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20/02/2005 - 09h20

"Excluídos" invadem o horário nobre

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ISABELLE MOREIRA LIMA
da Folha de S.Paulo

Para bom observador, meia novela basta: 2005 é o ano da ação afirmativa na televisão brasileira. Na faixa de maior audiência da Globo, a "Senhora do Destino" é uma nordestina. Uma hora mais tarde, com o "Big Brother Brasil 5", os telespectadores podem acompanhar o confinamento de um grupo de 12 pessoas, entre eles três negros e cinco nordestinos, sendo um homossexual.

Em outros canais, o cenário não é diferente. Ao mudar de canal, ainda durante a noite, encontra-se desde o drama colonial "A Escrava Isaura" (Record) até a melodramática "Esmeralda" (SBT), ambas com negros no elenco.

Para estudiosos ouvidos pela Folha, a maior presença na TV de grupos da sociedade considerados excluídos é óbvia e tem explicação, principalmente comercial. "Uma segmentação de mercado, que acontece com viés democrático", como explica o antropólogo e professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Edmilson Felipe. A imagem dos grupos hoje é menos caricatural do que a mostrada há uma década, mas ainda tem estereótipos.

"Não há representação positiva do negro na TV em papéis como advogado, médico, empresário. A televisão ainda peca por isso", afirma a doutora em antropologia social pela Universidade de São Paulo Eliana Oliveira. Para ela, há uma mudança, mas ainda não é suficiente pelo contingente da população negra. "Os papéis dos negros são sempre inferiores, de submissão. Há grandes talentos, é preciso observar a diversidade."

Para o antropólogo da Universidade de Brasília José Jorge Carvalho, autor da proposta de cotas da instituição, o tipo de inclusão racial feito nas novelas é conservador e não-revolucionário porque isola um núcleo negro do resto dos personagens das tramas. "Na TV, [a inclusão] é a conta-gotas e, se continuar assim, pode acontecer um efeito perverso. A TV fica mais racista", diz. Ele cita o caso de Taís Araújo em "Da Cor do Pecado". "É uma negra no papel principal, mas é a negra no papel sensual, não é uma cirurgiã."

Quando o "excluído" em questão é homossexual, as críticas não são diferentes. A doutora em comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Cida de Sousa acredita que apenas os personagens estereotipados são bem aceitos. "Todas as novelas que trataram do tema de forma estereotipada não causaram problemas. Quando o homossexual é normal, aí é complicado", diz. "As garotas [casal de lésbicas de 'Senhora'] não estão incomodando porque o foco não recai sobre elas", diz.

Sousa também aponta problemas na construção da imagem do nordestino causada pela falta de pesquisa. Para a professora, o contexto da TV pede a inserção de todos os grupos. "Mas ela faz isso da maneira menos inteligente, dentro da cultura do estereótipo", afirma, lembrando "Tropicaliente" (1994), em que os atores cearenses "falavam de uma forma que ninguém fala no Ceará".

Maria do Carmo e Lula

O antropólogo Edmilson Felipe, no entanto, vê um lado bom no "boom" da nordestinidade na TV, liderado por Maria do Carmo, personagem de Suzana Vieira em "Senhora do Destino".

"A figura do nordestino que venceu pode ser uma coisa positiva. Há a idéia da força, de continuar batalhando, de não desistir das coisas. É jogar um pouco isso, que também é a trajetória do Lula, um predestinado, que sofreu a vida inteira, um analfabeto, mas que hoje é o presidente. É um alento para as pessoas."

Mas Felipe faz uma ressalva: "Óbvio que nós sabemos que [vencer] é uma coisa muito difícil porque há preconceitos e problemas, mas acredito que a personagem passa uma mensagem muito importante da figura ética".
 

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