Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
01/07/2005 - 09h00

"Garota Ellus", Fernanda Torres planeja musical e novos roteiros

Publicidade

KARINA KLINGER
da Folha Online

Sabe aquela amiga ou amigo que a gente liga de vez em quando e passa horas ao telefone sem querer desligar? Assim é a atriz Fernanda Torres, 39, que é conhecida nacionalmente por sua carreira na TV, no cinema e no teatro. Aliás, quem está em São Paulo só tem até domingo para vê-la de pertinho na peça "A Casa dos Budas Ditosos", no Tom Brasil. Depois disso, ela segue com o espetáculo em turnê pelo país. Na peça, baseada no livro do escritor baiano João Ubaldo Ribeiro, a atriz está sozinha no palco interpretando uma mulher libertina que resolve contar suas experiências sexuais.

Flávio Florido/Folha Imagem
"A Casa dos Budas Ditosos" encerra neste domingo
"A Casa dos Budas Ditosos" encerra neste domingo
Convidada para substituir Daniella Cicarelli na campanha de moda da Ellus, a atriz de "Casa de Areia", "Inocência", "Terra Estrangeira", "Os Normais", entre outros filmes, contou à Folha Online que quer continuar a escrever roteiros para o cinema --assinou o texto de "O Redentor"-- e pretende montar um musical. Ela brinca dizendo que não irá cantar para não atormentar os espectadores.

Depois de viajar por 15 anos pelo mundo, Fernanda, que é casada com o cineasta Andrucha Waddington e tem um filho, diz que inveja o profissional escritor, pois ele pode ficar em casa -- tudo que ela mais deseja no momento.

Leia abaixo a íntegra da entrevista com a atriz.

Folha Online - Antes de estrear "A Casa dos Budas Ditosos", você havia dito que era o tipo de peça que não se leva a mãe para assistir ao ensaio. Como está lidando hoje com o texto?
Fernanda Torres - Depois que eu fiz em Portugal, faço numa boa. Tinha tanto medo de fazer lá, porque a peça elogia muito o caráter sexual dos portugueses e eu fiquei com medo do povo se ofender. Mas eles aceitaram com tanta alegria que eu não tenho mais medo.

Folha Online - O que você tirou de aprendizado da personagem, que fala numa boa de suas experiência sexuais inusitadas?
Fernanda - Há personagens que fazem muito bem. Este é um personagem libertador. Eu saio da peça com muita coragem. Ela me deu uma grande vontade de viver.

Folha Online - Coragem para fazer o quê?
Fernanda - (Risos) Para arriscar novos mundos, novas civilizações, ir audaciosamente onde nenhum homem jamais esteve. A peça ajudou meu poder de imaginação. Ela trabalha especialmente nisso, em atiçar a imaginação, porque a Bahia é um lugar sexualmente elevado. E nós, simples mortais que não conseguimos chegar neste ponto, precisamos dos baianos para ajudar em nossa imaginação.

Divulgação
Atriz fez graça e sucesso como Vani em "Os Normais"
Atriz fez graça e sucesso como Vani em "Os Normais"

Folha Online - Você é bem-sucedida no teatro, no cinema e na TV. Como faz para escolher seus novos trabalhos?
Fernanda - Comecei estudando teatro moleca ainda. Com 16 anos, fiz "Inocência", daí o cinema virou o meu meio. Claro que o teatro esteve sempre na minha vida e na minha casa [a atriz é filha de Fernanda Montenegro e de Fernando Torres]. Logo veio a experiência da novela "Selva de Pedra", em seguida veio Cannes. Passei uns dez anos vivendo, conheci o mundo, filmei no México, em Portugal, no Xingu. Eu tinha uma vida de aventureira. Uma hora eu cansei e junto o cinema acabou. Quando voltei para o Brasil, optei pelo teatro para trabalhar com a Bia Lessa. Só depois, com "Os Normais", é que eu voltei a rodar teatro, cinema e TV. Eu adoro fazer os três, são complementares, um ajuda o outro a fazer o público não se encher de você. Fiz muitos papéis dramáticos no cinema, quando comecei a fazer humor foi ótimo. Hoje em dia todo mundo acha que eu sou comediante. Hoje eu mesma crio os meus projetos.

Folha Online - Mas isso acontece por que os convites são tantos que tornam a decisão mais difícil?
Fernanda - Quando eu era mais nova, esperava mais convites, hoje eu corro mais atrás. Sabe como é: com 40 anos a pessoa já tem de correr atrás. O que a idade te dá é a capacidade de criar o seu próprio emprego. Eu sinto que mudou, raramente eu fico em um projeto em que eu não estou desde o início.

Folha Online - Tem alguma habilidade artística que tem vontade de explorar?
Fernanda - Eu acho que escrever é uma coisa que eu gostaria de chegar a fazer. Deve ser libertador. Já consegui escrever cinema e adaptar ou cortar algumas coisas. E a música, eu gostaria, mas não vou fazer essa maldade com ninguém. Eu canto mal e toco mal piano, mas toco por prazer.

