em desfile esbarra em direitos autorais

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PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Folha de S.Paulo

Empenhado em ajudar a derrubar muros que separam os planetas erudito e popular, o estilista mineiro Ronaldo Fraga, 35, elegeu o tema-emblema-personagem Tom Zé para voltar ao assunto em seu desfile na São Paulo Fashion Week, no último dia 19.

Batizou de "São Tom Zé" o desfile que se inspiraria no músico baiano e tomaria suas canções como trilha sonora. "Ele é o genuíno e talvez último tropicalista vivo", Fraga provoca, para então explicar: "O que me pegou mais é que ele é um dos poucos artistas brasileiros que dão estatuto de arte e vanguarda à cultura popular".

Receoso de aceitar a moda como uma forma efêmera de arte, trombou no muro do lado de lá. Seu desfile não se chamou "São Tom Zé", mas "São Zé". As músicas da trilha não foram do bardo tropicalista, mas de Hermeto Pascoal e Cordel do Fogo Encantado.

É que Tom Zé pediu, a duas semanas do desfile, R$ 30 mil pelo uso de suas músicas. "Não entendi, eu estava fazendo uma homenagem. Fiquei muito triste, mas respeitei. Não adiantaria eu discutir que arte é arte e que, uma vez que ele fez uma música, não é mais dono dela. Ele é gênio, pode fazer o que quiser." O uso do nome também foi desautorizado.

"Isso me colocou no lugar de um aproveitador, me criou um desconforto muito grande. Eu não pagaria [cachê], não era esse o ponto", conclui, afirmando que recolheria o dinheiro dos direitos pelas músicas. Achou solução intermediária, e a atração entre arte e moda acabou em romance frustrado, em sexo interrompido.

Saindo da circunferência dos conflitos pessoais, Fraga expõe suas razões para querer pesquisar universos complexos de raiz brasileira como os de Tom Zé ou, em anos anteriores, Lupicinio Rodrigues na voz de Jamelão ou temas religiosos na voz da conterrânea Fernanda Takai, do Pato Fu.

"O desafio de minha geração de estilistas é a reinvenção da memória iconográfica brasileira. Tanto tem se falado de uma identidade brasileira, a moda pode tirar muito daí", formula, defendendo que o que faz quer distância de uma "moda típíca" ou "folclórica".

"O mundo está morrendo de vontade e inveja do nosso humor e do nosso ritmo. Tom Zé é um precursor disso", diz, afirmando que o desacordo com o músico não modifica seu respeito por ele.

A Folha procurou o presidente da gravadora de Tom Zé (Trama), João Marcello Bôscoli, defensor habitual da interseção música-moda, mas ele preferiu não comentar o conflito e sua tentativa frustrada de mediar um acordo.

Procurou também Tom Zé, que não quis conversar com o jornal nem responder a um questionário enviado por e-mail. Em vez disso, escreveu um texto.

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