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06/10/2000 - 04h56

O dia em que Woody Allen abriu as portas aos paparazzi

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SÉRGIO DÁVILA, da Folha de S.Paulo

"Help". É assim, com "socorro" escrito em fumaça por um avião no céu, ao som da "Quinta" de Beethoven, que começa o filme de Woody Allen mais pessoal dos anos 90, "Celebridades" ("Celebrity", 1998), que estréia hoje nas telas de São Paulo.

Kenneth Branagh, que interpreta o melhor alter ego do diretor desde que John Cusack fez "Tiros na Broadway", é o jornalista Lee Simon, entrevistador de celebridades angustiado pela futilidade de sua existência, mas que não liga de tirar suas casquinhas do mundo a seu redor.

Simon tenta terminar um romance que nunca escreve e que daria algum sentido à sua vida. Enquanto isso, ele:

1. Divorcia-se da mulher, a ótima Judy Davis (em seu quarto filme com o diretor, ela vem se especializando na típica mulher neurótica alleniana), que, desesperada, tenta se encontrar num retiro católico, pensa em fazer plástica e se envolve com Joe Mantegna;

2. Tem um casinho com Melanie Griffith (em seu primeiro papel sem voz de retardada, uma vitória do diretor?), atriz de quem está escrevendo um perfil;

3. Envolve-se com Charlize Theron, uma supermodelo, um dos personagens mais engraçados;

4. Tenta vender um script para Leonardo DiCaprio;

5. Vai morar com a fútil Famke Janssen;

6. Apaixona-se por Winona Ryder e se dá mal;

7. Termina como começou.

Alguém falou em "A Doce Vida", de Fellini? É óbvio. Allen homenageia a obra-prima de um de seus diretores preferidos, a começar pelo preto-e-branco (cujo uso ele faz questão de ironizar).

Mas é também uma tentativa ferina e inteligente de mostrar o mecanismo pelo qual as celebridades atuais são criadas e mantidas, com a imprensa tendo um papel capital na história.

Poderia virar uma discussão chata e sem graça de curso de semiótica (como ele fez com o pesadíssimo "Interiores"), mas os diálogos e as ironias que pontuam cada cena cuidam de não deixar isso acontecer.

"Quem é mais pop, o papa ou Elvis Presley?", discute um padre Marcelo local. "Por favor, não pegue pesado na bulimia", pede o divulgador da estrela. "Desculpe-me pelas piadas de cunho ateu", agradece a Deus o jornalista antes de transar com a modelo.

"Eu sempre vejo seus tapes de exercício", diz a fã à apresentadora. "Eu também", completa o marido dela. "É, mas eu uso para me exercitar", cutuca a mulher. "Aquele é um jovem talento que está filmando a sequência de um remake", diz o insider.

"Não pergunte por quem os sinos dobram, mas sim por quem a privada dá a descarga", filosofa o alpinista social. O filme é todo bom. A começar pelo cartaz, que imita a capa da revista "People" (a "Caras" norte-americana).

É também um pedido de ajuda de Woody Allen. O diretor nunca se envergonhou de usar sua obra como veículo para recados de sua vida pessoal dirigidos à audiência e a quem mais possa interessar.

Quando estava apaixonado pela atriz Lousie Lasser, a colocou em seus quatro primeiros longas para cinema. No auge da relação com Diane Keaton, fez "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa".

Veja de novo "Hannah e Suas Irmãs" e "Maridos e Esposas" à luz de toda a polêmica com Mia Farrow: está tudo lá. Já este "Celebridades" foi rodado no meio das acusações de abuso sexual da filha feitas por Mia. Nunca antes Allen foi tão assunto de tablóides.

Pense nisso quando enxergar aquele "help" escrito no céu.

Celebridades
Celebrity


Direção: Woody Allen
Produção: EUA, 1998
Com: Kenneth Branagh, Judy Davis, Joe Mantegna, Winona Ryder, Leonardo DiCaprio, Charlize Theron
Quando: a partir de hoje nos cines Lumière, Espaço Unibanco e circuito

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