Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
22/08/2004 - 06h48

Termos charge e caricatura têm interpretações distintas na história

Publicidade

DIEGO ASSIS
da Folha de S.Paulo

O que é charge? O que é caricatura? Talvez a questão mais delicada para defender a primazia dessa ou daquela obra seja estabelecer parâmetros de comparação.

Diz o "Aurélio": "Charge: representação pictórica, de caráter burlesco e caricatural, em que se satiriza um fato específico, em geral de caráter político e que é do conhecimento público". E ainda: "Caricatura: desenho que, pelo traço, pela escolha dos detalhes, acentua ou revela certos aspectos caricatos de pessoa ou fato".

Herman Lima, em sua "História da Caricatura no Brasil", usa os termos caricatura e charge para se referir basicamente às mesmas coisas: "É que a caricatura não é somente, como entendiam os italianos que lhe lançaram na moda na era do Renascimento, o "ritrato ridicolo di cui siansi esagerati i defetti". É ainda, até de preferência (...), a arte de caracterizar".

"A precisão desses termos nunca é muito completa. A melhor definição que já vi é a de que charge é um cartum editorial. E cartum é um desenho de humor", diz o cartunista da Folha de S.Paulo Laerte.

Aspecto igualmente controverso é se a charge (ou caricatura) deve necessariamente retratar uma figura histórica específica ou se, pelo contrário, pode empregar elementos alegóricos. Considerando o primeiro caso, a litogravura de Manuel de Araújo Porto-Alegre, que retratava um conhecido diretor de jornal do período, seria efetivamente a primeira charge impressa no país.

Mas, se acompanharmos o raciocínio de Lailson de Holanda de que o burro corcunda representava os membros pró-dom Pedro 1º do Partido Restaurador, chamados de corcundas em Pernambuco, tentando evitar que o império e a igreja (sustentados pela coluna) ruíssem de vez, o desenho do "Carcundão" é um exemplo de charge alegórica.

"Fico me desafiando o tempo todo em como transformar o assunto do dia ou da semana em algo mais elástico no tempo. Se no caso de uma invasão de terra, por exemplo, eu usar o conceito de reforma agrária no lugar de desenhar a cara do diretor do Incra, ficará mais fácil para um historiador entender o que aquilo quer dizer", avalia Angeli, chargista da Folha de S.Paulo e vencedor de todos os prêmios HQ Mix na categoria. "Daqui a 15 anos a gente não vai lembrar a cara do ministro da Agricultura", completa.

Por fim, resolvido o status de "charge" das xilogravuras pernambucanas, restaria ainda a difícil questão de definir sua autoria. "O autor do desenho, assim como dos textos, é anônimo, pois a imprensa ainda era incipiente naquela época e o jornal era panfletário. Lembre-se que a imprensa só foi liberada para fins não oficiais em 1822", justifica Lailson.

Ainda assim, o autor de "Historia del Humor Gráfico en Brasil" aposta suas fichas no mitológico e irreverente padre Lopes Gama. Um ano depois do desaparecimento do "Carcundão", Gama assumiu a autoria de "O Carapuceiro", publicação de teor semelhante e impressa na mesma gráfica.

"A importância do "Carcundão" é a de ter sido feito por um padre que era popular no Recife. Apesar de poucas edições, o jornal teve sua importância, tinha todos os elementos de uma publicação crítica e ainda um desenho de humor impresso", afirma Gualberto Costa, presidente do Instituto do Memorial das Artes Gráficas.

"Sempre haverá surpresas. Herman Lima tinha uma visão centrada no Distrito Federal. Se você fuçar pelo Nordeste ou pelo Rio Grande do Sul, talvez encontre coisas anteriores. O Paraguai tinha gravuristas que também faziam charges. A história nunca está fechada", conclui Costa.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página