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20/02/2009 - 09h28

Manifesto Futurista originou um dos mais revolucionários movimentos artísticos do século 20; leia trecho

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da Folha Online

Em 20 de fevereiro de 1909, há exatos 100 anos, o escritor Filippo Tommaso Marinetti (1876-1944) publicava no jornal francês Le Figaro o Manifesto Futurista. Com uma retórica agressiva e provocativa, Marinetti defendia no texto a destruição da arte do passado e a celebração das novas tecnologias, do movimento, do dinamismo. Este manifesto foi responsável pelo surgimento de um dos mais revolucionários movimentos artísticos do século 20: o futurismo.

"O futurismo defendia uma arte que captasse o impacto das novas tecnologias no cotidiano. A velocidade do automóvel, o movimento da máquina, o ruído das engrenagens - tudo isso constituía a matéria que a poesia e a pintura deveriam celebrar, de maneira inovadora, original", afirma Oscar Pilagallo, no livro "A História do Brasil no Século 20: 1920-1940", editado pela Publifolha.

No trecho extraído do título e reproduzido abaixo, o autor revela, ainda, que o futurismo chegou ao Brasil graças ao escritor brasileiro Oswald de Andrade (1890-1954), um dos idealizadores da Semana de Arte Moderna de 22. Durante uma curta temporada na Europa, o cronista conviveu com intelectuais e artistas e, por intermédio deles, conheceu o Manifesto Futurista.

Segundo Pilagallo, quando retornou ao Brasil, em 1912, Oswald trouxe consigo as ideias futuristas de Marinetti, porém, "nos anos que se seguiram ao seu retorno, nada se alterou no cenário cultural brasileiro, ainda dominado por Olavo Bilac (1865-1918), a maior expressão nacional do parnasianismo".

Leia abaixo o trecho extraído do livro sobre o futurismo e sua influência na arte brasileira.

Atenção: o texto reproduzido abaixo mantém a ortografia original do livro e não está atualizado de acordo com as regras do Novo Acordo Ortográfico. Conheça o livro "Escrevendo pela Nova Ortografia".

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1. O MODERNISMO

Em 1920, uma crônica, assinada com a inicial O, lamentava o estado de indigência das artes no Brasil. "A avalanche de obrinhas nacionais e estrangeiras que entopem o mercado é avassaladora", escreveu o autor num jornal de São Paulo. Ele perguntava, indignado, se era essa a produção intelectual que se apresentaria por ocasião da grande festa do centenário da Independência, dali a dois anos, cujos preparativos já começavam. O articulista defendia que a efeméride não fosse comemorada no sentido restrito. "Independência não é somente independência política, é acima de tudo independência mental e independência moral", argumentava. E concluía com uma informação que, aos espíritos conservadores, soava como advertência: "Um pugilo pequeno, mas forte, prepara-se para fazer valer o nosso Centenário".

Divulgação
"A História do Brasil no Século 20: 1920-1940", da Publifolha
"A História do Brasil no Século 20: 1920-1940", da Publifolha

A inicial pertencia a ninguém menos do que Oswald de Andrade (1890-1954), o futuro animador da Semana de Arte Moderna. Seu artigo4 indicava a existência de um núcleo modernista articulado, ainda que com pouca visibilidade, e o planejamento, com dois anos de antecedência, dos eventos de 1922. O escândalo que sacudiria o marasmo cultural, pois, não aconteceu por acaso, nem de improviso.

A idéia de uma revolução estética fermentava desde o início da década anterior. Um dos primeiros sinais de inquietação foi detectado com o lançamento, em 1911, de O Pirralho, uma publicação típica da fase de transição para o modernismo. Fundado e dirigido pelo próprio Oswald, então um jovem de 21 anos ainda dependente da família abastada, o semanário tinha, entre seus colaboradores, o pintor Di Cavalcanti, outra figura-chave da Semana de 22, e o poeta satírico Juó Bananére, um precursor dos modernistas.

