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05/03/2005 - 00h31

Confira a íntegra da entrevista com o escritor Ariano Suassuna

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CASSIANO ELEK MACHADO
Enviado especial a Recife

"Ariano Suassuna?", pergunta o taxista no aeroporto de Recife. "Ah, que portento de homem."

"Olhe, rapaz, eu sei o segredo de Ariano. Já analisei pela TV. Perceba que ele pode parecer que está assim meio desligadão, até abobado. Mas rapaz, é só cruzar as pernas que vira o sujeito mais inteligente do mundo."

Parece uma mentira de Chicó, personagem falastrão que o autor paraibano-pernambucano entalhou em "Auto da Compadecida". "Não sei, só sei que foi assim", diria Chicó. E assim foi.

O mentiroso crônico e seu parceiro João Grilo são dois dos muitos motivos que levaram a Folha até Suassuna. Seu "Auto" foi recém-relançado pela Agir em edição de luxo, com ilustrações de seu filho Manuel Dantas Suassuna. A peça completa em setembro próximo, vejam só, meio século.

Outro "obelisco" de Ariano também tem aniversário e relançamento. Não é pouco, não. Um dos romances brasileiros mais ambiciosos do século 20, "A Pedra do Reino" completou 35 anos e ganhou a primeira reedição em décadas, pela José Olympio, que também lançou o seu antes restrito "Iniciação à Estética" (abaixo).

É um ano Ariano. O autor estará na Bienal do Rio em maio e na badalada Festa Literária de Paraty, em julho. Nas horas vagas esconde-se em sua casa de praia, onde promete mais uma vez que vai tentar, ao menos tentar, finalizar seu inacabável novo romance.

Mas chega de conversa fiada. Suassuna já serviu suco de cajá, o gravador está ligado e, mais importante, suas pernas estão cruzadas. Leia abaixo a íntegra da entrevista.

Folha - Os agora reeditados "A Pedra do Reino" e "O Auto da Compadecida" reeditados equilibram o cômico e o trágico, uma marca do seu trabalho. O sr. já disse que o fundamento da existência humano é trágico. Por que é necessário o riso?

Ariano Suassuna - A alma humana divide-se no hemisfério rei e no hemisfério palhaço. O que há de trágico é ligado ao primeiro, e o que há de cômico, ao segundo. O hemisfério rei se complementa com o hemisfério profeta. O hemisfério poeta com o palhaço.

No meu entender o ser humano tem duas saídas para enfrentar o trágico da existência: o sonho e o riso. Quaderna, o narrador de "A Pedra do Reino" chama de "galope dos sonhos" e o "riso a cavalo".

Folha - Nomes do passado, de Cervantes a Machado de Assis, valorizavam o riso. O sr. não acha que a literatura de hoje não dá importância ao cômico?

Suassuna - Ah sim. E eu prefiro a companhia de Cervantes à de outros camaradas de hoje (risos). Não tenho esta visão do humor como uma coisa secundária. Não considero as grandes obras ligadas ao humor menores do que às trágicas. Prefiro Molière, que é ligado ao riso, do que Racine, um trágico. Alguns grandes, como Shakespeare, conseguem as duas faces. Tem tragédias como "Hamlet", mas comédias como "Muito Barulho por Nada".

Folha - Falta humor também fora da literatura?

Suassuna - Sobretudo nos escritores. Acho eles tão incapazes de riso, tão sem a energia que havia em Cervantes e não existe mais.

Folha - O sr. vai fazer alguma homenagem a Cervantes por conta dos 400 anos de "Dom Quixote"?

Suassuna - Espero que neste livro que estou fazendo.

Folha - O famoso livro?

Suassuna - Nem me fale, nem me fale. Mas este livro tem uma presença muito grande de Cervantes. Tem uma referência especial ao quarto centenário da obra.

Não gosto muito de falar sobre o livro, mas posso dizer que o narrador principal tem o sobrenome de Savedra [o segundo sobrenome de Cervantes era Saavedra].

Folha - O sr. já disse que Machado de Assis também homenageia Quixote em um livro, não?