Folha Online - Pode ser que role um livro?
Fernanda - Um livro é muito sério. Penso mais em roteirizar as minhas coisas. Já escrevi o roteiro de "O Redentor". A minha literatura só chega hoje até auto-ajuda (risos). Tenho orgulho de "O Redentor", pois ele recupera uma veia delirante, lembra os filmes do Jabor.

Luciana Cavalcanti/FI
Sobre o convite da Ellus, ela diz: "Achei bacanérrimo"
Sobre o convite da Ellus, ela diz: "Achei bacanérrimo"
Folha Online - Você pegou as duas fases do cinema. Qual foi a pior?
Fernanda - Quando eu comecei era mais fácil, era o tempo da Embrafilme e o cinema era muito sexual, tinha o começo de afastamento de público, mas não tinha DVD. Era fácil um filme alcançar 2,5 milhões de espectadores. Com o Collor houve política de assassinato e assisti ao fim de uma área cultural no Brasil. Eu fui, então, para o México e para Portugal. O cineasta Arnaldo Jabor, por exemplo, foi virar escritor e âncora de TV. E depois o cinema voltou com FHC a se recuperar. Eu acho que estamos na fase continuada. O cinema é difícil, continua sendo caro, mesmo quando se faz barato, lançar nacionalmente é complicado. Falta tudo e não falta nada.

Folha Online - Fale sobre novos projetos de trabalho.
Fernanda - Eu saí de um túnel que começou com a peça "Duas Mulheres e um Cadáver" juntou com "Os Normais", "A Casa dos Budas Ditosos" e "Casa de Areia". Agora talvez eu tenha mais um festival de cinema. Estou começando a escrever e pensando em um projeto de TV e outro de teatro. É uma hora maravilhosa, quando você só tem a angústia de não poder fazer. Eu tenho medo de dizer sobre eles agora. Gostaria, porém, de fazer teatro com música, um show de rock teatral, mas não vou cantar.

Folha Online - Já sonhou com Hollywood no começo de carreira?
Fernanda - Quando ganhei em Cannes, a Sonia [Braga] tinha acabado de ir para lá. Não havia essa sensação de que eu deveria ir para fora. Eu lembro o Jabor falando que eu deveria aprender inglês e fazer as malas. Era algo angustiante para mim. Eu nunca fui deslumbrante ou tive 'sex appeal' brasileiro para me tornar uma estrela internacional. Também acho que não existe a carreira internacional no Brasil, ela é uma vida internacional. Tem que mudar para Los Angeles, fazer cursos, imigrar. Comigo foi ao contrário. Acabei fazendo teatro e hoje é a maior libertação da minha vida. Hoje no Brasil, com a situação que eu tenho, sou capaz de produzir meus trabalhos e fazer o que eu quero. Se fosse uma atriz internacional, eu estaria eternamente à procura de um convite. Acho que nem teria chance, porque não tenho uma beleza extraordinária para vencer. Eu tenho hoje até mais chance de fazer algo por lá com a carreira que fiz aqui.

Divulgação
Fernanda Torres estrela filme "O Primeiro Dia" em 1999
Fernanda Torres estrela filme "O Primeiro Dia" em 1999
Folha Online - Você tem vontade de sair do Brasil agora?
Fernada - Eu, vontade? Viajei 15 anos da minha vida. Eu não tive uma carreira internacional , mas uma vida com teatro e cinema fora. Passei quatro anos em Nova York. Passei 15 anos de mala, mas depois que eu tive filho, eu só desejo ficar em casa. A minha maior inveja é do escritor. Eu tenho vontade do oposto. Hoje a minha viagem é para dentro. Você até pode ir lá fazer um filme, mas nunca vai mexer na cultura. No Brasil, você pode mexer profundamente na cultura. Isso não tem preço.

Folha Online - Faltam bons roteiristas no Brasil?
Fernanda - Acho que isso melhorou muito no Brasil. Já fiz filmes que ficaram sete anos em busca de captação, mas neste tempo não se trabalhou no roteiro. Antes ensaiar em cinema estragava, acreditavam que se perdia frescor. Hoje no Brasil se aprendeu a fazer diferente. O Walter Salles, com "Terra Estrangeira", trouxe o teatro para o cinema, o que fez a situação melhorar.

Folha Online - E o convite da Ellus para a próxima campanha publicitária? Substituir Daniella Cicarelli será difícil?
Fernanda - É hilário, né?! (risos) Eu achei bacanérrimo. Fiquei lisonjeadíssima. São 39 anos, né! E nunca fui a cocota mais linda da praia de Ipanema. Eu fico olhando aquele mulheraço [Daniella], ela é impressionante. Penso, então, vou fazer uma coisa mais intelectual. Vou partir para o intelectual (risos).

Serviço
"A Casa dos Budas Ditosos"
Dias 1º, 2 e 3 de julho, sexta e sábado às 22h e domingo às 20h
Local: Tom Brasil Nações Unidas (rua Bragança Paulista, 1281)

Leia mais
  • Entrevista: Celebridades não têm profissão nem biografia, diz Nélida Piñon
  • Entrevista: Lygia Fagundes Telles prepara 2 novos livros

    Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre Fernanda Torres
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página