Oswald logo passou adiante a revista, que, aliás, era financiada pelo pai. Como queria conhecer coisas novas, precisava sair do Brasil. No início de 1912, faria a primeira viagem à Europa. A melancolia natural da partida foi acentuada pelo luto nacional devido à morte do barão do Rio Branco. Antes de zarpar, "canhões tonitruavam lugubremente" no Rio de Janeiro, em homenagem ao chanceler, anotou Oswald em suas memórias5. Mas não havia motivo para muitas lágrimas. Afinal, a bordo do transatlântico, ele estava a caminho da liberdade.

Na Europa, Oswald conviveu com intelectuais, artistas e boêmios e, por intermédio deles, entrou em contato com o Manifesto Futurista, do escritor ítalo-francês Filippo Marinetti. O texto aparecera três anos antes, em 1909, no jornal parisiense Le Figaro, e ainda exercia enorme influência sobre a vanguarda européia. O futurismo defendia uma arte que captasse o impacto das novas tecnologias no cotidiano. A velocidade do automóvel, o movimento da máquina, o ruído das engrenagens - tudo isso constituía a matéria que a poesia e a pintura deveriam celebrar, de maneira inovadora, original. As imagens na tela deveriam não mais tentar imitar a natureza, mas distorcê-la. As palavras estavam livres das regras de versificação. A arte do passado, acadêmica, confinada em museus e bibliotecas, merecia ser destruída, afirmava o manifesto, com uma retórica agressiva que visava provocar controvérsia, chocando a sociedade para atrair a atenção pública.

Oswald de Andrade não ficou nem um pouco chocado com a radicalidade. Ao contrário, o movimento vinha ao encontro de sua concepção estética, ainda não elaborada, mas já apontando para a ruptura com os valores tradicionais. Ao regressar, naquele mesmo ano de 1912, trouxe na bagagem o futurismo, colocando o Brasil na rota da vanguarda.

Mário da Silva Brito, um importante historiador do modernismo no Brasil, comenta que a descoberta do verso livre veio a calhar a Oswald, um poeta incapaz de metrificar6. Ele admitia não saber contar sílabas, mas associava a limitação à rebeldia. "A métrica era uma coisa a que minha inteligência não se adaptava, uma subordinação a que me recusava terminantemente", afirmou7. O crítico literário Haroldo de Campos, por sua vez, aproximou Oswald de Maiakovski 8, para quem "é dever do poeta [] desenvolver em si mesmo o sentido do ritmo, e não decorar métricas alheias"9. A iniciação de Oswald de Andrade no mundo da vanguarda desaguaria, mais tarde, no movimento modernista. Nos anos que se seguiram ao seu retorno, porém, nada se alterou no cenário cultural brasileiro, ainda dominado por Olavo Bilac (1865-1918), a maior expressão nacional do parnasianismo.

4 O artigo foi publicado na edição paulistana do Jornal do Commercio em 16 de maio de 1920. Os trechos aqui citados estão reproduzidos no livro de Mário da Silva Brito História do Modernismo Brasileiro - Antecedentes da Semana de Arte Moderna (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1997, 6a ed.); p. 169-70.
5 Oswald de Andrade, Um Homem sem Profissão - sob as Ordens de Mamãe (Rio de Janeiro: Globo, 1990, 2a ed.); p. 72.
6 Brito, História do Modernismo; p. 25.
7 Depoimento de Oswald de Andrade a Brito, em História do Modernismo; p. 26.
8 Vladimir Maiakovski (1893-1930), por consenso, um dos maiores poetas russos modernos.
9 A afirmação de Maiakovski foi feita no estudo "Como Se Fazem Versos", citado por Haroldo de Campos na introdução a Pau-Brasil, livro de poesias de Oswald de Andrade (Rio de Janeiro: Globo, 1990, 5a ed.); p. 16.

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"Folha Explica A História do Brasil no Século 20: 1920-1940"
Autor: Oscar Pilagallo
Editora: Publifolha
Páginas: 104
Quanto: R$ 18,90
Onde comprar: Nas principais livrarias, pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Publifolha

 

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