Suassuna - Não sou um grande entusiasta de Machado. Admiro, mas não tenho paixão por ele. Noto nele a falta desta energia à qual fiz referência. Para mim quem tem esta energia na literatura brasileira é Euclydes da Cunha. Estou consciente dos defeitos de Euclydes, da influência do positivismo, que eu renego, mas nem por isso ele deixa de ser meu patrono.

O livro mais quixotesco de Machado não é "Dom Casmurro" ou "Memórias Póstumas". É "Quincas Borba", meu predileto.

Folha - Em "A Pedra do Reino" o sr. cita (e homenageia) não só Euclydes, mas dezenas e dezenas de escritores. Por quê?

Suassuna - Acho que os escritores em geral fazem uma injustiça muito grande uns com os outros. Para mim é insegurança. Não querem falar das influências que receberam. Eu procuro agir do modo contrário. Todos os escritores a quem devo eu homenageio.

Folha - Euclydes da Cunha, Machado e companhia muitos lêem e conhecem, mas o sr. também cita dezenas de autores muito pouco lembrados hoje, como Matias Aires. Por que esses autores que o sr. admira ficaram à margem?

Suassuna - Acho que a massificação, a vulgarização da cultura e da informação faz com que o cânone fique estreito. Não entendo como não se lê um autor como Matias Aires.

Folha - O sr. fala em "A Pedra do Reino" da presença do sebastianismo, de lendas de origem ibérica e medieval, no imaginário do povo. Hoje estes temas ainda são presentes no cotidiano dos nordestinos?

Suassuna - Acho que é algo que está desaparecendo. Mas o sentimento que está por trás disso eu acho que não. O mito de d. Sebastião transcende a cultura portuguesa, é universal. É a história de um homem que, pela aventura, pelo sonho, pelo sacrifício, procura se erguer acima do Sol. Acho que isso está presente no ser humano de qualquer tempo e lugar.

Folha - Estamos diante de "Auto da Compadecida", uma senhora de 50 anos, e de "A Pedra", que já tem seus 35. Elas continuam presentes?

Suassuna - Sempre procurei escrever tudo de modo a expressar intemporalmente o ser humano. Agora o problema de se manter ou não não me compete e não compete a nenhum de nós. Acho a coisa mais triste e ridícula do mundo o escritor que se considera importante em vida. Nenhum de nós pode saber isso. Só o tempo determina se o que foi escrito fica.

Por isso eu sempre falo em Euclydes. Poderia falar de Guimarães Rosa, que muito admiro e que foi meu amigo, mas como sobre Euclydes passou mais tempo acho ele tem prioridade.

Folha - No prefácio de "A Pedra", Rachel de Queiroz dizia que muitos iriam comparar o livro erroneamente com "Grande Sertão", de Guimarães Rosa. O que o sr. acha disso?

Suassuna - Olhe, eu gostava muito dele, o admiro profundamente e sei que isso era retribuído. Uma das minhas maiores glórias é ele ter me dedicado um poema. Mas somos muito diferentes. Não saberia nem gostaria de escrever como ele. Não estou dizendo que meu modo de escrever é melhor.

Eu pretendo alcançar a dimensão que eu procuro mantendo a linguagem normal, comum, até o ponto em que isso é possível, e conseguindo a atmosfera mágica mais por meio das situações. A busca de uma linguagem nova para mim está mais nisto, não na forma da linguagem. Houve um tempo em que muita gente vinha na minha casa reclamar que eu não escrevia como Graciliano Ramos, como João Cabral e como Guimarães Rosa. Não posso escrever como nenhum deles, mesmo admirando os três.

Folha - Eles são diferentes entre si. Com qual o sr. se identifica mais?

Suassuna - São diferentes, mas existe alguma identidade entre Graciliano e Cabral, aquela secura. Muitos me diziam que a linguagem de Graciliano é a linguagem verdadeira do sertão, muito mais do que a minha. Aquela dificuldade de fala de Fabiano é a própria essência do povo brasileiro. Eu digo: não é a própria essência do povo brasileiro. É a essência do povo brasileiro que Graciliano via, enxergava e gostava. Mas se ele chegar aqui perto de uma figura como Mestre Salustiano se verá diante de um homem do povo que tem o "riso à cavalo" e o "galope do sonho". Ele toca rabeca e o diabo. É diferente de Fabiano.

