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13/10/2000 - 10h28

Crítica: Cineasta Wong Kar-wai volta a emocionar

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CAROLINA MATOS
da Reuters
em São Paulo

Há histórias de amores modernos mal resolvidos - tipo Romeu e Julieta - e de mulheres adúlteras - Anna Karenina ou Madame Bovary - que causam comoção no público e povoam o imaginário de várias feministas.

Pois "In The Mood of Love" (Amor à Flor da Pele), de Wong Kar-wai, obra-prima da 24ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, não é da mesma linha, mas também disseca belos elementos da história de um amor impossível ao abordar os desencontros de um casal à luz da repressão feminina e das convenções sociais. Neste caso, o cenário é Hong Kong e o ano, 1962.

Wong Kar-wai, que se tornou o queridinho das casas de filmes de arte e da crítica especializada, principalmente depois de obras como "Happy Together" (Felizes Juntos), uma odisséia homossexual romântica e pessimista envolta em uma bela fotografia, consegue repetir a façanha de filmar belos contos de fadas modernos e realistas.

Em "Amor à Flor da Pele", Wong Kar-wai faz tudo isso sem precisar apelar para os "efeitos especiais" contemporâneos dos filmes que tratam de amor e relacionamentos, como as picantes cenas de beijo, sexo ou de nudez feminina.

Não se trata de milagre. Com uma câmera que carrega na poesia através do uso de técnicas como o "slow-motion" e a música clássica como pano de fundo, Wong Kar-wai prefere sugerir do que mostrar, optando por criar uma atmosfera de expectativa, repressão e solidão.

São esses recursos que tornam o filme tão interessante. Nunca sabemos ao certo se o jornalista Chow, vizinho da bela jovem Li-chun em um apartamento em Hong Kong nos anos 60, se envolve sexualmente com ela, que, assim como Chow, também é casada.

Ambos acabam se aproximando e tornando-se grandes amigos, na suspeita de que os respectivos cônjuges estão tendo um caso. O clima cinematográfico que Wong Kar-wai cria sugere apenas uma grande paixão existente que é reprimida principalmente por Li-chun, que apesar de saber das peripécias do marido, é rápida em aceitar o conselho da vizinha idosa de "ficar mais em casa".

Outro grande mérito do filme é que nunca chegamos a ver a mulher de Chow ou o marido de Li-chun, embora os diálogos dos personagens centrais sejam marcados de referências aos seus respectivos cônjuges do início ao fim.

Chegamos quase a imaginar como seria este outro casal, e não há como não traçar um paralelo entre os dois e perceber a diferença entre um amor profundo e sufocado e um relacionamento ocasional, possivelmente passageiro, mas certamente mais libertário.

Isso parece ser a tônica do discurso de amor professado por Wong Kar-wai, seja através dos diálogos entre Chow e Li-chun, ou nas belas cenas que ressaltam a graciosidade de Li-chun e a sua tristeza quando esta vai comprar macarrão e é observada por Chow.

De fato, é possível reconhecer os traços cinematográficos de Wong Kar-wai justamente nesta cena. Em "Felizes Juntos", o cineasta criou uma poética imagem de solidão do personagem principal na cena em que, de dentro de um carro, ele observa seu amado, cada vez mais distante.

Pode-se estranhar que um diretor que se destacou primeiramente fazendo comédia tenha se dado tão bem em retratar desencontros amorosos modernos sem cair na tentação fácil da apelação.

Mas é sem dúvida na criação desta nova linguagem que a obra de Wong Kar-wai se torna tão obrigatória para o cinema contemporâneo, com "Amor à Flor da Pele" entrando, necessariamente, na fila dos belos contos românticos cinematográficos de todos os tempos.

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