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13/10/2000 - 11h05

Músicos do Art Ensemble trazem verdadeiro "free jazz"

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CARLOS CALADO
da Folha de S.Paulo

Quando os músicos do Art Ensemble of Chicago entrarem no palco Club do Free Jazz (dia 21 no Rio e 22 em SP, ambos esgotados), com seus rostos pintados e roupas de origem africana, o público brasileiro vai recuperar um atraso de três décadas. É a chance de ver e ouvir pela primeira vez um dos grupos experimentais mais cultuados do gênero.

Não é à toa que o baterista Famoudou Don Moye deixa escapar um certo desapontamento ao saber que o nome do festival tem a ver com uma marca de cigarros, e não com o estilo vanguardista que revolucionou a cena do jazz nos anos 60. Desde então o termo "free jazz" é usado pela crítica para se referir às colagens sonoras e improvisações livres desse grupo articulado em 1967.

"Quanto mais amadurecemos, maior é nosso respeito pela música, maior é o esforço para manter nosso padrão artístico", afirma o baterista, observando que a experiência de mais de 30 anos não resultou, necessariamente, em melhores condições para desenvolver seus projetos.

Um dos principais problemas que o grupo sempre enfrentou, segundo Moye, é a relação com as gravadoras. "Algumas não divulgavam os discos, outras não queriam pagar nossos direitos. Por isso, o jeito foi criar nosso próprio selo. Temos muitos projetos especiais para lançar, como um disco com big band ou um projeto de blues, mas isso depende de dinheiro e tempo", diz.

Com a morte do trompetista Lester Bowie (em novembro de 99) e o afastamento do saxofonista Joseph Jarman, que decidiu se dedicar ao budismo, o grupo foi reduzido a um trio. Além de Moye restaram Roscoe Mitchell (sopros) e Malachi Favors (percussão). "O jeito é continuar trabalhando duro para manter nossa música seguindo em frente", diz o percussionista, lamentando a falta dos velhos parceiros.

O fato de o grupo continuar atraindo mais fãs na Europa e no Japão do que em seu próprio país, segundo Moye, não se deve ao aparente conservadorismo dos norte-americanos.

"O que acontece é que, além da falta de informação, o público norte-americano não tem acesso à música. Quantas vezes eles ligam a TV e podem ouvir jazz? Acho que o problema não está na audiência, mas no mundo dos negócios, que não se incomoda mais com a cultura", diz.

É essa preocupação com a tradição cultural que leva o Art Ensemble of Chicago a se apresentar usando máscaras e roupas africanas. "Isso tem a ver com as raízes de nossos antepassados, que são africanos. A cultura americana perdeu o contato com esses rituais e representações ancestrais, que têm um significado mais profundo", reclama Moye.

Esse culto às origens africanas não tem nada a ver com folclorismo retrógrado. Na concepção do grupo, tradição e inovação estão sempre dialogando.

Atitude que o levou a cunhar uma espécie de slogan para definir sua música: "Great Black Music - Ancient to the Future" (Grande Música Negra - Antiga para o Futuro).

"Jazz é um termo muito limitado para expressar o que tocamos. Grande Música Negra pode incluir Milton Nascimento, James Brown, Duke Ellington, Bob Marley, Otis Redding ou o Art Ensemble of Chicago. Nossa música é mais universal", afirma o baterista norte-americano.

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