Eu me aproximo mais da linguagem de Mestre Salustiano, o que faço em "Auto" e em "Pedra".

Folha - Um motivo da eventual comparação com "Grande Sertão" não seria, mais do que a linguagem, a ambição das duas obras? O sr. lançou seu livro em 1971. Depois o sr. enxerga algum outro livro brasileiro com a mesma vocação?

Suassuna - Vou lhe falar de um que é até um absurdo eu não tenha lido, o que pretendo: "Viva o Povo Brasileiro", de João Ubaldo.

Folha - O sr. dizia que "A Pedra" não seria reeditado. Afirmava que seria incorporado pelo grande livro que o sr. vem preparando, que seria uma parte dele. Por que o sr. mudou de idéia?

Suassuna - Em primeiro lugar, para incorporá-lo no livro novo eu teria de dividir a obra em duas. A primeira parte se chamaria "As Infâncias de Quaderna". A segunda seria "A Pedra do Reino".

Mas tenho um problema. Sou um escritor prolixo, eu falo demais. Eu tentei reduzir um pouco, o mais que podia, mas não deu.

Se eu ainda fosse incorporar "A Pedra do Reino" ia ficar algo incrível de grande. Depois também cheguei à conclusão de que não posso contar com muito tempo. Aí resolvi fazer o que seria o primeiro volume deste novo romance grande. Resolvei fazer de uma maneira que ficando nele eu acabo. Se depois eu tiver tempo, continuo e acabo "A Pedra do Reino".

Folha - O novo livro se desenrola todo antes de "A Pedra"?

Suassuna - Boa parte da história que ele narra é anterior. "A Pedra" é de 1935 a 1938. No novo eu contaria a vida do personagem que é o rapaz do cavalo branco, Sinésio, começando em 1930.

Folha - O sr. fez mudanças no texto nesta edição?

Suassuna - Fiz algumas modificações. Para dar um exemplo, eu tinha usado por causa de uma carta que existe aí uma expressão que a mim não agradava muito. Não gosto que a linguagem que eu uso pareça caricatura do popular. Mas nunca tinha encontrado um motivo para eu não usar esta palavra, como encontrei. Depois que publiquei "A Pedra" eu encontrei, ilustrado por meu grande amigo J. Borges, um folheto de Heleno Torres: "A Princesa Fátima e o Prinspe Hedemon". Eu havia usado "prinspo" por causa de uma carta. Aí modifiquei e botei "prinspe".

Folha - O sr. releu o livro inteiro para reeditá-lo?

Suassuna - Sim. Fazia muito tempo que não o relia.

Folha - Qual a sensação de voltar à Pedra do Reino?

Suassuna - Para lhe ser franco eu gostei do livro.

Folha - A capa da nova edição do livro tem uma coloração castanha. O sr. faz inúmeras referências a esta cor no livro e um dos primeiros textos que o sr. ensaiou escrever se chamaria "O Cantar do Potro Castanho". De onde vem esta obsessão?

Suassuna - Certa vez, no início da minha carreira, tentei escrever uma biografia de meu pai. Ela chamaria "Vida do Presidente Suassuna, Cavaleiro Sertanejo". Mas não consegui. O assunto era muito duro. Então comecei um poema também dedicado a ele, este que você menciona. Também não consegui. Aí resolvi encostar a idéia e comecei "A Pedra".

Inconscientemente, o livro foi um sucedâneo destes livros que não tinha conseguido escrever. O motivo de ser "castanho" é que a insígnia dos Suassuna é um cavalo castanho com as patas dianteiras levantadas e as traseiras pousadas no chão entre chamas de fogo. Associava isto muito ao meu pai.

Folha - Mas o castanho tem alguma simbologia?

