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10/08/2005
-
10h08
LAURA MATTOS
da Folha de S.Paulo
"Estrada do Pecado", novela encontrada durante o garimpo do acervo de Janete Clair, poderá mudar o rumo dos estudos da teledramaturgia brasileira. A opinião é de Márcio Tavolari, coordenador do projeto de recuperação da memória da autora.
Para entender essa história e a de Janete Clair, um "flashback". Nos primórdios da TV, o Brasil utilizava o formato cubano de telenovelas, consagrado pela autora Glória Magadan. Eram épicos, como "O Sheik de Agadir" (Globo, 1966/67), com um romance passado na Arábia e cenas em areia "do deserto" gravadas em estúdio. Veio "Beto Rockfeller", de Bráulio Pedroso, com Luiz Gustavo no papel principal. Com temática contemporânea e linguagem coloquial, a novela fez a Tupi bater recordes de audiência. Como reação, a Globo convocou Janete Clair a acabar com a "era Magadan" e modernizar a telenovela.
Voltemos a "Estrada do Pecado", a novela encontrada no garimpo do acervo da escritora: pela localização do texto no "baú", formato e conteúdo da história, Tavolari calcula que seus 80 capítulos tenham sido escritos entre 1967 e 1968. Seria, então, anterior a "Beto Rockfeller". ""Estrada" já utilizava temática moderna. Também inovava por explorar tramas paralelas, enquanto "Beto Rockfeller" era concentrada na história do protagonista. Outra característica revolucionária para a época era a previsão de cenas gravadas fora dos estúdios, as externas."
Tavolari diz que conversou com vários diretores e autores de TV, mas ninguém conhece "Estrada do Pecado". "Ela deve ter tido o aval de alguma emissora para escrever essa história, porque ela está completa, com 80 capítulos. Normalmente, ela fazia apenas a sinopse ou, no máximo, os dez primeiros capítulos e submetia à direção da emissora. Se não houvesse aprovação, não seguia adiante com o roteiro. Não conseguimos descobrir por que a novela não chegou a ser produzida."
A escritora e pesquisadora da USP Renata Pallotini (autora de "O que É Dramaturgia") ficou animada com a descoberta de "Estrada do Pecado", relatada a ela pela Folha: "Que ótima notícia. Eu não tinha ouvido falar dessa história".
Pallotini afirma que Janete Clair é, "sem dúvida", uma das principais autoras da televisão brasileira. Afirma que seu nome teve extrema importância na "nacionalização" da teledramaturgia.
"Janete Clair colaborou com a evolução da telenovela quando começou a escrever utilizando a realidade brasileira. A mudança ocorreu quando ela deixou de seguir Gloria Magadan e passou a ser influenciada pelo marido, Dias Gomes", explica Pallotini.
Drama e realidade
A autora, segundo Márcio Tavolari, teve como característica unir os romances melodramáticos aos temas do dia-a-dia do país e à crítica social. "Ela gostava dos amores dramáticos e impossíveis, mas era também ávida por se inspirar em histórias publicadas nos jornais", diz Tavolari.
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da Folha de S.Paulo
"Estrada do Pecado", novela encontrada durante o garimpo do acervo de Janete Clair, poderá mudar o rumo dos estudos da teledramaturgia brasileira. A opinião é de Márcio Tavolari, coordenador do projeto de recuperação da memória da autora.
Para entender essa história e a de Janete Clair, um "flashback". Nos primórdios da TV, o Brasil utilizava o formato cubano de telenovelas, consagrado pela autora Glória Magadan. Eram épicos, como "O Sheik de Agadir" (Globo, 1966/67), com um romance passado na Arábia e cenas em areia "do deserto" gravadas em estúdio. Veio "Beto Rockfeller", de Bráulio Pedroso, com Luiz Gustavo no papel principal. Com temática contemporânea e linguagem coloquial, a novela fez a Tupi bater recordes de audiência. Como reação, a Globo convocou Janete Clair a acabar com a "era Magadan" e modernizar a telenovela.
Voltemos a "Estrada do Pecado", a novela encontrada no garimpo do acervo da escritora: pela localização do texto no "baú", formato e conteúdo da história, Tavolari calcula que seus 80 capítulos tenham sido escritos entre 1967 e 1968. Seria, então, anterior a "Beto Rockfeller". ""Estrada" já utilizava temática moderna. Também inovava por explorar tramas paralelas, enquanto "Beto Rockfeller" era concentrada na história do protagonista. Outra característica revolucionária para a época era a previsão de cenas gravadas fora dos estúdios, as externas."
Tavolari diz que conversou com vários diretores e autores de TV, mas ninguém conhece "Estrada do Pecado". "Ela deve ter tido o aval de alguma emissora para escrever essa história, porque ela está completa, com 80 capítulos. Normalmente, ela fazia apenas a sinopse ou, no máximo, os dez primeiros capítulos e submetia à direção da emissora. Se não houvesse aprovação, não seguia adiante com o roteiro. Não conseguimos descobrir por que a novela não chegou a ser produzida."
A escritora e pesquisadora da USP Renata Pallotini (autora de "O que É Dramaturgia") ficou animada com a descoberta de "Estrada do Pecado", relatada a ela pela Folha: "Que ótima notícia. Eu não tinha ouvido falar dessa história".
Pallotini afirma que Janete Clair é, "sem dúvida", uma das principais autoras da televisão brasileira. Afirma que seu nome teve extrema importância na "nacionalização" da teledramaturgia.
"Janete Clair colaborou com a evolução da telenovela quando começou a escrever utilizando a realidade brasileira. A mudança ocorreu quando ela deixou de seguir Gloria Magadan e passou a ser influenciada pelo marido, Dias Gomes", explica Pallotini.
Drama e realidade
A autora, segundo Márcio Tavolari, teve como característica unir os romances melodramáticos aos temas do dia-a-dia do país e à crítica social. "Ela gostava dos amores dramáticos e impossíveis, mas era também ávida por se inspirar em histórias publicadas nos jornais", diz Tavolari.
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