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10/05/2005 - 09h30

Montagem da ópera "O Anel dos Nibelungos" atrai "loucos por Wagner"

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JOÃO BATISTA NATALI
Enviado especial a Manaus

Kauol Hans-Gerd, alemão aposentado e ex-proprietário de uma concessionária de automóveis, voou 26 horas para chegar a Manaus, onde é encenada a primeira produção brasileira das quatro óperas de "O Anel dos Nibelungos", de Richard Wagner (1813-83). Ele calcula já ter visto "umas 50" versões do ciclo completo.

Mas de importante mesmo, na platéia, havia a australiana Marie Bashir, ex-violinista, professora aposentada de medicina e "governadora" de seu país --é quem exerce o cargo honorário de sancionar as leis locais em nome da rainha Elizabeth 2ª. Ela viajou dois dias para chegar ao Amazonas. Está assistindo à sua sexta produção integral do "Ring", como o ciclo também é chamado.

São dois exemplos dessa comunidade simpaticamente chamada pela mídia americana de "loucos por Wagner", que estará até depois de amanhã acompanhando a produção de R$ 3 milhões, bancada pelo governo do Amazonas, dessa espécie de minissérie metafísica do repertório lírico.

Ela estreou no último sábado --no teatro inaugurado em 1896 pela oligarquia da borracha--, com "O Ouro do Reno", sob a regência do paulistano Luiz Fernando Malheiro e a direção cênica do inglês Aidan Lang. No domingo, aconteceu o segundo capítulo, "A Valquíria". Hoje será a vez de "Siegfried" e, na quinta, para encerrar, "O Crepúsculo dos Deuses", num total de 16 horas de ópera, que mobilizam 21 cantores, uma orquestra de 72 músicos e 200 técnicos na retaguarda. As quatro óperas serão reapresentadas na semana que vem.

A primeira e única exibição integral do "Ring" no Brasil ocorreu no Rio de Janeiro, em 1922. Mas foi uma produção alemã. O ciclo estreou em Bayreuth, na Baviera, em 1876. D. Pedro 2º, um wagneriano entusiasta, estava na platéia.

Wagner, também libretista, retoma com mitologia teutônica a história do deus Wotan, do herói Siegfried, da valquíria Brünnhilde e do gigante Fafner, que se transforma em dragão para guardar o ouro roubado das profundezas do Reno.

Não se sabe ao certo quantos "loucos por Wagner" estão agora em Manaus. Segundo a bilheteria do teatro, são no mínimo 38 americanos, 32 holandeses, 30 ingleses, 17 australianos, 15 alemães, cinco argentinos, três austríacos e até dois sul-africanos. Eles são minoria no teatro de 900 lugares.

E integram um singular clube mundial. Saem de férias para assistir a Wagner, viajam para assistir a Wagner. Em geral só visitam países em que Wagner está sendo encenado.

No mês passado, "loucos" de 27 países acorreram a Chicago para uma produção integral do "Ring". Pouco antes, duas produções ocorriam em Londres. Não se sabe quantos estrangeiros chegaram a atrair. Há anualmente o "Ring" integral de Bayreuth, entre julho e agosto, no teatro construído pelo próprio Wagner. Há também um "Ring" anual em Erl, na Áustria, regido pelo maestro Gustav Kuhn.

O austríaco Gustav Ortner, 70, é diplomata aposentado. Foi embaixador de seu país no Vaticano e nas Nações Unidas. Também está em Manaus. Acredita já ter assistido a 15 produções integrais. Entre 1953 e 1972 não faltou a nenhum Festival de Bayreuth.

A também austríaca Andrea Kuhn está assistindo no Brasil à sua 11ª produção. Andreas Singer, alemão de Colônia e engenheiro do setor farmacêutico, não se lembra de quantos ciclos já viu. Thomas Kunze, brasileiro radicado em Munique, freqüenta há 15 anos Bayreuth. E a australiana Jan Bauen, autora de livros didáticos, está em Manaus para seu sexto "O Anel dos Nibelungos".

O jornalista João Batista Natali viajou a Manaus a convite da Secretaria da Cultura do Amazonas

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