Suassuna - É uma herança de Euclydes. Do ponto de vista sociológico eu hoje recuso isso. Ele diz em "Os Sertões" que teoricamente o brasileiro seria o pardo. Silvio Romero faz referência ao moreno. Quando fiz minha tese universitária de livre-docência, escrevi uma tese "A Onça Castanha e a Ilha Brasil".

A onça castanha seria o povo brasileiro. Mas depois, passando por uma crise como eu passei, eu vi que essa visão do castanho era uma visão inconscientemente racista. Racista em Euclydes, em Romero e até em mim. Eu achava que neste sonho do pardo, moreno ou castanho estava o desejo inconsciente de apagar a mancha negra da cultura brasileira. Então troquei a onça castanha pela malhada.

Folha - O sr. faz muitas referências a onças também. Ali mesmo tem uma tapeçaria de uma onça...

Suassuna - Esta é uma insígnia da morte. É inspirado em uma cena de um romance que se seguiu a esse, "O Rei Degolado", que publiquei, mas depois cheguei à conclusão de que havia um erro de visão ali e deixei o livro de lado. Em uma cena do livro, a moça Caetana, que é a morte, se transforma em uma onça alada na qual se fundem três gaviões e uma cobra. Na poesia acabei mantendo a idéia do cavalo castanho.

Folha - O sr. falava em símbolos do Brasil e em seus livros, em especial no "A Pedra", diz que procura retratar o que chama de Brasil real, expressão emprestada de Machado de Assis. Qual a avaliação que o sr. faz do Brasil real de hoje?

Suassuna - Infelizmente não tenho boas notícias para lhe dar. Tem de se sair pelo "galope do sonho e pelo riso à cavalo" se não a gente cai no desespero. A situação do povo do Brasil real está cada vez pior. Vou lhe dizer, e vão me achar reacionário, mas com todos os seus defeitos o regime patriarcal rural era menos duro para com o Brasil real do que o capitalismo urbano e burguês.

O Brasil oficial, Machado dizia que era caricato. Mas acho que teríamos de acrescentar burlesco e às vezes sangrento e brutal, como foi em Palmares, como foi na Pedra do Reino e em Canudos. Quando o povo do Brasil real levanta a cabeça o Brasil oficial vai lá e a corta. Às vezes até literalmente, como com Antonio Conselheiro e Zumbi.

O que mais admiro no povo brasileiro é que com tudo isso ele continua com alegria e energia.

Folha - Continua uma onça?

Suassuna - Continua firme. E ainda tem intelectual por aí que fala mal do povo brasileiro, que é um povo de irresponsáveis. Para mim é de uma grandeza.

Folha - O sr. elogiou o governo Lula quando ele completou seu primeiro ano. Como o sr. enxerga o Brasil oficial de Lula hoje?

Suassuna - Veja bem, a primeira coisa que admiro em Lula é que um homem saído do povo do Brasil real atingiu a posição de presidente do Brasil oficial. Agora tem muita gente por aí, uns impacientes, que querem cobrar de Lula ele não ter resolvido a injustiça brasileira que, para mim, é secular. Você já leu a "Carta" de Pero Vaz de Caminha?

Pois veja que Cabral não foi lá, não. Mandou marinheiros pobres e portugueses. Quando viram que os índios eram pacíficos, trouxeram dois rapazes para conhecê-lo. Ele recebeu os índios em uma cadeira de espaldar alto, com um rico colar de ouro ao pescoço. Diz Caminha, mentindo, que um deles apontou para o colar de Cabral e depois para a terra. Mentira porque os índios não sabiam da importância do ouro para o português.

Ele estava fazendo a pior coisa que um escritor pode fazer, que é querer agradar o poder. Ele conta lá também, em dado momento, que ao sentir sono os índios se deitaram no tapete e dormiram, na maior prova de confiança. Eu não durmo na frente de estranhos. Posso deixar um olho dormir, mas o outro fica aberto. E era um povo muito estranho os portugueses na visão do índio. Neste momento, Cabral está encarnando o futuro Brasil oficial. E o povo do Brasil real é descendente de índios, negros e portugueses pobres. A injustiça é secular. Lula não vai resolver isso em quatro anos.

