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19/08/2004 - 05h16

Hollywood divulga sua fórmula de sucesso em Gramado

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SILVANA ARANTES
enviada especial da Folha de S.Paulo a Gramado

Começou com um trocadilho e quase termina em inversão de papéis (de acusadora a ré) a crítica que a organização norte-americana MPA (Motion Picture Association) fez em Gramado ao projeto de lei do MinC (Ministério da Cultura) para regular o audiovisual brasileiro com a criação da Ancinav (Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual).

O vice-presidente da MPA para a América Latina, Steve Solot, convocou entrevista para divulgar o seminário "Cinema: Da Criação à Distribuição em Dez Horas", que promove na programação do 32º Festival de Gramado - Cinema Brasileiro e Latino.

Voltado para estudantes, o curso intensivo responde, segundo Solot, "à necessidade das empresas de identificar roteiros interessantes e filmáveis". A MPA é a associação dos sete maiores estúdios de cinema norte-americanos, as chamadas majors (Buena Vista, Columbia, Metro, Paramount, Fox, Universal, Warner).

Solot disse que o investimento no seminário (R$ 30 mil) "é pequeno, comparado com o desenvolvimento dos estudantes" e fez um trocadilho, em referência ao projeto do Ministério da Cultura de criar a Ancinav: "É irônico. Não sei se é um "bad timing" [mau momento] ou um "good timing" [bom momento]".

Ironia

A ironia, afirmou, está em que a realização do seminário "expressa nosso interesse no setor, num momento em que, se aprovado, o projeto do governo vai alterar radicalmente todas as atividades audiovisuais no Brasil".

Entre as medidas propostas pelo MinC, as que mais afetam a MPA são a taxação de lançamentos de filmes estrangeiros com mais de 200 cópias (R$ 600 mil) e a criação de taxa para títulos em vídeo e DVD (9%).

Depois de avaliar que a produção de roteiros "é uma área deficiente no Brasil", Solot foi indagado se, com seus cursos, a MPA estaria tentando fazer com que os filmes brasileiros tivessem uma única fórmula, idêntica à dos filmes americanos, e solicitado a explicar em que medida as majors influenciam no roteiro dos filmes que co-produzem no Brasil, com benefício da Lei do Audiovisual, que autoriza dedução do Imposto de Renda para os investimentos.

O executivo convidou para responder a coordenadora de marketing da Fox, Camila Galatti, professora do módulo "Marketing e Distribuição" no seminário. "A gente influencia, sim, no roteiro, porque ele precisa ser comercial", disse Galatti.

Decisão final

O produtor Leonardo Monteiro de Barros, da Conspiração Filmes e responsável pelo módulo "Desenvolvimento de Projeto", parece haver percebido a aproximação da armadilha lingüística. Levado a termo, o raciocínio de Galatti terminaria com a MPA tachada de "intervencionista" no conteúdo audiovisual brasileiro. Monteiro de Barros pediu a palavra: "Nós, produtores, pedimos a influência do distribuidor, para aprimorar o projeto. Mas a decisão final sobre os aspectos criativos é sempre do produtor brasileiro".

A Folha pediu que Solot comentasse a afirmação do ministro da Cultura, Gilberto Gil, de que os EUA são o lugar em que mais se combatem monopólios e oligopólios, com instrumentos como leis antitruste. "Não posso responder diretamente ao ministro. Temos uma política de responder muito especificamente a temas determinados, depois de uma análise legal."
Mas comentou: "É importante enfatizar que estamos falando de um "business", e o "business" responde a uma oportunidade de mercado. Se não houver oportunidade de mercado, devido à super-regulamentação, vai haver menos investimento, menos atividade, menos interesse".

Apoio

Além da crítica da MPA (Solot distribuiu aos jornalistas cópias de informe publicitário a ser publicado em jornais com avaliação negativa do projeto), o projeto do MinC recebeu uma análise positiva no segundo dia do Festival de Gramado (terça). Durante o debate sobre o filme cearense "O Quinze", que abriu a competição de longas brasileiros na noite de segunda, a produtora do título, Letícia Menescal, afirmou: "Captar [dinheiro para realização de filmes] é difícil para todos. Com essas mudanças na lei, acho que vai melhorar nos aspectos da descentralização e da regionalização". Menescal disse à Folha que vive "15 dias no Rio e 15 em São Paulo, com o coração no Ceará" e disse sentir "discriminação" dos patrocinadores quando apresenta um projeto do Nordeste, a ser realizado por artistas da região.

A jornalista Silvana Arantes viajou a convite da organização do Festival de Gramado

Especial
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