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15/08/2004 - 08h07

Profissionais avaliam como seria o cinema se projeto do MinC vigorasse

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SILVANA ARANTES
da Folha de S.Paulo

Vanguarda conceitual para uns, filme de terror para outros. O projeto do Ministério da Cultura de criar a Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual --para regular e fiscalizar os mercados de cinema e TV-- é alvo de opiniões opostas e centro da discussão cultural no país desde a semana passada, quando veio a público.

A Folha procurou profissionais cujas carreiras (ou os negócios) serão afetados caso o projeto entre em vigor e pediu que simulassem o cenário de suas atividades com as propostas do ministério em funcionamento.

O presidente da Cinemark, Valmir Fernandes, diz que os ingressos aumentariam em até 20% (para fazer frente às novas taxações que a lei estabelece, para alimentar fundos de fomento à indústria brasileira). O aumento dos ingressos leva à queda da taxa de ocupação das salas, diz Fernandes. Maior capacidade ociosa significa necessidade de menos funcionários e suspensão dos planos de abertura de novos complexos, exceto os direcionados à classe A.

"Ficam mantidos os investimentos apenas em locais onde o público paga qualquer preço, como no Shopping Iguatemi [em São Paulo, onde a Cinemark tem inauguração prevista para 2005]."

Rodrigo Saturnino, diretor da Columbia, que lançou "Homem-Aranha 2" no Brasil com o número recorde de 652 cópias, diz que a estréia de filmes em mais de 200 cinemas simultaneamente passa a ser a exceção, não a regra.

A lei prevê que a distribuidora que queira lançar no Brasil um filme estrangeiro com mais de 200 cópias terá de pagar taxa de R$ 600 mil, o que poderia reduzir a margem de lucros da operação.

A intenção do Ministério da Cultura com essa medida é reduzir a ocupação do filme estrangeiro, sobretudo o norte-americano, nos 1.800 cinemas existentes no país, abrindo espaço para o produto nacional.

Mas Saturnino enxerga conseqüência diferente. "Haverá um intervalo de aproximadamente três meses entre a estréia dos filmes nas principais capitais e nas cidades do interior." A longa espera levaria ao aumento da pirataria, ágil para atender o interesse de quem não quer esperar tanto para ver um lançamento comentado nos grandes centros.

Mas nem tudo são previsões sombrias. No início da cadeia produtiva de filmes brasileiros surge um defensor das propostas do governo. "Nossos filmes vão passar na TV. Essa lei vai fazer com que haja possibilidade e visibilidade para os filmes regionais e autorais." É a opinião do cineasta pernambucano Cláudio Assis, 43.

Um dos artigos do projeto de lei estabelece que as TVs firmem anualmente com a nova agência (Ancinav) compromisso para a exibição de filmes brasileiros independentes e regionais.

Assis enxerga nessa proposta a chance de "democracia nos órgãos de comunicação" e de valorização do produto brasileiro. Ele conta que seu primeiro longa, "Amarelo Manga" (2003), acaba de ser comprado pelo Canal Brasil (pertencente à Globosat) por R$ 20 mil. A realização do filme custou cerca de R$ 800 mil.

Assis acha "absurdo" o preço pago pelas televisões pelos títulos brasileiros. "A TV não paga bem pelos nossos filmes porque compra quase de graça o lixo americano para passar para as nossas famílias. O que está em jogo aqui é se você se vende ou se se impõe como povo", afirma.

Paulo Mendonça, diretor do Canal Brasil, afirma "compreender" a frustração de Assis, mas diz que o valor pago está acima da tabela do canal, baseada no resultado do filme no cinema. "Amarelo Manga" estreou com 14 cópias e fez 129 mil espectadores, "público abaixo de sua qualidade", diz Mendonça. Para um filme nessa faixa de espectadores o Canal Brasil paga usualmente R$ 13,8 mil.

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