Existe uma impaciência generosa, mas por outro lado precisamos nos convencer que o tempo histórico não coincide, infelizmente, com o da nossa biografia. Precisa ir aos poucos.

Outra coisa: se Lula for enfrentar, ele termina dando um tiro no peito, como Getúlio deu. Getúlio era do Brasil oficial e deu um tiro no peito, você imagine Lula. Lula tem de se portar como um misto de Quixote e Sancho, e ele tem até um tipo físico de Sancho.

Folha - O Sancho do início ou do final do "Dom Quixote", por que ele começa o romance representando a razão, mas vai ficando louco?

Suassuna - Sancho é contaminado pelo sonho de Quixote. Lula também. Se ele não fosse contaminado pelo sonho de Quixote não teria feito o que já fez. Quem toca o homem é o sonho, não o bom senso.

Folha - Mas então por que o sr. diz que o Brasil real está piorando?

Suassuna - Ah, isto é outra coisa. O que digo é que ele quer fazer, mas o que ele está conseguindo é pouco e o que ele vai conseguir é pouco. Por isso digo que não podemos ser impacientes. Fora daí, você só tem uma revolução.

Vendo no que deram a Revolução Francesa e a Soviética eu lhe pergunto: vale a pena?

Só Stálin matou 10 milhões de pessoas para implementar uma nova política econômica. Voltou tudo a uma estaca zero agora. Vale a pena a gente submeter o povo brasileiro a uma aventura dessas? Estou com Lula e não abro.

Folha - Mas o sr. dizia que o sistema patriarcal rural poderia ser menos duro para o Brasil real. O próprio livro do sr., centrado no velho regime, não testemunha contra isso, ao mostrar tempos extremamente duros também?

Suassuna - Não acho que era melhor, mas com todas as injustiças que existia o povo era tratado com mais humanidade. Não é que fosse justo.

Não era virtude dos patriarcas não. É que o regime patriarcal brasileiro era mais pobre. Era muito menor a diferença de um fazendeiro para um trabalhador do campo do que a que havia entre um nobre francês e um homem do povo. Mas todas as esperanças de injustiça que existiam no século 18 foram incarnadas na Revolução Francesa. Ela, com toda a razão, investiu contra a aristocracia rural, que era um regime injusto, estúpido.

Aí impuseram o terror, guilhotinaram milhares de pessoas, inclusive do povo, para depois cair no capitalismo brutal do século 19. Não sei qual era pior, não. Não sei se o operariado urbano sofreu mais do que o campesinato.

Folha - João Cabral, em outro poema dedicado a você, fala que "A Pedra do Reino" ensina que "o deserto funda"...

Suassuna - Fantástico espaço suassuna. Que ensina que o deserto funda...

Folha - Pois é. O que é que esse deserto funda?

Suassuna - Tem a ver com aquilo que eu dizia do "riso à cavalo" e do "galope do sonho". Acho que era uma referência a isso que João Cabral fazia. Que com riso e sonho eu fundo uma esperança. Mesmo no deserto, na secura, consigo algo de positivo, de sonho.

Folha - O livro tem um aspecto muito plástico. Já chegou ao sr. algum projeto de filmá-lo?

Suassuna - Tenho um amigo que sonha em fazê-lo, mas é difícil. O cinema é uma arte cara danada.

Folha - Em uma entrevista em 1999 o sr. me disse que havia parado de escrever nos anos 80 para se afastar da "monstruosa vaidade literária" e criticou duramente o chamado ambiente literário. Este ano o sr. vai participar da badalada Festa Literária de Paraty, da Bienal do Rio e de eventos como a Bienal de Belém. O sr. se livrou de vez do problema da vaidade literária?

Suassuna - Acho que já dá para segurar. Praticamente nestes momentos não convivo com a corte literária. Para meu orgulho e alegria eu convivo mais com a juventude. Nesses lugares todos que vou é uma esmagadora maioria de jovens que vai. Não é propriamente uma volta à chamada vida literária. Era ela que abandonava. A literatura eu nunca abandonei.
 

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