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18/07/2004 - 07h10

Fantasma da ditadura reaparece na Globo

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BRUNO YUTAKA SAITO
a Folha de S.Paulo

Em 1975, o jornalista Vladimir Herzog desapareceu depois que saiu do trabalho à noite, na TV Cultura, em São Paulo. No dia seguinte, foi encontrado enforcado numa cela nas dependências do Destacamento de Operações de Informações do Segundo Exército (DOI), e sua morte foi divulgada como tendo sido um suicídio. Em 2004, ele retorna a outra TV --desta vez, à Rede Globo.

Herzog é o tema de edição do programa "Linha Direta - Justiça" que está em fase de finalização, ainda sem data para ir ao ar. Com a novela das oito, "Senhora do Destino", que nos primeiros capítulos abordou a repressão militar em dezembro de 1968, "Justiça" torna-se um novo caso de reaparição, em horário nobre, de fantasmas da história recente do país --em particular, a ditadura militar e temas indissociáveis a ela, como torturas e assassinatos.

A viúva de Herzog, Clarice, acredita que "Justiça" cumprirá um papel fundamental na cultura brasileira. Ela aparecerá no programa dando uma entrevista. "Topei participar porque acho a iniciativa importantíssima. Essa história é muito restrita a um pessoal já conhecedor, ela tem que ser mantida, tem que ficar na memória do brasileiro."

"Sou a favor dessa temática na televisão; sempre é bom gerar reflexão, principalmente para o cidadão que vai entrar em contato com o assunto pela primeira vez", diz o historiador Marco Antonio Villa, 49. "A questão não é entender por que a Rede Globo está falando sobre ditadura, mas sim por que as outras emissoras não fazem isso também."

"Hoje, a Globo mudou. Isso representa um esforço saudável em recuperar a história", diz o jornalista Álvaro Caldas, autor do livro "Tirando o Capuz" (1981), que relata os porões do regime militar e foi relançado neste ano.

"Não é que a Rede Globo tenha descoberto a ditadura agora; pode parecer que está havendo um movimento nesse sentido, mas não há. Tudo é uma mera coincidência", diz o diretor-geral do programa, Milton Abirached, 43.

Já em 1992, a minissérie "Anos Rebeldes" voltava a esse período, e o próprio "Justiça" já abordou a ditadura, em novembro de 2003, na reconstituição do caso Zuzu Angel --cujo filho, Stuart, foi assassinado pelo regime.

"Quando começamos "Zuzu", eu nem sabia que "Senhora" ia abordar ditadura. Eu já planejava o episódio com o Herzog. É um desejo meu contar essas histórias, criar variedades de temas."

"Linha Direta - Justiça" reconstitui crimes históricos brasileiros. Ao mesmo tempo em que vemos um caráter de dramaturgia --há atores interpretando personagens reais--, o perfil jornalístico do programa traz entrevistas com pessoas que estiveram, de alguma maneira, envolvidas nos casos.

"O formato não permite romantização. Aquilo que chamamos de docudrama, de filmes como "Domingo Sangrento" [de Paul Greengrass], é radicalizado no "Justiça'", diz Abirached.

"Estou confiante de que será um programa sério", diz Clarice. No entanto, ela afirma que não assistirá ao programa. "Vai ser difícil. Esse assunto sempre mexeu e ainda mexe muito comigo."

"Justiça" entrevistou os jornalistas Rodolfo Konder e George Duque Estrada --que estiveram presos no DOI-Codi na mesma ocasião--, Paulo Markun e Mino Carta; o então secretário de Cultura do Estado de São Paulo, José Mindlin, e o ex-governador de SP Paulo Egydio. Não é certo que todos os depoimentos irão ao ar, já que o episódio ainda será finalizado. Abirached diz que, em episódios como este, é quase impossível encontrar o "outro lado".

"Os torturadores estão mortos, mas buscamos soluções. No caso da Zuzu, por exemplo, falamos com a filha de um dos militares acusados de tortura. No entanto, ela não gostou do resultado final."

Segundo a Central Globo de Comunicação, "o Judiciário já julgou algumas ações e todos os pareceres, sem exceção, foram favoráveis ao "Linha Direta", considerado um jornalístico responsável e reconhecido, e que, além de tudo, trata de casos públicos notórios".

Na parte dramatúrgica, o ator Ilya São Paulo interpreta Herzog, enquanto Bete Mendes faz a mãe do jornalista, Zora. "Ela ficou emocionadíssima, porque passou um pouco por isso na época. Eu estava lá gravando a cena do enterro do Herzog, e a Bete não parava de chorar. Quando a cena terminou, ela continuou chorando", diz Abirached.

Especial
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