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18/08/2005 - 10h08

Autor de "O Mundo de Sofia" lança livro no Brasil

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JULIÁN FUKS
da Folha de S.Paulo

Se há pais que vaidosamente se orgulham de que os filhos os tenham superado, de que tenham voado mais altos vôos e viajado mais longas viagens, Jostein Gaarder poderia ser um deles. Em seu caso, porém, a superação mencionada não vem da família biológica. É a pequena Sofia Amundsen, personagem de "O Mundo de Sofia", traduzido para 55 línguas, quem tem rodado o mundo, conhecido as mais diversas mãos e deslumbrado os mais diversos olhos.

Gaarder, entretanto, não é apenas seu pai. Sofia ganhou o mundo e enviou-lhe fortunas, e o norueguês pôde permanecer em casa, fazendo aquilo que mais lhe agrada: criando histórias e personagens. Só não novas Sofias. Gaarder já quase não se dedica às leituras filosóficas que fizeram sua fama. Até chega a desdenhá-las, como em alguns trechos desta entrevista à Folha.

O escritor chega hoje ao Brasil, onde lança seu novo livro juvenil, "A Garota das Laranjas" (Cia. das Letras, R$ 27, 136 págs.), e participa da Jornada Literária de Passo Fundo (RS), na semana que vem.

Folha - Em "O Mundo de Sofia" você ensina filosofia. Agora, em "A Garota das Laranjas", busca ensinar algo sobre o Universo?

Jostein Gaarder - Realmente falo bastante do Universo no livro, mas não tinha a ambição de ser um professor quando o escrevi. Queria escrever uma história de amor. O que acontece é que o personagem não tem qualquer filtro cultural entre si mesmo e o mundo, preferindo relacionar-se diretamente com o Universo. Vive, assim, uma existência mais nua do que em "O Mundo de Sofia".

Folha - A literatura é uma boa forma de transmitir conhecimento, como ciência ou filosofia?

Gaarder - É a segunda melhor maneira. A melhor é a conversa, o diálogo com os jovens ou entre professor e aluno. Sempre, desde a antiga filosofia grega, o diálogo entre as pessoas vivas foi a melhor maneira de lidar com a filosofia.

Folha - Filosofia e ciência devem se popularizar?

Gaarder - Com certeza, especialmente a ciência. Muito pouco da ciência moderna está popularizado. Não leio mais tanta filosofia nem tantos romances, leio biologia, astrofísica. As grandes questões filosóficas, como a natureza do Universo ou a existência de Deus, hoje são discutidas pelos cientistas, não mais pelos filósofos. Filósofos agora discutem linguagem, arte, coisas assim.

Folha - Como concilia essa atenção à ciência com a religiosidade e o misticismo que há em seus livros?

Gaarder - Pertenço à Igreja Católica e, embora não creia nela como revelação da verdade divina, encontro nela a mais importante filosofia moral. Tenho uma aproximação religiosa da vida porque sinto que minha vida e a existência do Universo são um truque mágico. Acredito na natureza do Universo por si só, e o experimento como uma revelação. O que é místico são essas existências.

Folha - Você sempre usa uma linguagem acessível a jovens. Que idade prefere para seus leitores?

Gaarder - Varia de livro para livro. Mas acredito que uma boa história para crianças pequenas será também uma boa história para adultos, embora o contrário não seja sempre verdadeiro.

Folha - O mais importante na literatura é a história?

Gaarder - Sim, não precisamos dos livros, mas das histórias. Diversas sociedades no mundo nunca tiveram livros, mas nenhuma prescindiu das histórias. Na sociedade moderna, perdemos o hábito de contá-las e começamos a esquecê-las. Por isso, tivemos que escrevê-las. Cem anos atrás, por exemplo, não havia qualquer livro infantil na Noruega. Mas havia muitas histórias, mais do que podemos encontrar hoje.

Folha - Você escreve o mais profunda e eloqüentemente que pode ou prefere a simplicidade?

Gaarder - Tento ser simples. O pensamento claro é simples e pode ser explicado facilmente. E procuro a beleza também. Como seres humanos, temos um senso estético e somos especiais por podermos ver algo como bonito.

Folha - Como é escrever depois do sucesso de "O Mundo de Sofia"?

Gaarder - Quando o escrevi, estava convencido de que teria poucos leitores. Até disse para minha mulher que não esperasse qualquer renda extra. Estava completamente errado, pois foi um abridor de portas para mim. Porém, é um livro tão especial, tão diferente, que não me atrapalha quando escrevo novas histórias. Com ele, só tinha apenas planos pedagógicos e a única ambição de ser um professor. Com outros livros, o que quero é contar histórias.

Folha - O que você espera da Jornada de Passo Fundo?

Gaarder - O que me surpreendeu foi que eu nunca tinha ouvido falar da cidade e até penei para encontrá-la no mapa. É fascinante que uma cidade tão pequena esteja organizando esse evento.

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